A minha rua era uma estrada, e nacional.
Delimitada por uma curva e uma ponte,
obrigava-nos a olhar à esquerda e à direita, antes de nos lançarmos à conquista
daquele espaço inferior a um quilómetro.
Tinha um marco azul e branco, onde se lia que a
estrada era a 345, com destino fixo em Nelas, vindo da Mealhada.
Nunca nos ocorreu outro sentido que não este,
em flagrante contradição com as regras da leitura.
Outros marcos mais pequenos marcavam-lhe as
centenas, com o número bem gravado na superfície branca, ligeiramente biselada
para facilitar a leitura dos condutores.
Era a minha rua, aquele pequeno troço da EN
345.
A partir da ponte, ou da curva que a limitava à
esquerda da minha abordagem, era o Infinito.
Quando tinha acesso a um mapa, procurava logo a
minha rua.
Nem todos se podiam orgulhar de ver a sua rua
no mapa, e entretinha-me a imaginar o trânsito e a minha presença no emaranhado
da rede viária, como uma impressão digital.
Um dia chegou a minha vez de a percorrer.
Ceder à tentação de me perder no labirinto
proposto pelo mapa.
Esgotei-o depressa demais, e dei por mim junto
à abstracção defendida com armas das fronteiras.
Contornei-a pelo lado mais humano, que era um
caminho anónimo, paralelo à linha-férrea.
E nunca mais parei.
Nem para me voltar para trás, e ver que a minha
estrada tinha desaparecido do mapa, e conquistava finalmente a dimensão de uma
rua.
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