sábado, 2 de fevereiro de 2013

O "ficando fixo" e a ilusão de ótica

Reclamar de marido, tudo bem, pensa que é fácil viver sob as telhas ou sob o forro de gesso da desacontecência apijamada?
 
Viver né conforto de veludo não.
 
Viver é catabio, quebra-mola, sustenidos sustinhos.
 
A maior safadeza do universo, porém, é o tal do ficante. Pense numa imoralidade!
Nem fica nem sai de cima.
 
Num sabe sequer a diferença entre rima pobre e rima rica.
 
No tempo do ficar quase nada fica, nem a rima antiga, saca?
 
O ficante é uma praga.
 
Tem gente que usa a expressão, aspas, ficante fixo.
 
Getúlio Vargas, o homem da CLT, acharia isso vergonha pouca.
 
Contradição do cão: como assim ficante fixo, como assim frila fixo, como assim não assinar carteira
nem do amor e do sexo?
 
Como assim se não tenho quando preciso!
 
Que coisa mais sem regulamento. O cara faz a vida dele como quer e imagina, inclusive cá esposa, e você, gostosa, à mercê dum homi-elipse, tipo assim tem mas tá quase sempre faltando.
 
Oi!!!
 
Ficante errante, trem desgovernado, não sabe nunca o que tá perdendo, fica aí ruminando seu capinzim da leseira, té quando?
 
Tome tenência minino.
 
Ou fica ou sai de cima.
 
Ficante, sempre no suspense Hitchcock, a nega nunca sabe quando vem na casa dela, só quando o bicho está paudurescente e necessitado? Corra, Lola, corra. Como diz uma amiga, não tolero nem por um bolero vida noves fora zero.
 
Mande o menino gozar por ele mesmo, ele não se acha? Egotrip nele! Ou você, amiga, é desaguadora de testosterona errada?
 
Chega.
 
Ficante, ficância, o homem e suas circunstâncias, o homem e suas roubadas, ficar, o infeliz verbo, sintoma do nosso tempo, se o miserável quer apenas ficar, hoje e sempre, que tal ele ficar esperando lá fora, não importa se com ou sem fila, que espere na chuva, na goteira monumental do pinga-pinga sem alma.
 
 
Xico Sá
Folha de S. Paulo

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