quarta-feira, 27 de junho de 2012

A rainha má

Ravenna confiava somente no seu espelho. Dá para entender. Por um lado, espelhos não mentem. Por outro, sua fama de rainha má provavelmente afastava qualquer possibilidade de diálogo franco com interlocutores confiáveis.

Imagino que ela tenha formado uma corte incapaz de lhe contar a verdade. Seus conselheiros mais próximos provavelmente utilizavam meias verdades para construir mentiras inteiras. Apesar de tudo, ela tinha pelo menos algo ou alguém em quem podia confiar. Seu espelho, sempre prestativo, estava ali, a seu dispor, para responder a qualquer pergunta que sua rainha quisesse fazer.

Ela poderia ter perguntado ao espelho sobre as verdades do seu reino, sobre as necessidades dos seus comandados, ou sobre as consequências de suas ações. Ao invés, perguntava somente sobre sua beleza.

Obcecava com Branca de Neve como se esta fosse a razão pela qual as coisas não iam bem. Para Ravenna, matar Branca de Neve era sinônimo e garantia de beleza eterna e, claro, de poder.

Ravenna podia ser rainha, mas não era uma líder. Ela era apenas chefe. Era detentora do poder naquele reino que, como rainha, comandava pessoas e tinha autoridade para mandar e exigir obediência. Se quisesse ser líder, a Rainha Má deveria ser muito mais que isso.

Ela deveria ser capaz de conduzir seus comandados de maneira a transformá-los numa equipe. Deveria ter a habilidade de motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que estes contribuíssem voluntariamente e com entusiasmo para alcançarem os objetivos do reino.

Liderança pressupõe a capacidade de aliança com os liderados. Exige que o líder se cerque de interlocutores confiáveis capazes de lhe entregar verdades amargas e evitar a embriaguez das mentiras doces.

O verdadeiro líder não olha para si. Olha para seus comandados e, fazendo-o, compreende e atende suas necessidades. Procura saber onde estão os problemas com a finalidade de resolvê-los, e não de justificá-los.

O papel de líder não permite o luxo de atribuir todos os problemas a causas externas. Não permite a apropriação do crédito do que dá certo enquanto atribui culpa aos outros por aquilo que dá errado. Líderes perdem pouco tempo justificando. Eles investem seu tempo na busca de soluções.

O líder compreende sua responsabilidade. Assume responsabilidade sobre tudo que acontece sob sua guarda. Seja ou não sua culpa. A ausência de culpa não o exime do peso da liderança. A reponsabilidade sobre erros, acertos e circunstancias é o ônus da liderança.


Elton Simões


Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria

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