quinta-feira, 21 de junho de 2012

"Deixa-me que te mostre, leitor amigo, um homem que, se não estou enganado, escrevia as cartas mais nobres e delicadas à sua mulher, no tempo em que ela era ainda a sua noiva, como se prestasse fervoroso culto à feminilidade. Mais tarde, porém, quando a formosa noiva e terna amiga era já sua esposa, reservou à boa mulher um trato bem diferente. Remeteu-a para o cantinho modesto do lar, que era também, de acordo com as opiniões correntes e tradicionais de qualquer homem honrado, o lugar devido da mulher. Enquanto se colocava a si próprio, bem como à sua grandeza e excelência, em todos os pedestais interiores e exteriores mais altos que encontrasse, concedia ainda a graça de subordinar a sua companheira de vida ao esplêndido papel de humilde serviçal, julgando assim dar prova inquestionável de ser um verdadeiro alemão – erro este, aliás, tão comum como as pedras da calçada."


[Robert Walser, Histórias de Amor; trad. Isabel Castro Silva, Relógio d’Água, Abril 2008]

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