Nos sábados chuvosos e frios, gosto de ficar em casa durante o dia. Gosto da sensação do “dolce far niente” que vem da combinação do descanso com a ausência de compromissos.
A TV é a companheira inseparável da ociosidade moderna. Em um desses sábados, assisti uma reportagem sobre uma pessoa que achou um envelope cheio de dinheiro em um trem e o devolveu ao dono.
Talvez porque falte noticias nos fins de semana, matérias como estas ganhem destaque nestes dias. De uma maneira ou de outra, sempre achei interessante que estas narrativas sejam construídas a partir da premissa de que devolver o dinheiro não seria a regra, mas sim, a exceção.
Em outras palavras, a gente assume que, se ninguém estiver olhando, as pessoas, em sua maioria, agirão erradamente.
Parece existir pouca evidencia de que as pessoas, em regra, sejam desonestas. Todos os dias, a esmagadora maioria da população, na esmagadora maioria dos casos cumpre com seus deveres.
Faz-se o certo sem se considerar a possibilidade de recompensa, punição, ou mesmo maneiras de burlar a ética. Para o cidadão comum, fazer o certo é a regra. Em regra, as pessoas são éticas. Enfim, em regra, as pessoas fazem o certo.
Individualmente, agir eticamente parece ter a ver com a educação que cada um de nos recebe dos pais e das instituições que nos cercam. O sentimento de vergonha, aqui, pesa muito. Pessoas que foram educadas para sentir vergonha quando desviam da ética, terão mais dificuldades em dela desviar.
Coletivamente, parece existir uma relação entre a coesão social e a ética. Sociedades em que os cidadãos reconhecem que seus atos impactam aos outros e vice-versa, tendem a ter comportamentos mais éticos. É a noção de que cada cidadão é parte de um todo e, consequentemente, precisa fazer a sua parte.
Alternativamente, quanto mais individualistas os cidadãos são, menos compromisso com a ética eles tem. Esta é e principal conclusão de estudos recentes realizados pelas Universidades de Toronto e Berkeley (“Higher social class predicts increased unethical behavior”, publicados na revista PANS de Fevereiro, 2012).
O Comportamento ético vem do reconhecimento individual de que garantir relações fortes e duradouras melhora a vida de cada cidadão. Portanto, agir eticamente requer acreditar que o bom nome e a credibilidade tem valor. Como disse William Shakespeare: “aquele que rouba minha carteira rouba lixo. Aquele que rouba meu bom nome rouba o que não lhe faz mais rico, mas me torna mais pobre”.
Elton Simões
Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Email: esimoes@uvic.ca. Escreve aqui às segundas-feiras.
Fonte: Blog do Noblat
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