Maluf colocou a boca no mundo. Ou melhor, colocou a próstata no mundo. De repente, virou moda, jornais abriram espaço e foram surgindo famosos prostáticos (existe essa palavra?). Quércia voltou ao mundo político através da sua. Mas diz que é simples. Não vai operar nem nada. Na África do Sul, um Nobel, o bispo Desmond Tutu abriu o jogo: também está com câncer lá.
Os médicos avisam: todo homem, depois dos 50 anos, deve fazer o exame. A probabilidade do tumor é muito grande depois desta idade.
Mas os homens de mais de 50 anos (minha geração) são machistas demais. Não adianta dar um toque para eles. Pode-se fazer um exame de sangue e aquele exame que grávida faz. Como chama? Ficam passando um negocinho na barriga da gente. Esqueci. Mas os dois exames juntos dão garantia apenas de 80 por cento. Tem que se fazer o toque, sim.
Eu sugiro uma solução para o assunto deste começo de ano: médicas urologistas. Todos os homens iriam fazer o toque. Com mulher, tudo bem. Tem gente que iria fazer semanalmente. Gente que ia entrar duas vezes na fila, etc.
Há uns 15 anos, tive que fazer (um toque, lá). Estava com uma pequena inflamação e o médico (meu amigo de infância, Plínio) disse que teria que fazer a massagem na minha próstata para recolher um tal pus.
Estou lá eu, nu, de quatro, em cima da mesa e ele, com a maior naturalidade, colocando uma luva num grosso dedo (ele sempre foi meio gordinho). Eu ali aflito e ele contando (juro) a lua-de-mel (dele) na Bahia, meses atrás. Achei que não era um tema muito adequado para aquela hora, mas próstata é próstata e vamos lá. Passou uma vaselina e se aproximou.
Mas, antes, colocou uma folha de papel debaixo do meu corpo.
— O que é isso?
— Caso você ejacule...
Me sentei. Preocupado.
— Plínio, se você enfiar o dedo aí e eu gozar, como é que eu fico? Qual é a porcentagem dos que gozam?
— Meio a meio. Vamos, de quatro.
— Pega leve, hein?
Se eu tivesse gozado, não estaria agora contando esse caso.
Tive um segundo caso com a minha próstata. Já disse aqui que passei uns dias no Spa Médico São Pedro, em Sorocaba.
Assim que você chega, eles fazem todos os exames possíveis em você.
No ultra-som (lembrei !!!) deu uma pequena inchação na mencionada área.
O diretor do Spa achou melhor eu fazer um exame de toque com um urologista para ficarmos todos tranqüilos.
— O urologista é gordo?
— Magro.
— Menos mal. Preciso ir ao hospital?
— Não. Amanhã ele passa aqui. A gente te acha.
Na manhã seguinte, estou lá eu com as minhas queridas gordinhas a fazer um cooper, quando a enfermeira vem me chamar.
— O senhor tem médico daqui a meia hora.
Foi o tempo suficiente para um bom banho, lavar bem as partes, colocar uma cueca novinha. Fui para o sacrifício.
O médico me recebeu, nos apresentamos e ele me levou para o fundo do corredor e abriu uma porta. A primeira coisa que eu vi foi aquela cama de examinar mulheres, com lugares para colocar as pernas. Sabe qual?
"Vai ser de frente. Mais constrangedor ainda".
Pediu para eu sentar. Ele era sério. Para desanuviar um pouco o ambiente, brinquei:
— Você é que vai me dedurar?
— Depende.
— (olhando para a cama) Depende do quê?
— A não ser que você tenha algum problema mais grave, fica tudo entre a gente.
Aquele "tudo entre a gente" eu já não gostei.
— Você está com algum problema?
— Bem... é que é estranho assim logo de manhã..
— Você prefere de tarde?
— Não, já que eu estou aqui, vamos fundo. Vamos fundo?
— Pois então, algum problema de ordem psicológica?
— Bem, fora aquelas brincadeiras que a gente fazia quando era garoto, né, eu nunca...
— Como assim?
— Doutor, vamos deixar de conversa e vamos logo ao que interessa?
— Não estou te entendendo.
— O senhor não é o urologista?
— Urologista? Eu sou o psiquiatra.
Mário Prata
Texto extraído do livro "100 Crônicas", Cartaz Editorial - São Paulo, 1997, pág. 160.
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