terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Destruiram o altinho de D. Neca




O tempo não conseguiu destruir em mim as atividades desenvolvidas na infância. Permanecem, como um marco indelével, fixas nos recônditos do coração e são episódios que me acompanham em todos os movimentos da vida. A emotividade sempre me dominou. Sou um sujeito deveras emotivo. Quando Jerdivan me indagou: - Você soube que derrubaram o antigo casarão do Altinho? Confesso que fiquei triste, entre revoltado e indignado. Meu Deus como acontece isso, com a história de Pombal! Pensei por um instante... Logo hoje, que se tornou um núcleo educacional de ensino superior de primeira grandeza!Quando tenho a feliz oportunidade de me deparar com alguém que conviveu comigo na infância, é para fazer reviver os tempos idos e vividos em toda a década de 60-70. E a terra natal é o assunto preferido, interminável. Ressuscitamos personagens com quem convivíamos e faziam a vida da cidade. Os banhos de açude no Altinho de Dona Neca, o chamado córrego, com suas fruteiras deliciosas que povoaram a nossa infância, as festas de natal, não esqueço do presente que recebia todo ano, de meu padrinho Lelé, os “cavalinhos” de D. Ana Benigno, a Bodega de Lelê, irmão de Dona Antonieta, aquela senhora boa, que era chamada de mãe, por uma numerosa quantidade de crianças pobres de seu Internato, de fala mansa e modos fidalgos, que lembrava Mons. Abdon Pereira, paciente com os meninos que carambolavam no pátio de seu Internato, o castigo ficava para depois, e depois esquecia.

O mês de férias escolares em casa de Seu Joquinha Queiroga e Dona Neca, com suas maneiras de legítima camponesa, fazendo de tudo para nos agradar com a colheita de frutas de seu pomar no Altinho, são coisas que a gente nunca esquece. Seus filhos, Joãozinho, Chiquinho e Pedrinho, sempre foram os meus melhores amigos de infância, recentemente quando estive ai, na Festa do Rosário, me encontrei com Chiquinho, o Altinho de Dona Neca, foi motivo de incontáveis histórias de nosso tempo. Como foi bom, esse reencontro.... A Festa do Rosário tem dessas coisas agradáveis, a grande festa de Nossa Senhora do Rosário. A carreira de girândolas de foguetes que se enfileiravam uma atrás da outra, até a praça do Bar Centenário. Inácio, o velho fogueteiro, de cabelos brancos, como um capucho de algodão, esperando pela salva dos sinos que eram tangidos por Raimundo Sacristão, e, nós meninos, na calçada da Matriz, ouvindo o zabumba de Aritides e a tuba de Zé Vicente. Os irmãos Terto, Joãzinho e Jailson com nossas brincadeiras de reisado, na rua Cel. José Avelino. O Joãozinho era o “Mateus”. O Grupo Escolar “João da Mata”, casarão que foi edificado ao lado da Cadeia Velha, hoje Casa da Cultura, e onde muitos dos meninos daquele tempo foram iluminados com as luzes das primeiras letras. Quantas vezes, seduzido pelos banhos do rio Piancó, gazetearam as aulas da professora Ivanil Bandeira. E como éramos diferentes dos meninos de hoje! Ainda guardo, reverente, a memória de uma velhinha, professora, que para mim tinha um coração de criança e era como se fosse uma jóia preciosa. O seu nome. Dona Joaninha de professor Romero, que exercia com abnegação aquele ofício de ensinar. Guardo de cor, ainda, muitas das suas lições, e quando se antepõem a mim dificuldades no caminho da vida, é dela que me lembro tanto! Dos seus conselhos, das suas maneiras sensatas e seguras, ensinando a vereda certa e limpa do bem e da prudência. Tudo isso são relatos de um passado bem distante, mas que se encontram perto de mim como se fosse num palco enorme com todos aqueles personagens e eu o protagonista principal da cena. Quem não conhece essas histórias, tem realmente coragem de destruir o Altinho de Dona Neca.


Paulo Abrantes - Engenheiro e escritor pombalense

2 comentários:

francielio junior disse...

Fiquei muito triste quando vi que tinham derrubado a casa do alto. era assim que eu chamava aquela casa antiga que deveria ter sido tombada como patrimõnio historico.

Espaço Cultural disse...

uma lástima sem tamanho!!!!!!!!!!!!