“Em nossa sociedade, Expor o privado é uma virtude e um dever público.”
O sociólogo polonês conhecido por criar o conceito de “modernidade líquida”, que usou para definir os dias de hoje e os que vêm pela frente. A ideia colou: seus livros estão entre os mais vendidos – um feito e tanto pra um pensador que não é dos mais fáceis de ler.
A modernidade líquida parte do pressuposto de que, no passado, tudo era sólido. Por exemplo: uma família tinha um pai, uma mãe e um punhado de filhos. Agora o mundo estaria mais líquido. Ou, pelo menos, os conceitos, mais frouxos. E aí, seguindo o mesmo exemplo, as famílias “líquidas” passaram a ser aceitas com naturalidade. Hoje em dia, até mesmo um bando de solteiros que mora junto pode se considerar uma família.
Para Bauman, não são apenas as famílias que estão mais líquidas, mas o mundo. Na vida profissional, um desses sintomas é a instabilidade das carreiras. A liquidez interfere até na hora de ter medo: em vez de um inimigo nítido, surge o terrorismo, que pode atacar em qualquer lugar.
De qualquer maneira, não é só porque Bauman entendeu o mundo que ele passou a concordar com tudo isso que está aí. Pelo contrário: crítico do consumismo exacerbado, o sociólogo reclama que a fluidez também tornou mais flexíveis valores importantes, como a relação humana, o amor e o comprometimento. O curioso é que é justamente a defesa dos valores sólidos que fazem de Bauman um dos pensadores de maior sucesso.
Conheça um pouco do pensamento de Bauman:
“O
medo está lá, saturando diariamente a existência humana, enquanto a
desregulamentação penetra profundamente nos seus alicerces e os bastiões
de defesa da sociedade civil desabam. O medo está lá – e recorrer a
seus suprimentos aparentemente inexauríveis e avidamente renovados a fim
de reconstruir um capital político depauperado é uma tentação à qual
muitos políticos acham difícil resistir. E a estratégia de lucrar com o
medo está igualmente bem arraigada, na verdade uma tradição que remonta
aos anos iniciais do ataque liberal ao Estado social.”
– Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto Medeiros].Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 23.
“Massas
cada vez maiores de pessoas desperdiçadas no equilíbrio político e
social da coexistência humana planetária. A conseqüência da globalização
do mercado financeiro e de trabalho, da modernização administrativa
pelo capital, do modo de vida moderno, colaboram para os “escoadouros”
humanos, excluindo os não pertencentes ao meio. […] A vida moderna
produz uma “escala crescente: a população supérflua, supranumerária e
irrelevante – a grande quantidade de sobras do mercado de trabalho e o
refugo da economia orientada para o mercado, acima da capacidade dos
dispositivos de reciclagem.”
– Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 35.
“Transformações
sociais, culturais e políticas associadas à passagem do estágio
“sólido” para o estágio “líquido” da modernidade, o afastamento da nova
elite (localmente estabelecida, mas globalmente orientada e apenas
ligada de forma distante ao lugar em que se instalou) de seu antigo
compromisso com a população local e a resultante brecha espiritual/
comunicacional.”
– Zygmunt Bauman, em “Tempos líquidos”. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p. 84.
“Pensar
tira nossa mente da tarefa em curso, que requer sempre a corrida e a
manutenção da velocidade. E na falta do pensamento, o patinar sobre o
gelo fino que é uma fatalidade para todos os indivíduos frágeis na
realidade porosa pode ser equivocadamente tomado como seu destino.”
– Zygmunt Bauman, trecho do livro “Modernidade líquida”. [tradução
Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
“Tomar
distância, tomar tempo – a fim de separar o destino e a fatalidade, de
emancipar o destino da fatalidade, de torná-lo livre para confrontar a
fatalidade e desafiá-la: essa é a vocação da sociologia. E é o que os
sociólogos pode fazer caso de esforcem consciente, deliberada e
honestamente para refundir a vocação a que atendem – sua fatalidade – em
seu destino.”
– Zygmunt Bauman, trecho do livro
“Modernidade líquida”. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de
Janeiro: Editora Zahar, 2001.
“Nós somos responsáveis
pelo outro, estando atento a isto ou não, desejando ou não, torcendo
positivamente ou indo contra, pela simples razão de que, em nosso mundo
globalizado, tudo o que fazemos (ou deixamos de fazer) tem impacto na
vida de todo mundo e tudo o que as pessoas fazem (ou se privam de fazer)
acaba afetando nossas vidas.”
– Zygmunt Bauman,
trecho do livro “Modernidade líquida”. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
OBRA DE ZYGMUNT BAUMAN PUBLICADA NO BRASIL
:: Ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman. [tradução João Rezende Costa]. 1ª ed., São Paulo: Paulus Editora, 1997.
:: Modernidade e holocausto, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
:: Modernidade e ambivalência, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
:: Globalização: as consequências humanas, de Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Penchel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999.
:: O mal-estar da pós-modernidade,
de Zygmunt Bauman. [tradução Cláudia Martinelli Gama e Mauro Gama]. 1ª
ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1999. Disponível em pdf no link. (acessado
em 13.9.2015).
:: Em busca da política, de
Zygmunt Bauman. [tradução Marcus Antunes Penchel]. 1ª ed., Rio de
Janeiro: Zahar, 2000. Disponível em pdf no link. (acessado em
13.9.2015).
:: Modernidade líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2001.
:: Comunidade: a busca por segurança no mundo atual, de Zygmunt Bauman. [tradução Plinio Dentzien]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2003.
:: Amor líquido, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2004.
:: Vidas desperdiçadas, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
:: Identidade,
de Zygmunt Bauman. (Entrevista a Benedetto Vecchi).. [tradução Carlos
Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
:: Europa – uma aventura inacabada, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2005.
:: Vida líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.
:: Tempos líquidos, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2007.
:: Medo líquido, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.
:: Vida para consumo, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.
:: A sociedade individualizada – vidas contadas e histórias vividas, de Zygmunt Bauman. [tradução José Gradel]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2008.
:: Confiança e medo na cidade, de Zygmunt Bauman. [tradução Eliana Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
:: A arte da vida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2009.
:: Capitalismo parasitário, de Zygmunt Bauman. [tradução Eliana Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: Legisladores e interpretes, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: A ética é possível num mundo de consumidores?, de Zygmunt Bauman. [tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: Aprendendo a pensar com a sociologia, de Zygmunt Bauman e Tim May. [tradução
Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: A vida a crédito, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2010.
:: Bauman sobre Bauman, de Zygmunt Bauman. (Biografia).. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
:: Vida em fragmentos – sobre a ética pós-moderna, de Zygmunt Bauman.[tradução Alexandre Vieira Werneck]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
:: 44 cartas do mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução Vera Pereira]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2011.
:: Ensaios sobre o conceito de cultura, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
:: A cultura no mundo líquido moderno, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
:: Isto não é um diário, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2012.
:: Sobre a educação e juventude,
de Zygmunt Bauman. (Conversas com Riccardo Mazzeo).. [tradução Carlos
Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013.
:: Danos colaterais – desigualdades sociais numa era global, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2013.
:: Vigilância líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
:: Cegueira moral: a perda da sensibilidade na modernidade líquida, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
:: A riqueza de poucos beneficia todos nós?, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2014.
:: Para que serve a sociologia?, de Zygmunt Bauman. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2015.
:: Estado de crise, de Zygmunt Bauman e Carlo Bordoni. [tradução Renato Aguiar]. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.
:: O retorno do pêndulo: Sobre a psicanálise e o futuro do mundo líquido, de Zygmunt Bauman e Gustavo Dessal. [tradução Joana Angélica d’Avila Melo]. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
:: Retrotopia, de Zygmunt Bauman. [tradução Renato Aguiar]. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
:: A individualidade numa época de incertezas, de Zygmunt Bauman e Rein Raud. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
:: Nascidos em tempos líquidos: Transformações no terceiro milênio, de Zygmunt Bauman e Thomas Leoncini. [tradução Joana Angélica d’Avila Melo]. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
:: Mal líquido: Vivendo num mundo sem alternativas, de Zygmunt Bauman e Leonidas Donskis. [tradução Carlos Alberto Medeiros]. Rio de Janeiro: Zahar, 2019.
Livros sobre Zigmunt Bauman
SILVA, Paulo Fernando da.. Conceito de ética na contemporaneidade segundo Bauman. São Paulo: FEU – Fundação Editora Unesp); Cultura Acadêmica, 2013.
Fonte: Revista Prosa Verso e Arte
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