“[…] pensara que todo livro falasse das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Percebia agora que não raro os livros falam de livros, ou seja, é como se falassem entre si. À luz dessa reflexão, a biblioteca pareceu-me ainda mais inquietante. Era então o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminho e pergaminho, uma coisa viva, um receptáculo de forças não domáveis por uma mente humana, tesouro de segredos emanados de muitas mentes, e sobrevividos à morte daqueles que os produziram, ou os tinham utilizado.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“[…]
nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras
podem ser reconhecidas como tais por uma alma piedosa.”
–
Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini
e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record,
2010.
§
“Labirinto espiritual, é também labirinto terreno. Poderíeis entrar e poderíeis não sair.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“Não
sei de nada. Não há nada que eu saiba. Porém certas coisas se sentem
com o coração. Deixa falar o teu coração, interroga os rostos, não
escutes as línguas…”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”.
[tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“A biblioteca defende-se por si, insondável como a verdade que abriga, enganadora como a mentira que guarda”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“O
bem de um livro está em ser lido. Um livro é feito de signos que falam
de outros signos, os quais por sua vez falam das coisas. Sem um olho que
o leia, um livro traz signos que não produzem conceitos, e portanto é
mudo. Esta biblioteca talvez tenha nascido para salvar os livros que
contém, mas agora vive para sepultá-los. Por isso tornou-se fonte de
impiedade.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução
de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio
de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“Os
monstros existem porque fazem parte do desígnio divino e nas mesmas
horríveis feições dos monstros revela-se a potência do Criador. Assim
existem por desígnio divino também os livros dos magos, as cabalas dos
judeus, as fábulas dos poetas pagãos, as mentiras dos infiéis.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“O
livro é criatura frágil, sofre a usura do tempo, teme os roedores, as
intempéries, as mãos inábeis. Se por séculos e séculos cada um tivesse
podido tocar livremente os nossos códices, a maior parte deles não
existiria mais. O bibliotecário portanto defende-os não só dos homens,
mas também da natureza, e dedica sua vida a esta guerra contra as forças
do olvido, inimigo da verdade.”
– Umberto Eco, em “O nome
da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de
Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
“Pode-se
pecar por excesso de loquacidade e por excesso de reticência. Eu não
queria dizer que é necessário esconder as fontes da ciência. Isso me
parece antes um grande mal. Queria dizer que, tratando-se de arcanos dos
quais pode nascer tanto o bem como o mal, o sábio tem o direito e o
dever de usar uma linguagem obscura, compreensível somente a seus pares.
O caminho da ciência é difícil e é difícil distinguir nele o bem do
mal. E freqüentemente os sábios dos novos tempos são apenas anões em
cima dos ombros de anões.”
– Umberto Eco, em “O nome da
Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de
Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“Mas deves aprender a distinguir o fogo do amor sobrenatural do delíquio dos sentidos. É difícil mesmo para os santos.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“O
que é o amor? Não existe nada no mundo, nem homem, nem diabo, nem
qualquer coisa, que eu considere tão suspeito como o amor, pois este
penetra mais a alma que outra coisa qualquer. Não há nada que ocupe
tanto e amarre o coração como o amor. Por isso, a menos que não tenha as
almas que a governam, a alma cai, pelo amor, numa imensa ruína […]”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“Oh,
o amor possui diversas propriedades, de início a alma se enternece por
ele, depois cai enferma… Mas em seguida percebe o calor verdadeiro do
amor divino e grita, e se lamenta, e faz-se pedra posta na fogueira para
desfazer-se em cal, e crepita, lambida pela chama…”
–
Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini
e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record,
2010.
§
“[…]
ela me beijou com os beijos de sua boca, e os seus amores foram mais
deliciosos do que o vinho e ao olfato eram deliciosos os seus perfumes, e
era belo o seu pescoço entre as pérolas e suas faces entre os
pingentes, como és bela amada minha, como és bela, os teus olhos são
pombas (eu dizia), e deixa-me ver a tua face, deixa-me ouvir a tua voz,
pois a tua voz é harmoniosa e a tua face encantadora, deixaste-me louco
de amor , minha irmã, deixaste-me louco com um olhar teu, com um único
adereço de teu pescoço, favo gotejante são os teus lábios, leite e mel
são a tua língua, o perfume do teu hálito é como o dos pomos, os teus
seios em cachos, os teus seios como cachos de uva, o teu palato um vinho
precioso que atinge diretamente o meu amor e flui nos lábios e nos
dentes… Fonte do jardim, nardo e açafrão, canela e cinamomo, mirra e
aloé, eu comia o meu favo e o meu mel, bebia o meu vinho e o meu leite,
quem era ela que se erguia como a aurora, bela como a lua, fúlgida como o
sol, terrível como colunas vexilárias?”
– Umberto Eco, em
“O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero
Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“E
tudo foi escrito, sabeis? Foi escrito que muitas seriam as agitações
nas castas, nos povos e nas igrejas; que se levantarão pastores iníquos,
perversos, depreciadores, ávidos, desejosos de prazeres, amantes do
lucro, prenhes de palavras vãs, jactanciosos, soberbos, gulosos,
protervos, imersos em libidinagem, sequiosos da vanglória, inimigos do
evangelho, prontos a repudiar a porta estreita, a desprezar a palavra
verdadeira, e odiarão qualquer caminho de piedade, não se arrependerão
de seu pecado, e por isso em meio aos povos espalhar-se-ão a
incredubilidade, o ódio fraterno, a perversidade, a dureza, a inveja, a
indiferença, o latrocínio, a embriaguez, a intemperança, a lascívia, o
prazer carnal, a fornicação e todos os demais vícios.”
–
Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini
e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record,
2010.
§
“Do único amor terreno de minha vida não sabia, e nunca soube, o nome.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“Tu
estás dizendo que entre desejar o bem e desejar o mal não há senão um
passo, porque se trata sempre de dirigir a própria vontade. Isto é
verdade. Mas a diferença está no objeto, e o objeto é reconhecível
claramente. Aqui Deus, lá o diabo.”
– Umberto Eco, em “O
nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas
de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“Porque
eu me ocupo de retórica e leio muitos poetas e sei… ou melhor, creio
que através da palavra deles são transmitidas também verdades
naturaliter cristãs…”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”.
[tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“Nós vivemos para os livros. Doce missão neste mundo dominado pela desordem e pela decadência. […].”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“O
riso é a fraqueza, a corrupção, a insipidez de nossa carne. É o
folguedo para o camponês, a licença para o embriagado, mesmo a igreja em
sua sabedoria concedeu o momento da festa, do carnaval, da feira, essa
ejaculação diurna que descarrega os humores e retém de outros desejos e
de outras ambições… Mas desse modo o riso permanece coisa vil, defesa
para os simples, mistério dessacralizado para a plebe.”
–
Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini
e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record,
2010.
§
“O riso
libera o aldeão do medo do diabo, porque na festa dos tolos também o
diabo aparece pobre e tolo, portanto controlável. Mas este livro poderia
ensinar que se libertar do medo do diabo é sabedoria. Quando ri,
enquanto o vinho borbulha em sua garganta, o aldeão sente-se patrão,
porque inverteu as relações de senhoria: mas este livro poderia ensinar
aos doutos os artifícios argutos, e desde então ilustres, com que
legitimar a inversão. Então seria transformado em operação do intelecto
aquilo que no gesto irrefletido do aldeão é ainda e afortunadamente
operação do ventre. Que o riso é próprio do homem é sinal do nosso
limite de pecadores.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”.
[tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“O riso distrai, por alguns instantes, o aldeão do medo. Mas a lei é imposta pelo medo, cujo nome verdadeiro é temor a Deus.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni
Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora
Record, 2010.
§
“E
o que seremos nós, criaturas pecadoras, sem o medo, talvez o mais
benéfico e afetuoso dos dons divinos? Durante séculos os doutores e os
padres secretaram perfumadas essências de santo saber para redimir,
através do pensamento daquilo que é elevado, a miséria e a tentação
daquilo que é baixo.”
– Umberto Eco, em “O nome da Rosa”.
[tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade]. 2ª
ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
§
“A
prudência de nossos pais fez sua escolha: se o riso é o deleite da
plebe, que a licença da plebe seja refreada e humilhada, e amedrontada
com a severidade. E a plebe não tem armas para afiar o seu riso até
fazê-lo tornar-se instrumento contra a seriedade dos pastores que devem
conduzi-la à vida eterna e subtraí-la às seduções do ventre, das
pudendas, da comida, de seus sórdidos desejos.”
– Umberto
Eco, em “O nome da Rosa”. [tradução de Aurora Fornoni Bernardini e
Homero Freitas de Andrade]. 2ª ed., Rio de Janeiro: Editora Record,
2010.
§
“Porque
é verdade. Mas não penses que te censuro. Se queres transformar-te num
homem de letras, e quem sabe um dia escrever Histórias, deves também
mentir, e inventar histórias, pois senão a tua História ficaria
monótona. Mas terás que fazê-lo com moderação. O mundo condena os
mentirosos que só sabem mentir, até mesmo sobre coisas mínimas, e premia
os poetas que mentem apenas sobre coisas grandiosas.”
– Umberto Eco, em “Baudolino”. [tradução Marco Lucchesi]. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.
§
“O
sequioso que ao dar com uma fonte precipita-se para beber não lhe
contempla a Beleza. Poderá fazê-lo depois, uma vez satisfeito o seu
desejo.”
– Umberto Eco, em “História da beleza”. [tradução Eliana Aguiar]. São Paulo: Editora Record, 2004.
§
“[…]
chega a um momento em que a vanguarda (o moderno) não pode ir mais
além, porque já produziu uma metalinguagem que fala de seus textos
impossíveis (a arte conceptual). A resposta pós-moderna ao moderno
consiste em reconhecer que o passado, já que não pode ser destruído
porque sua destruição leva ao silêncio, deve ser revisitado: com ironia,
de maneira não inocente.”
– Umberto Eco, em “Pós-escrito a
O nome da Rosa”. [tradução Letizia Zini Antunes e Álvaro Lorencini].
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 56-57.
§
“Como
é belo um livro, que foi pensado para ser tomado nas mãos, até na cama,
até num barco, até onde não existam tomadas elétricas, até onde e
quando qualquer bateria se descarregou. Suporta marcadores e cantos
dobrados, e pode ser derrubado no chão ou abandonado sobre peito ou
joelhos quando caímos no sono.”
– Umberto Eco, em “A
memória vegetal: e outros escritos de bibliofilia”. [tradução Joana
Angélica d’Ávila]. São Paulo: Editora Record, 2011.
§
“Moral:
existem ideias obsessivas, nunca pessoais, os livros se falam entre si,
e uma verdadeira investigação policial deve provar que os culpados
somos nós”
– Umberto Eco, em “Pós-escrito a O nome da
Rosa”. [tradução Letizia Zini Antunes e Álvaro Lorencini]. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
§
“As ilusões caem uma após outra, como as cascas de uma fruta, e a fruta é a experiência.”
– Umberto Eco, em “Seis passeios pelos bosques da ficção”. [tradução
Hildegard Feist]. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 20.
§
“Não
são as notícias que fazem o jornal, mas o jornal é que faz as notícias,
e saber juntar quatro notícias diferentes significa propôr ao leitor
uma quinta notícia”
– Umberto Eco, em “Número zero”. [tradução Ivone Benedetti]. Rio de Janeiro: Editora Record, 2015.
Revista Prosa Verso e Arte
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