Estudo de pesquisadores chineses sugere que o ácido tânico, muito presente no vinho, especialmente nos tintos, pode ajudar a reduzir infecção por covid
São Paulo – Um estudo conduzido por pesquisadores chineses sugeriu que os taninos, substância muito presente no vinho, tintos principalmente, pode ajudar a reduzir a infecção por covid-19. Publicado no prestigioso American Journal of Cancer, em dezembro, o trabalho produzido na China Medical University mostrou que o ácido tânico tem funções inibidoras duplas de bloqueio de serino-proteases virais e celulares críticas para a infecção viral.
Mas se o leitor boiou, não se desespere. Para ajudar na tarefa de tornar o estudo mais palatável (leia aqui a pesquisa na íntegra), a coluna ouviu o cardiologista gaúcho Jairo Monson Filho, estudioso e grande entusiasta de vinho – e que já falou aqui sobre as conexões da bebida com a saúde.
O que é um vírus
Para começar, é preciso entender o que é um vírus. Segundo Monson, os vírus são micro-organismos muito simples, constituídos por “um núcleo de ácidos nucleicos (material genético) envolvidos por uma capa formada por proteínas”.
Em tese, os vírus são micro-organismos sem vida. Melhor dizendo, para
ter vida eles precisam entrar numa célula. A partir daí, eles se
reproduzem e causam doenças, mas o objetivo deles, pura e tão somente, é
garantir a sobrevivência da espécie. O coronavírus, por sua vez, é
um vírus conhecido há mais de 50 anos, que provoca infecções
respiratórias em humanos e animais. O vírus Sars-Cov-2 é o responsável
pela covid-19.
Taninos, o que são?
O
ácido tânico é um polifenol da classe dos taninos, presente em
quantidade significativa nos vinhos, com alguns efeitos conhecidos sobre
a saúde humana. Segundo o cardiologista, eles são responsáveis por
dar estrutura ao vinho e, por estarem presentes na casca da uva em maior
quantidade, os vinhos tintos são os que mais têm taninos. Essas
substâncias são responsáveis pela sensação de adstringência quando
tomamos vinho. Quando não estão maduros, podem conferir amargor à
bebida.
Protease
Um
nome comprido que sempre aparece quando o assunto é covid é o da
protease transmembrana serina 2 da superfície celular (TMPRSS2).
Trata-se da proteína existente na membrana celular, e que tem uma
afinidade química com uma das proteínas do Sars-Cov-2, segundo Monson.
Ele explica: “Quando a proteína do vírus se liga à TMPRSS2 na
parede da célula, o vírus tem acesso liberado para o interior dela e,
desse modo, se reproduz e pode causar a doença”.
O estudo
Bem,
explicamos os conceitos anteriores para ficar um pouco mais fácil de
entender em que ponto o estudo chinês quis chegar. Em laboratório (veja
bem, em laboratório, não em humanos), os pesquisadores descobriram
que o ácido tânico se liga com facilidade à TMPRSS2. Assim, ele
impediria a entrada do Sars-Cov-2 na célula. Mas, como Jairo Monson salientou, o
estudo apenas “sugere, não demonstra”, que essa barreira formada pelo
ácido tânico, os taninos do vinho, coibiria o desenvolvimento da
covid-19.
“Outras
substâncias que também se ligam à TMPRSS2, como o Remdesivir (um
medicamento antiviral), em estudos clínicos, não mostraram melhora
significativa da covid-19”, pontuou o médico. “Os achados
de laboratório muitas vezes não se reproduzem em humanos, que são
máquinas biológicas muito complexas. A relação do ácido tânico com a
covid-19 ainda é uma questão em aberto.” Na opinião dele, mais
estudos são necessários para que se possa dizer, de fato, que a ingestão
de ácido tânico (ou melhor, vinho) protege contra a covid-19.
Outros estudos
Não
é de hoje que a ciência tenta comprovar que o vinho faz bem à saúde e
pode ajudar a combater doenças. O cardiologista lembrou que estudos
anteriores já demonstraram que outros polifenóis existentes no vinho,
como as catequinas, as procianidinas, a quercitina e o resveratrol
também são capazes de impedir que alguns vírus entrem na célula,
provocando doenças.
“O
ácido tânico está presente no vinho, mas a gente sabe que, nessa
bebida, quase tudo é diferente. O próprio ácido tânico é um exemplo.
Sozinho, ele é intragável e danoso. É utilizado para curtir couro! No
entanto, no vinho, ele é responsável por uma série de atributos. E isso é
mágico! É difícil entender por que no vinho ele é tão diferente”, conjecturou.
Realmente eficaz
Em
suma: vinho é bom, é ótimo, é excelente e muitos de nós amamos. Mas a
pesquisa sobre a capacidade dos taninos do vinho no combate à covid-19
não nos dá licença para encher a cara. Muito menos abandonarmos a
máscara e fazermos aglomerações por aí.
Por
ora, distanciamento social, o uso responsável da máscara e a vacina são
os únicos preventivos comprovadamente eficazes que temos.
Por Adriana Cardoso - RedeBrasilAtual
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