Caminho pela encosta de uma colina verdejante. Grama, florezinhas na grama, como numa gravura para crianças. O céu nevoento já azulando.
A vista de outras colinas se amplia em silêncio.
Como se aqui não tivesse havido cambrianos e silurianos, rochas rosnando uma para a outra, abismos elevados,
noites em chamas
e dias em nuvens de escuridão.
Como se por aqui não tivessem se movido as planícies em delírios febris,
calafrios gelados.
Como se só alhures tivessem fervilhado os mares e rompido as margens dos horizontes.
São nove e trinta, hora local.
Tudo no lugar e em assente concórdia.
No vale, um riacho pequeno como riacho pequeno. Um caminho em forma de um caminho desde sempre para sempre.
Um bosque simulando um bosque pelos séculos dos séculos, amém, e no alto, pássaros em voo no papel de pássaros em voo.
Até onde a vista alcança, reina aqui o instante.
Um daqueles instantes terrenos que se pede que durem.
Wisława Szymborska, nasceu em 1923 em Bnin, na Polônia, e morreu em 2012. Em 1931 mudou-se com a família para a Cracóvia, onde estudou literatura e sociologia. Ao longo da vida, publicou doze pequenas coletâneas de poemas. Em 1996, a poeta ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.
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