Cada um deve ser e proporcionar a si mesmo o melhor e o máximo. Quanto
mais for assim e, por conseguinte, mais encontrar em si mesmo as fontes
dos seus deleites, tanto mais será feliz. Com o maior dos acertos, diz
Aristóteles: A felicidade pertence aos que se bastam a si próprios.
Pois todas as fontes externas de felicidade e deleite são, segundo a
sua natureza, extremamente inseguras, precárias, passageiras e
submetidas ao acaso; podem, portanto, estancar com facilidade, mesmo sob
as mais favoráveis circunstâncias; isso é inevitável, visto que não
podem estar sempre à mão.
Na velhice, então, quase todos se esgotam necessariamente, pois abandonam-nos o amor, o gracejo, o prazer das viagens, o prazer da equitação e a propensão para a sociedade. Até os amigos e parentes nos são levados pela morte. É quando, mais do que nunca, importa saber o que alguém tem em si mesmo. Pois isso se conservará por mais tempo. Mas também em cada idade isso é e permanece a única fonte genuína e duradoura da felicidade. Em qualquer parte do mundo, não há muito a buscar: a miséria e a dor preenchem-no, e aqueles que lhes escaparam são espreitados em todos os cantos pelo tédio. Além do mais, via de regra, impera no mundo a malvadez, e a insensatez fala mais alto. O destino é cruel e os homens são deploráveis. Num mundo com tal índole, aquele que tem muito em si mesmo assemelha-se ao iluminado recanto de Natal, aquecido e aprazível no meio da neve e do gelo da noite de dezembro. Por conseguinte, ter uma individualidade meritória e rica e, em especial, muita inteligência, é sem dúvida a sorte mais feliz sobre a terra, por mais diversa que possa ser da sorte mais brilhante.
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
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