(Self, de Michael Morgenstern)
Tem uma
história antiga que se refere a um desses monumentos da humanidade, não
lembro se era sobre Matchu Pitchu ou a Esfinge de Gizé; alguma coisa
gigantesca e enigmática.
Quando os
exploradores europeus chegaram lá, séculos atrás, perguntaram às tribos
que moravam perto: “O que é aquilo?”. Os nativos olharam com uma cara
de quem estava vendo a tal coisa pela primeira vez e responderam: “Pois
é, que coisa estranha aquilo, o que será?”.
Era um
resíduo cultural dos antepassados deles, eles a viam diariamente quando
iam levar os camelos para beber água ou coisa parecida, e não tinham
parado para imaginar o que era.
Assim somos
nós com grande parte das coisas importantes da nossa vida. Por exemplo,
digamos que amanhã desembarque na Terra uma frota de espaçonaves cheias
de psicólogos alienígenas que falem português (tá bom, vá lá, que falem
inglês, que é mais disseminado).
E que eles
nos perguntem: “O que é o sonho? Lá no nosso planeta, quem dorme apaga.
Aqui, vocês dormem e ficam pensando maluquices, como quem tomou LSD.
Que diabo é isso?” Não saberíamos responder. Temos 258 teorias para
explicar o sonho, o que equivale a não ter nenhuma.
A teoria mais recente é do dr. Rodolfo Llinás, um neurologista e fisiologista da New York University. Diz ele:
“O sonho não
é um estado mental paralelo, mas é a consciência propriamente dita, na
ausência de estímulos fornecidos pelos sentidos”.
Em seu livro I of the Vortex: from Neurons to Self
(M.I.T., 2001) ele diz que quando as pessoas estão despertas a mente
compara automaticamente essas imagens do sonho com o que vê, ouve e
sente – os sonhos são corrigidos pelos sentidos. Ou seja: se entendi
bem, a mente está o tempo inteiro processando situações, inventando-as,
manipulando imagens, fazendo associações de idéias, mas o que ela faz é
constantemente interferido pelos sentidos, pelo fato de que estamos
acordados, cercados de outras pessoas que nos dizem coisas, nos mandam
fazer isso ou aquilo.
Somos forçados a pensar socialmente, pensar em conjunto, e isto cria um superego de obrigações e compromissos coletivos.
A loucura
poderia ser algum desarranjo em que o “input” sensorial deixa de
prevalecer sobre o caldeirão borbulhante da mente-em-si. Experiências
com LSD seriam um modo artificial de produzir algo semelhante. Quando
dormimos, a mente consegue trabalhar em paz, de acordo com suas próprias
regras, sem ter que ficar dialogando com o mundo material.
Já foram
feitas experiências em que voluntários num laboratório foram impedidos
de dormir. Depois de 3 ou 4 dias eles começam a sonhar acordados. O
sistema sensorial afrouxa, enfraquece – e a mente crua toma conta.
Bráulio Tavares
Mundo Fantasmo
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