A amiga Helena sabe que estou sofrendo dores provocadas por
rompimento de tendões no ombro, consequência de um tombo recente. Ela
também passou mal com um torcicolo e nem pode comparecer à nossa reunião
semanal. Quando a encontrei, ontem, perguntei como estava e ela teve a coragem de me dizer : “Estou melhor. Mas foi uma dor insuportável, muito pior que essa sua dor no ombro!”
Quando o espanto é grande demais, a gente fica sem palavras! Claro que depois acabamos rindo bastante!
Mas, não é incomum as pessoas menosprezarem as dores alheias. Se a grama do vizinho é mais verde, como dizem, também é verdade que suas dores não chegam aos pés das nossas…
Uma vez ouvi uma senhorinha dizer que, se existisse um aparelho que
medisse a intesidade da dor e ela o usasse, com certeza ele iria torrar!
A filha dela, acostumada com suas queixas constantes, retrucou: “Ah,
mãe, não exagere! não dói tanto assim como você fala!”
Acho estranho alguém afirmar que está sentindo uma dorzinha chata,
que incomoda muito. E existe dor que não incomoda? Ou então: “Como é
ruim essa dor!”, como se houvesse dor boa.
A resistência ao sofrimento físico (resiliência?) parece variar de
pessoa para pessoa. Lembro-me do meu pai contando sobre a tia Zulmira
(Sim, outro “Z”!) que choramingava por qualquer dorzinha e sobre o tio
Gabino, que desmaiava só ao ver o sangue de um arranhão…
Uma coisa aprendi: não adianta, nem é necessário expor nossas
mazelas, principalmente para quem pergunta apenas retoricamente. Para
que ser mais um chato neste mundo já tão dolorido? Prefiro ir “tocando
em frente”, na esperança de chegar onde não haverá mais pranto, lá onde
todas as lágrimas serão enxutas.
Enquanto isso, pretendo continuar a agir mais ou menos assim:
“… um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui.”
Caio Fernando Abreu
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