sábado, 29 de abril de 2017

Quem diria...

A vida é um contínuo, uma sucessão de acontecimentos, muitos deles relacionados entre si, gerando consequências em cadeia, como a água da chuva que molha o solo, encharca a terra, escorre morro abaixo, abastece os córregos, enche os rios, suja o mar, impede a pesca de mergulho e acaba protegendo as lagostas. Nestes dias de vento sul bem fraquinho, a água do mar está espelhada e transparente como há muito não se via. No meu tempo de rapaz atlético, uma água dessas era motivo para matar aula e remar até as ilhas do Boi ou do Frade, em busca das lagostas. Hoje, há quem diga que as lagostas sumiram das redondezas, em função do minério de ferro que cai no mar o ano inteiro e da pesca desenfreada.

Em terra firme, fatos e pecados que misturam o mundo da política e o submundo dos negócios estão sendo revelados em larga escala pelos próprios atores, em dezenas de depoimentos de envergonhar mães de delatores e delatados. Denúncias graves e, possivelmente, comprováveis, são retrucadas com negativas cínicas e burocráticas. No tempo do Mensalão, apostei que caciques também seriam presos, além dos bagrinhos. Agora tenho visto manobras de políticos comprometidos até os dentes tentando aprovar leis que protejam seus interesses. Faz parte do jogo. Otimista, gosto de acreditar que o processo vai continuar se desdobrando, evoluindo, para ser mais exato. Se a morte de Teori aliviou alguns, a atuação de Fachin deve estar tirando o sono de muita gente. Acredito que a Lava Jato já tenha atingido o chamado ponto de não retorno.

Para além da sensação de impotência, da descrença e das teorias de conspiração, vejo que começam a brotar iniciativas individuais e de pequenos grupos orientadas para a busca de soluções para o descalabro nacional. Tem gente propondo, inclusive, uma Assembleia Constituinte, composta por brasileiros notáveis e de ficha-limpa, para rever a legislação que regula a atividade política, passar uma régua nas práticas e lideranças vigentes e, sobretudo, possibilitar um futuro mais animador.
 
Álvaro de Abreu 

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