É fato que nos acostumamos de tal forma com nosso rosto, nosso corpo,
que não nos damos conta do envelhecimento. Só fui aceitar que tinha cara
de dezoito anos quando aos vinte e pouco porteiro de cinema não me
pedia documento. Casei aos vinte e cinco e ainda tinha cara de jovem.
Meu pai me contava que o seu jamais deixou de fazer barba um só dia na
vida. Ele também fazia todos os dias. Só quando meu irmão separou da
mulher, meu pai ficou uma semana sem fazer barba. Eu puxei por eles.
Faço todos os dias. E, portanto, me olho no espelho toda manhã. Não
percebi que estava ficando careca. Foi tudo muito lento, e natural. Se
não fossem os muitos fios na escova, o espelho teria me traído. Relutei
bastante para entrar em fila preferencial de idosos. Já tinha sessenta
mas achava que ninguém iria acreditar. Comecei devagarinho. Primeiro no
banco. Lá as pessoas são mais educadas. Depois nos aeroportos, e
finalmente nos caixas de supermercado. Nunca ninguém duvidou. Isso me
incomodava. Agora ando muito bravo quando enfermeiras e professoras de
ginástica falam comigo como se estivessem falando com criança. Tudo no
diminutivo. Olhando nos meus olhos e falando vagarosamente. Mas com
energia. Detesto ser tratado como velho.
Eduardo P. Lunardelli
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