Doar órgãos é sublime. Na doação de órgãos não estamos oferecendo
uma parte dos nossos corpos para que um desconhecido possa viver. É o
oposto; um desconhecido está oferecendo o corpo dele para que uma parte
de nós sobreviva. Sou doador e acho que todos deveríamos ser, até mesmo os canalhas. Se o cara não fez nada de bom em vida, que o faça depois de morto. Só
tenho pena de quem receber o fígado de meu amigo fulano. Por pior que
seja a situação de quem precisa, aquele fígado já recebeu tanta cachaça
que deve estar em estado pastoso.
Porém acho que no futuro, além da doação de órgãos na forma como existe hoje, as novas tecnologias permitirão que troquemos algumas partes do corpo tal qual fazemos com os automóveis.
Meus queridos leitores com certeza já desejaram ao menos uma vez trocar
uma “peça” do corpo. Trocar o motor do veículo seria algo como fazer um
transplante de coração, o que já é realidade há bastante tempo.
Mas me refiro a órgãos mecânicos, sintéticos, fabricados desses
materiais que todo dia são inventados. Eu mesmo gostaria imensamente de
melhorar meus índices nas corridas. Começaria escolhendo um bom joelho esquerdo e se sobrasse dinheiro ainda arriscaria pulmões um número maior.
Minha amiga K. quer um coração que não se apaixone.
Olhos teriam uma procura extraordinária. Ao invés de lentes de
contato ou óculos, olhos nus e de preferência verdes ou azuis. Já
pensaram um afrodescendentão como eu com olhos azuis?
Pernas. Pernas grossas, bem torneadas, fariam sucesso entre as mulheres. Alfacinha me segredou: “- E pernas que não precisem jamais de depilação. Aquela cera quente é terrível”.
Peitos de atarraxar ou encaixar, de modo que as mulheres usassem
no dia a dia um modelito 38 ou 40, mas pudessem trocar por um 46 quando
fossem à praia ou festas. No quesito intimidade, para elas a (vocês sabem) quase virgem e para eles o (vocês também sabem) sempre vivo.
Mas de todos os órgãos humanos há um que tanto as mulheres como os
homens disputariam às tapas, cada qual querendo um mais gordinho. Não,
não se trata disso que você está pensando, criativo leitor. Trata-se da
parte do corpo humano que segundo o ex Ministro Delfim Neto mais
perturba, o bolso.
Quem não desejaria usar bolsos que já viessem recheados de grana?
Marcos Pires
Correio da Paraíba
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