sábado, 14 de novembro de 2015

Clara

Não sabes, Clara, que pena
eu teria se — morena
tu fosses em vez de clara!
Talvez... quem sabe... não digo...
mas refletindo comigo
talvez nem tanto te amara!

A tua cor é mimosa,
brilha mais da face a rosa
tem mais graça a boca breve.
O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!

A morena é predileta,
mas a clara é do poeta:
assim se pintam arcanjos.
Qualquer, encantos encerra,
mas a morena é da terra
enquanto a clara é dos anjos!

Mulher morena é ardente:
prende o amante demente
nos fios do seu cabelo;
— A clara é sempre mais fria,
mas dá-me licença um dia
que eu vou arder no teu gelo!

A cor morena é bonita,
mas nada, nada te imita
nem mesmo sequer de leve.
— O teu sorriso é delírio...
És alva da cor do lírio,
és clara da cor da neve!


Casimiro
José Marques de Abreu, nasceu em 1839. Fluminense, era conhecido como "o cantor da saudade". Seu pai, homem de posses, tanto se esforçou para que o filho se dedicasse ao comércio que acabou fazendo-o adoecer. De nada adiantaram os tratamentos de saúde em Portugal e em Friburgo (RJ): o poeta faleceu em 16/10/1860. Publicou um único livro, "Primaveras", em 1859.

O texto acima foi extraído da antologia "Humor e Humorismo — Poesias e Versos e Paródias de Poemas Famosos", Editora Brasiliense - 1961, pág. 101, organização de Idel Becker.

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