segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Há lugares do Rio em que a polícia é despótica, sufoca a vida dos jovens”

 Ex-secretário nacional de Segurança Pública aborda a corrupção no PT do mensalão

Os primeiros passos do antropólogo Luiz Eduardo Soares (Nova Friburgo, 1954) como secretario nacional de Segurança Pública em 2003 foram recebidos com uma rajada de tiros na fachada de sua casa no Rio. Mas este não foi o único sobressalto da travessia política de Soares, coautor da obra que inspirou o filme Tropa de Elite. No seu novo livro, Rio de Janeiro – História de Vida e Morte (Companhia das Letras), Soares relata a gênese do mensalão, a promessa de Lula e José Dirceu de não investigar as contas do ex-governador do Rio Anthony Garotinho em troca de apoio político, e sua saída do Governo, dez meses depois da sua nomeação, após a divulgação de um dossiê recheado de graves acusações contra ele e que tinha sido forjado pelos próprios colegas de partido. “Uma armadilha”, segundo Soares, na qual participaram grandes nomes do PT, como José Genoino, condenado a mais de quatro anos por corrupção.

Soares tem uma visão diferente da Segurança Pública, uma ferida que nunca se cura no Brasil. Partidário de oferecer um programa de manutenção, recuperação e formação para os traficantes que queiram abandonar a vida do crime, Soares relata como dois líderes do tráfico o procuraram na busca de uma saída que não fosse a morte. “[Um deles] estava convencido de que não sobreviveria à prisão. Presos, os criminosos que na véspera eram sócios dos policiais convertem-se em seus delatores potenciais”, explica.

Como subsecretario de Segurança no Rio, entre 1999 e 2000, conta também seu tenso périplo por uma favela em um carro dirigido por um procurado narcotraficante e como ficou pasmado diante da imagem de um policial, com meio corpo fora de um helicóptero, simulando massacrar com um fuzil os participantes de uma manifestação em uma comunidade.

Soares dinamita o clichê da Cidade Maravilhosa, vítima da corrupção e da violência. Acabar com elas passa, segundo o autor, por uma profunda reforma das polícias, pelo fim das execuções extrajudiciais e a legalização das drogas.

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María Martín, El País

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