quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Peru

Já se cogitou em comprar um peru menor, ou substituir o peru por outra coisa. Mas por que ir contra uma tradição familiar? E, afinal, o Natal vem só uma vez por ano.
 
Aqui em casa o desafio é saber quanto tempo durará o peru. Costumamos receber gente para jantar na véspera de Natal, mas, mesmo com a ajuda de amigos e familiares, nunca conseguimos liquidar o peru de uma vez só. Sempre sobra peru para o dia seguinte, e o dia seguinte, e o dia seguinte... Às vezes chega o Ano Novo e nós ainda estamos comendo o peru do Natal.
 
Nada nos restos do bicho lembra a majestosa ave que saiu do forno dias antes, cheia de si e de sarrabulho. Sua última aparição na mesa costuma ser na forma de tiras de carne branca ou escura misturadas com arroz, um melancólico risoto de despedida. Adeus, até que enfim, peru. Mas sempre há a possibilidade que ele ainda volte à mesa como croquetes.
 
Uma vez fizemos uma contagem e descobrimos que havia mais judeus do que cristãos ou góis e ateus no nosso jantar de Natal. Mas nem o esforço concentrado de povos irmãos pode acabar com o peru numa única noite.
 
Já se cogitou em comprar um peru menor, ou substituir o peru por outra coisa. Mas por que ir contra uma tradição familiar? E, afinal, o Natal vem só uma vez por ano.
 
Graças a Deus.
 
Esperando o tri
 
Você, eu não sei, mas eu custei um pouco a decifrar a linguagem do noticiário sobre os escândalos que se sucedem. Finalmente entendi: “mil” é mil mesmo, “mi” é milhão e “bi” é bilhão. E está todo mundo esperando para qualquer momento a estreia do “tri”, significando trilhão, nas manchetes. Será um marco na historia da corrupção no Brasil, para admiração do mundo. Nenhuma propina, nenhuma conta na Suíça, nenhum desvio de dinheiro revelado até agora ultrapassou a casa dos “bis”. Enquanto não aparece um “tri” nos jornais ficaremos em suspense. Quando será? Vamos lá, corruptos. Só mais um esforço. Pela pátria!
 
Ficha limpíssima
 
A ficha do deputado Paulo Maluf foi oficialmente declarada limpa pelo Tribunal Superior Eleitoral. “Acinte” é uma boa palavra, quer dizer provocação deliberada. O que o TSE fez, garantindo o mandato do deputado, que não pode sair do Brasil sob pena de ser preso pela sua ficha, foi um acinte — mas não foi um acinte completo. Para completar o acinte, deveriam ter chamado a ficha do Maluf de exemplarmente limpa, e até explicar suas eventuais manchas. Esta aqui? Cocô de passarinho. Essa outra? Pingo de café... Acinte pela metade é apenas insulto.
 
 
Luís Fernando Veríssimo
(Do blog do Noblat)

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