domingo, 16 de março de 2014

Em busca do macho perdido

Em uma reação bem-humorada à onda metrossexual que assola a humanidade, vi agora na tevê, no intervalo de um programa esportivo, uma propaganda de um desodorante para o homem-homem.
 
Você provavelmente já deve ter visto também a essa altura.
 
O cara manda a porrada no coqueiro e cata um coco para agradar a dama. E haja cenas épicas do gênero, como acender uma vela de um jantar romântico, com um lança-chamas. Tudo para fazer derreter a mocinha como em um filme do velho Oeste.
 
Aí vem a assinatura, em uma voz que pulveriza testosterona na sala: o desodorante do cabra-macho!
 
Não chega a anunciar uma nova terra prometida pelos caubóis de Marlboro, mas é um comercial ousadíssimo para tempos exageradamente corretos. E com um humor, a partir dos cliclezões da macheza perdida, que você não encontra mais na publicidade apenas engraçadinha e adolescente de hoje -olha a nostalgia aí, gente!
 
Óbvio que eu preferia o gaúcho de Alegrete Paulo César Pereio ou, no mínimo, o Zé Mayer, mineiro de Jaguaraçu, no papel que coube ao Malvino Salvador, com todo respeito ao moço, óbvio.

 
O reclame me fez recordar os usos e costumes do macho-jurubeba, essa versão ainda mais original, o macho roots, o macho de raiz. O termo nasceu mais precisamente no sítio das Cobras, na zona rural de Santana do Cariri, onde este cronista entre bravos se criou.
 
Revisitemos, pois, a capanga do macho-jurubeba, que já foi tema deste blog e agora relembramos para as novas e desavisadas gerações:
 
Era um sujeito vaidoso sim, mas sem frescuras. Não confunda.
 
Na capanga do macho-jurubeba, encontramos um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina no caso dos cabeleiras, um frasco de leite de colônia faz vezes de desodorante.

 
Vemos também, no fundo do embornal, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
 
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros.
 
Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.
 
Vemos também, no kit macho, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável.
 
O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.
 
Era o máximo permitido.
 
Hoje, você sabe como é, o cara anda por ai com a nécessaire estourando o zíper de tanto creminho.
 
Outro dia uma amiga de SP foi obrigada a dar uma dura no namorado:

 
“Ah, não, bancada de creme maior do que a minha na-na-ni-não, a bancada dele parecia a da Adriane Galisteu que vi na “Quem”, uns dois quilômetros de metrossexualismo explícito”.
 
E rolou a maior D.R., a mitológica discussão de relacionamento, da história do bairro das Perdizes e arredores. O amor não resistiu à guerra dos potinhos.

 
 
Xico Sá

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