É de uma falta de bons modos total deixar uma moça sair da sua casa, depois
de dormir consigo, sem sequer oferecer um café. Digo oferecer e imediatamente
acionar a cafeteira ou fogão. Não apenas por cerimônia. Ação, amigo.
Como disse outro dia nas páginas da revista “Espresso”, seja qual for o
vínculo afetivo, é imperdoável que não haja o menor esforço, depois de uma
noitada –boa ou mais-ou-menos, não importa o resultado-, em brindá-la com uma
xícara fumegante.
Não falo apenas dos moços, pobres moços, cada vez mais perdidos, como dizem
sobre os novos tempos. Trato também das fêmeas que praticamente expulsam os
rapazes ao primeiro barulho do bem-te-vi na janela ou do operário em construção
ao lado.
Como se um café comprometesse a independência ou desmanchasse anos de
aprendizado na cartilha de madame Beauvoir.
Até parece a danada do “Folhetim” do xará Buarque. “E na manhã seguinte, não
conte até vinte…”
Não precisa ser aquele café completo, no capricho. Isso nos fazemos no começo
do namoro de fato. Digo uma simples xícara de café para quebrar o gelo de
avistar na sua casa aquela pessoa que você mal conhece. Duas ou três palavras,
“você toma com açúcar ou adoçante?”etc.
Sim, algumas manhãs são embaraçosas. Rola aquele suspense. São os primeiros
encontros, acontece. Mas nada justifica apenas o silêncio e o barulho da porta.
Não se nega uma boa xícara para despertar alguém com quem você trocou
intimidades.
Mesmo que o sexo tenha sido um desastre. Ora, foi intimidade do mesmo
jeito.
Quando é desastroso aí é que rolou intimidade! Você se expôs, broxa ou
frígida, diante do outro.
E o café, seja de manhã, tarde ou noite, tem cheiro de afetividade. O melhor
mesmo, quando vinga o romance, é o café da manhã.
Como nas palavras do cronista Antônio Maria, autor de belas canções como
“Ninguém me ama”, entre outras: “O café com leite, de manhã. O lento café com
leite dos amantes, com a satisfação do prazer cumprido.”
Genial e pouco lembrado Antônio Maria, muitas vezes citado apenas como o
marido ciumento da Danuza Leão.
Lembre-se, mentalize o poder do café. Mesmo que você não seja tão
romântico(a) como na canção clássica do Roberto Carlos: “Amanhã de manhã, vou
pedir um café pra nós dois/ te fazer um carinho e depois/ me envolver nos seus
braços…”
Não tenho conhecimento de um bom namoro, um casamento ou um bom caso amoroso
que tenha vingado com a negativa de uma xícara para esquentar o desejo, o afeto.
Com ou sem açúcar.
Por algumas mulheres, amigo, não só faria todos os cafés do mundo, como
compraria uma gleba na região paulista da Mogiana e eu mesmo plantaria, com o
suor do meu rosto, e colheria cada grão para a cria da minha costela.
Que outra missão mais importante um homem tem na terra a não ser agradar a
sua amada? Desconheço!
Xico Sá
Folha de S. Paulo

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