segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A dor de um pai

Em uma sala no serviço de urgência de um hospital, partia uma lamúria de um sentimento profundo de difícil interpretação, acompanhado de soluços, que pela sua forma de se propagar, era na realidade a manifestação de uma dor sem igual.

As palavras ecoavam ao vento e eram na realidade dirigidas aos céus em forma de tristeza, onde os rios de lágrimas subiam desafiando a lei da gravidade para mostrar o quanto aquele momento era tão angustiante e ferido.

Ao adentrar a sala, pude presenciar um pai que abraçado ao filho inerte na pedra de mármore - que lembrava bem a estatua que simbolizava a Mãe Santíssima com seu filho no colo - onde do seu rosto transbordado de tristeza olhava para os céus e exclamava: Por quê? Por quê?

A dor superava em muito ao que tinha presenciado no decorrer destes longos anos de médico, pois tratava de seu filho primogênito que a menos de três meses tinha se formado em Direito, graças à luta e grande esforço de uma família que produzia para consagrar os sonhos do seu filho.

Ali jazia uma esperança, ali estava o filho amado, que levava consigo a grande lacuna de uma ausência, que partia para os campos celestiais, de onde jamais retornaria, a não ser através das promessas do reencontro.

Era o fim de um sonho, sonho este que foi traçado diuturnamente, sonho que se perdeu diante de uma fatídica viagem que por cansaço não optaram em retornar no outro dia e por inocência própria da juventude, os pais têm enterrado seus filhos na mais tenra idade.

Ficará apenas a imagem de uma dor que não cicatriza, de uma falta profunda daquela que muitos nem em pensamentos jamais gostariam de ter, de uma luz dinâmica que se apagou e deixou o túnel de esperança e grande solidão.

Eu não entendo o porquê de tantos sofrimentos! Não entendo porque muitos preferem a agitação insana da noite, que por si só nos ensina a arte de morrer ou levar para sempre as cicatrizes indeléveis pelas lesões sofridas.

Por mais que eu passe pela estrada da vida e morte, não me adapto a idéia de ver crianças se perderem pela vida, e serem enterradas junto com seus sonhos, junto com um futuro que parecia intensamente promissor.

Os pais ficam em casa sempre ligados ao telefone, para saberem noticias ou ouvir um barulho do chegar a fim de conciliar o sono, e em muitos momentos recebem noticias que transformam a suas esperanças em lágrimas de saudade.

É duro aceitar que os nossos filhos cresçam e fujam dos nossos olhos; é duro ter que encarar a realidade de que os filhos nascem para o mundo, e seus procederes dependem da maneira que contamos e trocamos experiências.

Fecha-se a janela da esperança, os raios de luz que enfeitavam aquela casa se tornam menos intensos e a dor, que vagueava pelos caminhos da vida, vem de forma abrupta e ocupa o seu espaço, onde nunca deveria existir.

Dr. Rafael Holanda
Médico


*Do setecandeeiros

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