quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Bacanal

Quero beber! Cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
Evoé, Baco!


Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
Evoé, Momo!


Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
Evoé, Vênus!


Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
- Vinhos!... o vinho que é o meu fraco!...
Evoé, Baco!


O alfanje rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
Evoé, Momo!


A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
Evoé, Vênus!


Manuel Bandeira, in Carnaval (1919, edição do autor)

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