sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A atualidade do pensamento de Josué de Castro


Após trinta e seis anos do crime político que foi a morte de Josué de Castro, em seu fatídico exílio na França, seu pensamento e pregações tornam-se cada dia mais atuais, pois a fome impera de forma avassaladora, cumprindo profeticamente o que sua magistral clarividência havia definido décadas atrás.

A fome, conforme Josué de Castro, inevitavelmente invadiria o primeiro mundo, tendo em vista a intensa migração verificada nas antigas colônias em direção às metrópoles. A previsão vem se confirmando categoricamente, pois a intensa xenofobia que caracteriza diversos países ricos vem intensificando as contradições sociais.

Em 1965 Josué de Castro defendeu que o mundo desenvolvido havia alcançado impressionante progresso técnico e financeiro que se houvesse empenho na formação de responsável governo mundial o problema seria imediatamente banido da face da terra. Defendeu ainda que, em vinte anos, ou teríamos a abundância para todos ou a catástrofe provocada pelo problema da fome mundial.

Infelizmente a perspectiva otimista de minimizar a fome no planeta não foi observada, em razão que a ganância dos países ricos, os quais Josué de Castro diversas vezes , quando presidia a FAO, classificou como hipócritas, definiu rumos incertos para dois terços da população excluída do planeta.

As previsões apocalípticas contidas no pensamento de Josué de Castro sobre o recrudescimento da questão alimentar com a fome assolando implacavelmente populações miseráveis e esquecidas infelizmente se concretizam, pois quando da publicação dos principais livros que escreveu, ou seja, Geografia da Fome (1946) e Geopolítica da Fome (1951), havia ênfase a percentual significativo do conjunto populacional habitando o campo na região que definiu como prioritária para a pragmatização de suas idéias.

Hoje a urbanização anômala e acelerada vem modificando radicalmente a estrutura sócioeconômica terceiromundista, destacando a inexistência de efetivas e comprometidas políticas públicas que possam viabilizar de fato a permanência humana nas cidades que crescem assustadoramente.

A fome passou a integrar a paisagem urbana de forma indelével, bem como a rural, pois o campo se despovoa e cede lugar á voracidade do agrobusiness. A agricultura familiar defendida por Josué de Castro vem declinando em sua importância.

No campo terceiromundista, em boa parte, já não mais produzem alimentos, forçando subida estratosférica dos preços, alicerçando cada dia que passa maior atualidade do pensamento do grande cientista brasileiro que foi vítima da ditadura militar.

Para entendermos os grandes problemas da humanidade temos que recorrer à reflexão sobre o pensamento sólido e atual de um dos maiores humanistas nascido neste país, pois ao invés de haver ênfase à inclusão, a nova ordem econômica mundial, surgida no período pós segunda grande guerra, vem se caracterizando pelas nefastas manifestações que denigrem a dignidade de grande parcela do gênero humano.


(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor do Departamento de Geografia da UERN.

Um comentário:

Unknown disse...

QUANDO O REINO DE DEUS FOR ESTABELECIDO NA TERRA; TUDO VAI SER DIFERENTE !! (TODO OLHO VERÁ).