Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos
seus amigos. Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si
próprio, e assim mesmo em grande segredo. Mas também há, finalmente,
coisas que o homem tem medo de desvendar até de si próprio; e, em cada
homem honesto, acumula-se um número bastante considerável de coisas do
gênero. E acontece até o seguinte: quanto mais honesto é o homem, mais
coisas assim ele possui. Pelo menos, eu mesmo só recentemente
me decidi a lembrar as minhas aventuras passadas e, até hoje, sempre as
contornei com alguma inquietação. Mas agora, que não lembro apenas, mas
até mesmo resolvi anotar, agora quero justamente verificar: é possível
ser absolutamente franco, pelo menos consigo mesmo, e não temer a
verdade integral? Observarei a propósito: Heine afirma que uma
autobiografia exata é quase impossível, e que uma pessoa falando de si
mesma certamente há de mentir.
Fiódor Dostoiévski, em "Memórias do Subsolo"
domingo, 28 de junho de 2020
O medo é que faz que não vejas, nem
ouças porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que
pareçam as coisas outras do que são!
Durante a guerra em Jerusalém, um
garoto cresce em um apartamento lotado de livros dos mais diferentes
idiomas. Aos doze anos de idade sua mãe comete suicídio, mudando para
sempre a vida da família. Após a tragédia, ele entra para um kibbutz,
muda seu nome e começa a trabalhar como escritor, participando
ativamente da vida política do país. Adaptação do livro de memórias
escrito por Amos Oz
O jurista, filósofo, escritor e professor Silvio Almeida foi o
entrevistado de hoje, 23-06-20 no programa “Roda Viva”, da TV Cultura.
Almeida
é doutor em filosofia e teoria do direito pela USP, professor da
Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e da Universidade Mackenzie, professor
visitante da Universidade Duke, nos Estados Unidos, e presidente da
Fundação Luiz Gama. O jurista é também autor de diversas obras sobre
filosofia, racismo e consciência de classe, como o livro “Racismo Estrutural”, que discute como o racismo está na estrutura social, política e econômica da sociedade brasileira.
Para o pensador, “a gente só pode sair dessa grande noite juntos”.
O
professor nos leva a refletir no quão necessário é que a luta por uma
sociedade igualitária e com maior justiça não pertença apenas àqueles
que historicamente se encontram em situação desvantajosa, acapachante,
discriminados por sua raça. Pelo contrário: a luta humanitária é uma
missão e prerrogativa do humano, seja ele de que raça for.
Para Sílvio, a democracia se sustentará tão somente se o discurso racial ganhar o status necessário à promoção do equilíbrio:
“Democracia,
desenvolvimento econômico, possibilidade de expurgar a violência, ou
seja, o racismo é algo que se infiltra na vida social e que se não
tratado leva ao aprofundamento das crises e compromete o futuro da
humanidade”, declarou.
Para assistir a toda a entrevista, que é uma verdadeira aula sobre essa temática tão importante, clique no vídeo abaixo:
sábado, 27 de junho de 2020
O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...
Costumamos dizer que amigos de verdade são os que estão ao seu lado em momentos difíceis... Mas não! Amigos verdadeiros são os que suportam a tua felicidade! Porque em um momento difícil qualquer um se aproxima de você. Mas o seu inimigo jamais suportaria a sua felicidade!
“E
como poderia suportar o fato de ser humano, se o homem também não fosse
poeta, decifrador de enigma e redentor do acaso! Resgatar o passado e
transformar cada “assim foi” em “assim eu quis!” – é o que chamo de
redenção! Vontade – assim é o libertador e o portador da alegria: assim
eu ensinei a vós, meus amigos! Mas agora aprendei isto também: a própria
vontade é ainda uma prisão.”
(Fragmento retirado de “Assim falou Zaratustra”, Friedrich Nietzsche)
Você já viu uma Pipa voar a favor do vento? Claro que não.
Elas sempre voam contra o vento.
Elas são valentes. Vão em frente, encarando cada
vento contrário uma oportunidade de subir e crescer. Como se viver e
brilhar fosse ter a sabedoria de ver uma lição em cada dificuldade.
Na verdade, todo mundo deveria aprender a empinar
pipas para entender, desde cedo, que Deus só lhes dá um céu imenso
porque elas têm condições de alcançar.
Assim como nos dá sonhos, projetos e desejos,
quando possuímos os meios de realizar. De tempos em tempos, voltaríamos
às salas de aula das tardes claras só para vê-las, feito bandeiras,
salpicando o azul.
Assim compreenderíamos, de uma vez por todas, que
pipas são como pessoas e empresas bem sucedidas: usam a adversidade para
subir às alturas.
O Mestre e Margarida é um dos melhores livros que já li. Então, é natural que persiga outros livros de Bulgákov. Este Anotações de um jovem médico reúne
trabalhos da juventude do escritor. Algumas das histórias foram
publicadas numa revista de medicina — Bulgákov foi também médico — e
falam da época em que ele foi mandado para ser o único médico numa
gelada comunidade rural da Rússia.
Há um pouco do humor do escritor maduro,
mas o que chama a atenção é o tremendo realismo e poder de observação
presentes no texto. Além disso, o texto de Bulgákov nos envolve
totalmente. Enviado para assumir um posto como clínico geral em um
hospital isolado da civilização, ele é, à princípio, um médico 100%
inseguro. O hospital é bem provido materialmente, mas o novo médico não
sabe como utilizar boa parte do que tem… E ele lidera uma pequena equipe
que conta com um enfermeiro-dentista e duas parteiras-obstetras,
acostumados com a liderança de seu antecessor, um médico velho e
experiente. Há momentos em que o jovem doutor volta até sua casa para
dar uma olhada em seus livros de medicina… Mas ele começa a trabalhar
adequadamente, a salvar vidas, sua fama se solidifica e ele passa a
atender mais de 100 pacientes por dia. Está sempre exausto. Se você já
exerceu um trabalho de grande responsabilidade irá sentir empatia pelo
jovem. A ansiedade é muito bem descrita.
Os contos não têm uma ligação
cronológica rígida e retratam os episódios mais notáveis da temporada
glacial do jovem doutor. Da parte dele, há sincera preocupação pelos
pacientes, que costumam ser muito desinformados, chegando um deles a
receber comprimidos para tomar um por dia, mas que acaba tomando todos
de uma vez porque com esse negócio de um por dia ele poderia esquecer de
tomá-los.
O livro também traz o famoso relato Morfina, que narra a história do vício em morfina do Dr. Poliakov, um colega do protagonista de Anotações
— que vai receber o nome de Dr. Bomgard. Poliakov substitui Bomgard no
hospital isolado. Usando a morfina uma vez para amenizar uma dor física,
ele percebe que esta também lhe amenizava os problemas pessoais e
renovava sua capacidade de trabalho. A partir daí, já viram… O conto é
muito realista e doloroso.
Morfina é também
autobiográfico. Bulgákov foi viciado em morfina em sua juventude, e sua
primeira esposa, Tatiana Lappa, foi de extrema importância para ajudá-lo
a superar a dependência. Ela é considerada o modelo para a personagem
Anna, de Morfina, do mesmo modo que a terceira esposa de Bulgákov, Elena, serviu de base para a Margarida de seu maior romance.
Mas há também o conto Eu matei,
que traz a aventura de um médico forçado a servir o exército de
Petliura, líder nacionalista ucraniano que colaborou com as tropas
alemãs durante a Primeira Guerra Mundial, resistindo aos bolcheviques
durante a Revolução de 1917.
Companheiro de farras históricas do saudoso senador Teotônio Vilela, o
compositor e boêmio inveterado Zé do Cavaquinho, dono do bar “Trovador
Berrante”, em Viçosa (AL), é o autor de uma frase célebre: “Vida é negócio para ser vivido e gozado, nunca filosofado.”
Certa vez, ele precisou de um empréstimo no Banco do Brasil. Fez a barba, ajeitou os cabelos, vestiu a melhor roupa, mas esbarrou no gerente desconfiado: “Seu Zé, de que o senhor vive?
Zé do Cavaquinho respondeu, sem hesitar: “Vivo de olhares e sorrisos…”
"Tenho a certeza... Que Tu, és o meu Maior Amigo... O mais Dedicado... O melhor de todos!
Como eu o vi hoje bem! Como tu, és Leal e Bom!
Tão diferente de todos os homens... Que, para te pagar... O que no Futuro, hei-de dever-te... Será pequena, a minha vida inteira... Mesmo que ela seja imensa!
Os outros, amando as mulheres... São como os gatos... Que quando acariciam... É a eles, que acariciam!
AMAR... Não é ser Egoísta... É tantas vezes... O Sacrifício de nós próprios!
A Dedicação de todos os instantes... Um Interesse, sem cálculo... Uns Cuidados... Que, em pequeninas coisas... Se revelam!
E o Pensamento Constante... De fazer a Felicidade... De quem se Ama!"
Florbela Espanca( in Correspondência 1920)
( escultura de Camille Claudel)