sexta-feira, 3 de abril de 2020

Sobre a egosidade

Descobri o que acontece com aquela gente enfática, que sabe de tudo e sobre tudo, que tem certezas definitivas. É uma doença provocada por uma bactéria chamada Tenhus Certezae Dittudus, que atualmente é disseminada principalmente pelas redes sociais.

A doença chama-se egosidade, e caracteriza-se por um ego gordo, que se manifesta em quatro fases: a inicial, a progressiva, a última fase e a mórbida.

Na inicial, o indivíduo se acha, mas não tem certeza.
Na progressiva, ele se acha e tem quase certeza.
Na última fase ele se acha, e tem certeza.
E na mórbida, ele nem se acha, só tem certezas.

A cura para a egosidade está na compreensão de que ninguém precisa estar certo todo o tempo. Que a sua verdade pessoal não é universal. E ela, a cura, chega através de exercícios, o principal deles o da humildade de dizer: “Eu não sei” e “Eu me enganei”.

Egosos mórbidos simplesmente não conseguem dizer essas expressões. Acham que assim estarão admitindo que falharam, que não são tão bons quanto parecem. Quem já se livrou da egosidade sabe que essas duas afirmações são libertadoras.

Para o egoso mórbido, “mudar de ideia” passa a impressão de incerteza, falta de liderança, insegurança, falta de confiança e até mesmo fraqueza de caráter. Afinal, gostamos mesmo é de gente segura! Como se o mundo fosse linear, como se houvesse claramente o preto e o branco, o certo e o errado, um ou outro, sem ambiguidade, todo o tempo! Mas não é assim.

“Não sei” e “Me enganei” induzem a uma certa vulnerabilidade que faz o egoso compreender que não precisa estar sempre certo e não deve se envergonhar por estar errado. Quando isso acontece, o egoso ganha poder, deixa de se preocupar com o que os outros vão pensar dele, experimenta, explora, aprende e cresce.

E desegosa.

O nome disso é liberdade.
 
Luciano Pires 

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