Uns
nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente
para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o
silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar,
um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural.
Sim, porque não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em
estado de gravidez.
Quando me viam, parado e recatado, no meu
invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e
corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude.
Eu era um afinador de silêncios.
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