Você pode até não saber, mas é um ser geográfico, assim como todos os
animais o são. É da natureza humana estabelecer caminhos, definir e
demarcar territórios, contemplar ou produzir paisagens, dividir o todo
em regiões e relacionar-se com o espaço. Mas o que é esse tal de espaço,
afinal? Será que quando tropeçamos e caímos damos de cara com ele?
Muitas são as definições de espaço, e de fato não é nada fácil
defini-lo.
Uma das definições mais claras de espaço para mim foi cunhada pelo
grande geógrafo brasileiro Milton Santos. Pare ele o espaço deve ser
considerado “como um conjunto indissociável, de que participam, de
um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objeto
sociais, e de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a
sociedade em movimento. (SANTOS, 2008, p. 28)”
Podemos então concluir que o espaço geográfico é resultado da relação
entre o homem e o meio em que ele habita e do qual também faz parte.
Para lermos e entendermos como agimos na construção e na transformação
desse espaço, a geografia nos fornece ferramentas, como se fossem lentes
de um óculos, que nos ajudam a enxergá-lo de forma mais clara.
Vejamos por exemplo, o território, um espaço geográfico delimitado por
fronteiras, construídas e mantidas por relações de poder e controle.
Muitos são os territórios que transitamos diariamente. Ao nos levantar
todos os dias cruzamos o território do nosso quarto, da nossa casa, da
sua rua, bairro, às vezes cidade. Há territórios, contudo, de difícil
acesso, ou até mesmo intransponíveis, seja por questões geográficas,
seja por questões sociais, culturais ou econômicas.
Quando um terremoto, ou mesmo uma erupção vulcânica de grandes
proporções atinge algum lugar na Terra, logo nos lembramos da geografia.
Sempre lembro da clássica fala nas minhas aulas, Léo, agora entendi por
que estudamos geografia. Mas será que ela só serve para nos ajudar a
entender a origem desses fenômenos? Muito pelo contrário. Se
conseguirmos compreender a geografia como um todo, como um conjunto de
processos naturais e sociais interligados, começamos a entender que o
conhecimento geográfico vai muito além da percepção dos fenômenos.
Ela, a geografia, não só nos afeta, como também a (re) produzimos
todos os dias. Quase todas as nossas decisões diárias levam conta
conhecimentos geográficos, como o melhor caminho a percorrer até o
trabalho/escola ou por que todos os anos, quando chega o período
chuvoso, ruas alagam, encostas deslizam, entre outros eventos
geográficos. Somos, portanto, seres geográficos, mesmo que na maioria
das vezes inconscientemente.
Léo Miranda – Professor, mestre pela UFMG, educador.
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