Apenas
7% dos estudantes do fim do ensino médio tinham aprendido o mínimo
adequado em Matemática em 2015. O pior que pode acontecer é nos
acostumarmos a isso
Os jovens que concluíram o ensino médio no fim do ano passado e estão
entrando agora no mercado de trabalho vão trabalhar até mais ou menos
2065. Até lá, quantas inovações tecnológicas, sociais e
institucionais eles vão enfrentar? Não há como antecipar. Há 50 anos,
não era possível imaginar que 80% dos brasileiros teriam em mãos um
aparelho pelo qual poderiam trocar mensagens, tirar fotos, jogar,
acessar uma rede mundial de informações, telefonar e muito mais. Mas o que dá para antecipar é que, sem
educação de qualidade que assegure as aprendizagens básicas a esses
jovens, eles não terão as ferramentas necessárias para navegar nesse
século XXI.
Infelizmente, não estamos cumprindo essa missão. O
monitoramento da Meta 3 do movimento Todos Pela Educação mostra que
apenas 7% dos estudantes do fim do Ensino Médio tinham aprendido o
mínimo adequado em Matemática em 2015. Apenas 7%!
O pior que pode acontecer é nos acostumarmos com esses resultados. É
engolir tão facilmente que a maioria dos alunos — principalmente os
mais pobres, os que mais precisam — tem acesso à escola, mas não a uma
educação de qualidade.
Está certo. Temos que valorizar avanços importantes, como os do ensino fundamental 1.
Mas as vitórias nessa etapa não estão sendo transmitidas para as seguintes.
O sistema de gestão educacional num país como o nosso é gigantesco, e
continuamos com a lógica da ampliação do acesso, com ênfase nos insumos
— que são pressupostos importantes, mas não suficientes para garantir
aos nossos jovens experiências e resultados de aprendizagem efetivos e
sustentáveis. O sistema atual “de cima para baixo” e uniforme (tudo
igual para todos) precisa dar lugar a outro mais flexível, específico,
descentralizado, operado localmente, aberto às produções e exemplos de
outras escolas, orientado para resultados educacionais (que vão muito
além do que as avaliações conseguem medir), com profissionais conectados
e trabalhando de forma colaborativa, e apoiados técnica e
financeiramente. Um sistema que reconheça que a educação não melhora
no papel, mas com a ação de milhões de pessoas, os profissionais que
estão no dia a dia das escolas.
Esse é o desafio mais importante do Brasil.
Se já pagamos um preço altíssimo por ter hoje uma população sem
acesso a uma educação de qualidade, como será daqui a alguns anos? Melhor não deixarmos a realidade responder a essas perguntas.
Priscila Cruz é presidente executiva do Movimento Todos Pela Educação
O Globo
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