terça-feira, 19 de maio de 2015

A Nau

Sôfrega, alçando o hirto esporão guerreiro, 
Zarpa. A íngreme cordoalha úmida fica... 
Lambe-lhe a quilha e espúmea onda impudica 
E ébrios tritões, babando, haurem-lhe o cheiro!

Na glauca artéria equórea ou no estaleiro
Ergue a alta mastreação, que o Éter indica, 
E estende os braços de madeira rica 
Para as populações do muno inteiro! 

Aguarda-a ampla reentrância de angra horrenda, 
Pára e, a amarra agarrada à âncora, sonha! 
Mágoas, se as Tem, subjugue-as ou difarce-as... 

E não haver uma alma que lhe entenda 
A angústia transoceânica medonha 
No rangido de todas as enxárcias!
Augusto dos Anjos

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