sexta-feira, 18 de julho de 2014

Manchetes

Há noticias de primeira página que nunca chegam à primeira página. Ou por falta de espaço — caso do Brasil no ultimo mês, quando o futebol dominou as primeiras páginas de todos os jornais — ou por decisão editorial.
 
Entre as notícias de primeira página que não viraram manchete durante a Copa está a declaração formal das Forças Armadas brasileiras que nada de anormal, como tortura e mortes, aconteceu em qualquer dependência militar no Brasil no período da ditadura. E pronto.
 
Notícia paralela que também ficou nas páginas internas, ou só com chamada na capa, foi a da prescrição do caso da bomba no Riocentro, que não será mais investigado. Também: assunto encerrado.
 
Quem insistir que houve tortura e morte nos quartéis durante a ditadura, segundo o relato de sobreviventes e averiguações criteriosas já feitas, estará chamando a instituição militar brasileira de mentirosa. Sobre a ação criminosa abortada pela explosão prematura daquela bomba no Puma jamais se saberá mais nada.
 
Outra noticia que merecia manchetes, mas não passou do bloqueio da Copa, foi a de que, dos 32 países que participaram do campeonato, o Brasil foi o que apresentou maior queda nos índices de mortalidade de crianças de até 5 anos de idade nas últimas décadas.
 
Maior do que ocorreu na Alemanha, na Holanda e na Argentina, para ficar só nos quatro finalistas da Copa. Os dados são da Parceria Para a Saúde Materna e Recém-Nascidos e Crianças, entidade coordenada pela Organização Mundial da Saúde.
 
A divulgação destes números com o destaque merecido talvez diminuísse os insultos à presidente, que, estes sim, sempre saem na primeira página. Ou talvez aumentassem, vá entender.
 
POR QUÊ?
 
O terremoto que arrasou Lisboa também sacudiu a intelectualidade europeia da época, que se dividiu entre os que consideravam a catástrofe um ato de Deus para punir a pecaminosa capital portuguesa e os que diziam que a natureza, e não um Deus cruel, era responsável pelo cataclismo.
 
Voltaire manteve que o terremoto provava a inexistência de Deus e fez pouco dos que defendiam que era um castigo divino, num famoso poema em que perguntava: se o objetivo era acabar com o pecado, por que escolher logo Lisboa e não Paris, onde havia muito mais pecadores, “mergulhados nas delicias”, do que em Lisboa?
 
“Lisboa está arruinada”, escreveu, “e dança-se em Paris.” Exatamente o que sentimos depois dos 7 a 1, guardadas todas as gigantescas proporções. Nosso futebol está arruinado, e dança-se em países que não têm metade das nossas taças e glórias. E por que nós?!

 
Luis Fernando Veríssimo é escritor
Do Blog do Noblat

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