quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Geração absalônica


De acordo com uma pesquisa realizada pela Divisão de Psicologia do Hospital das Clínicas da USP, 62% dos entrevistados se declaram deprimidos ou frustrados por não gostarem de seu corpo e de sua imagem. O problema é mais feminino do que masculino, embora o número de homens se candidatando a uma cirurgia plástica tenha aumentado de 5% para 30% nos últimos 5 anos.

Por incrível que pareça, um dos grandes fatores de depressão feminina são os espelhos instalados nos salões de ginástica. Por não verem resultados imediatos ao se colocarem diante dos espelhos depois dos exercícios físicos, as mulheres se sentem menos relaxadas emocionalmente e mais pessimistas. O estudo, publicado no início de agosto na revista “Health Psychology”, foi realizado com 58 universitárias nos EUA.

O médico Jairo Bouer, que escreve para o ‘Folhateen” todas as semanas, diz que “o consumo de hormônios anabolizantes (entre garotos) e moderadores de apetite (entre garotas) é alto entre os jovens”. Eles estão mais preocupados com as formas do corpo do que com a saúde. Só na cidade do Rio de Janeiro há 470 clínicas de estética.

Já que a estética está tomando o lugar da ética (não deixe de ler “A lipoaspiração do ego”), não é de se estranhar o surgimento de uma geração absalônica.

Absalão viveu mil anos antes de Cristo. Era filho do casamento de Davi com a princesa Maaca (2 Sm 3.3). A Bíblia registra que “em todo o Israel não havia homem tão elogiado por sua beleza como Absalão: da cabeça aos pés não havia nele nenhum defeito” (2 Sm 14.25, NVI).

Poucas pessoas, porém, foram tão ordinárias quanto esse príncipe. Para vingar o mal que seu meio-irmão Amnom havia feito à irmã Tamar, Absalão matou o impetuoso jovem à traição (2 Sm 13.23-39). Valendo-se de sua projeção nacional (só porque era bonito) e do escândalo sexual do pai, que fez cair o índice de sua popularidade, Absalão roubou com mentiras e promessas demagógicas o coração do povo para si mesmo e liderou um levante que derrubou o próprio pai e o fez assentar-se no trono de Davi (2 Sm 15.1-37). Por último, para se tornar repugnante para o pai e mostrar ousadia aos seus asseclas, Absalão deitou-se ostensivamente com as concubinas de Davi que ficaram em Jerusalém para cuidar do palácio quando o rei foi obrigado a fugir (2 Sm 16.15-23).

Geração absalônica é aquela da qual se diz: “Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. A beleza não combina com o caráter repugnante e o fedor que sai de dentro daquele que está cheio de “todo tipo de imundície” (Mt 23.27, NVI).

Há 80 anos, o “Jornal do Brasil” publicou o seguinte anúncio: “Moça honesta, mas de má aparência, deseja proteção de senhor sério e de posição. Cartas para Everarda, neste jornal”.

É bem provável que a moça bonita por dentro e feia por fora ainda esteja à espera de seu príncipe encantado.


Roberto de Albuquerque Cezar

Um comentário:

Unknown disse...

UM PRESENTE PERFEITO...EMBALAGEM E CONTEÚDO...É CADA VEZ MAIS RARO DE SE ENCONTRAR ! (EU ENCONTREI ! ) MAS NUNCA DEVEMOS ESQUECER A FRASE DE sAINT EXUPERY EM SEU LIVRO O PEQUENO PRÍNCIPE : O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS, SÓ SE VÊ BEM COM O CORAÇÃO ! :)