quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Abdulrazak Gurnah, escritor da Tanzânia, vence o Nobel de Literatura de 2021

 

Abdulrazak Gurnah, da Tanzânia, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura de 2021

 

Nascido na ilha de Zanzibar e radicado no Reino Unido, romancista é expoente do pós-colonialismo

O romancista Abdulrazak Gurnah venceu o prêmio Nobel de Literatura deste ano, o maior reconhecimento mundial a um escritor vivo.

A Academia Sueca fez na manhã desta quinta-feira o anúncio que pega todas as bolsas de aposta de surpresa. Nenhum dos livros do autor, escritos em inglês com traços de suaíli, árabe e hindi, foi traduzido no Brasil.

Nascido na ilha de Zanzibar e radicado no Reino Unido, Gurnah se tornou rapidamente um expoente da literatura pós-colonial, com os olhos voltados à África Oriental. É o primeiro autor da Tanzânia a ganhar o prêmio, e o segundo autor negro africano depois de Wole Soyinka, da Nigéria.

O comitê do Nobel justificou a escolha do escritor de 73 anos “por sua rigorosa e compassiva investigação sobre os efeitos do colonialismo e os destinos dos refugiados na lacuna entre culturas e continentes”.

“Os personagens itinerantes de Gurnah, na Inglaterra ou no continente africano, se encontram entre a vida deixada para trás e a vida que vem adiante”, disse o porta-voz da Academia Sueca. “Enfrentando o racismo e o preconceito, mas também se impelindo a silenciar a verdade ou reinventar suas biografias para evitar conflito com a realidade.”

O escritor se mudou para o Reino Unido aos 18 anos, depois que um conflito armado estourou em Zanzibar em meio à perseguição estatal à minoria árabe a que ele pertence.

“Sua saída precoce do país explica o papel central do exílio em todos os seus trabalhos, mas também sua falta de nostalgia pela África pré-colonial”, acrescentou o porta-voz. “Em Gurnah, você encontrará histórias marcadas por destinos individuais que não se conformam à narrativa colonial da história.”

O Nobel de Literatura vinha tendo anos turbulentos antes da vitória pouco ruidosa da poeta americana Louise Glück, no ano passado. Outra cria dos Estados Unidos, o músico Bob Dylan causou um terremoto nos círculos literários ao ser escolhido para o prêmio há cinco anos, quando o principal de sua obra são letras de canções.

No ano seguinte, o Nobel passou por sua maior crise, devido a acusações de estupro e corrupção no comitê que escolhe os vencedores, o que causou sete baixas na instituição. Em 2018, o prêmio não foi entregue —foi a primeira vez que isso aconteceu por um motivo diferente de uma guerra— e, em compensação, a instituição decidiu escolher duas pessoas em 2019.

Mas isso não acalmou ânimo nenhum, já que ao lado da polonesa Olga Tokarczuk, o Nobel escolheu o austríaco Peter Handke, sob quem recaíam acusações de racismo e de negar a existência do genocídio na Bósnia.

Fundada há 232 anos pelo rei da Suécia com o objetivo inicial de proteger seu idioma, a Academia Sueca seleciona desde 1901 o vencedor do Nobel, que hoje ganha um prêmio de 10 milhões de coroas suecas, ou cerca de R$ 6 milhões.

Dos 118 escritores escolhidos até hoje, apenas 16 foram mulheres. Só três pessoas negras venceram além de Gurnah –O nigeriano Soyinka, a americana Toni Morrison e Derek Walcott, da ilha caribenha de Santa Lúcia.

O eurocentrismo e a anglofilia, que sempre marcaram o Nobel de Literatura, ainda perduram —vale lembrar que a obra de Gurnah é escrita em inglês e irradiada do Reino Unido. Nove dos dez premiados da última década vieram da América do Norte ou da Europa —a exceção foi o chinês Mo Yan, em 2012.

Por Walter Porto, da Folha de S. Paulo 


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