Já
disse aqui que os portugueses têm um raciocínio cartesiano. Minha amiga
portuguesa discorda. Defende que na verdade usamos duas línguas
diferentes sob um mesmo título, e que nós é que não entendemos a
sutileza do humor deles. Portanto, quando os brasileiros riem das
aparentes bobagens que os portugueses dizem, na verdade são eles que
estão rindo de nós porque achamos verdade nas brincadeiras dos
patrícios. Vamos aos exemplos.
Um
dia estava com minha família em Lisboa, e depois do jantar o garçom
perguntou se queríamos café. Eu disse: “-Um”. Leca disse: “- Dois” e
minha nora disse: “- Três”. Pois não é que o garçom trouxe SEIS
cafezinhos?
A
amiga portuguesa defendeu o garçom: “- Ora, Pires, não é assim que
falamos aqui. Dizemos nossas unidades e o garçom que as some. Além
disso, como vocês são da terra do café, ele pode ter pensado que é seu
costume tomar muito café. Mas é verdade, somos mais literais”.
Mais
literais? Muito mais! Querem ver só? O amigo Dr. Balão um dia perguntou
a um garçom na cidade de Cascais como vinha o bife à lisboeta. E o
garçom muito sério: ‘- É de se imaginar que alguém o traga da cozinha,
pois não? ”. Na região da Bairrada, Rogério Varela foi ao melhor
restaurante local e travou-se o seguinte diálogo: “- Por favor, como é
esse leitão à Bairrada?”. “- Ora, presumo que saibas o que é um leitão?
”. “- Claro que sei, mas o que é à bairrada? ”. E o garçom com um
muxoxo: “- Mas ora, é a região onde estamos”.
Luiz
foi ao restaurante A Brasileira, preferido por Fernando Pessoa em
Lisboa. Amante do grande escritor, fez o pedido certo: “- Por favor, o
senhor poderia me trazer o mesmo prato que Fernando Pessoa comia? ”. “-
Lamento muito, mas já se quebrou há muitos anos”. Engolindo
a raiva, Luiz insistiu, vendo um outro garçom que passava por sua mesa
com uma belíssima posta de bacalhau: “- Então o senhor poderia me trazer
aquele prato? ”, apontou. “- Mas é claro que não, aquele bacalhau é do
senhor daquela mesa”.
Mesmo
na rua vemos essas diferenças da mesma língua. Um dia estávamos
querendo tirar uma foto em frente à Torre de Belém. Leca perguntou a um
senhor se ele poderia tirar uma foto. Muito solicito ele disse que sim e
ficou ao meu lado, para que ELA tirasse a nossa foto. Outra vez
perguntei a uma senhora se ela sabia como chegar ao restaurante Bel
Canto. Ela riu, disse que sim e continuou andando.
Acho que nós é que não sabemos perguntar... .
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