quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Nossos irmãos portugueses

          Já disse aqui que os portugueses têm um raciocínio cartesiano. Minha amiga portuguesa discorda. Defende que na verdade usamos duas línguas diferentes sob um mesmo título, e que nós é que não entendemos a sutileza do humor deles. Portanto, quando os brasileiros riem das aparentes bobagens que os portugueses dizem, na verdade são eles que estão rindo de nós porque achamos verdade nas brincadeiras dos patrícios. Vamos aos exemplos.
 
          Um dia estava com minha família em Lisboa, e depois do jantar o garçom perguntou se queríamos café. Eu disse: “-Um”. Leca disse: “- Dois” e minha nora disse: “- Três”. Pois não é que o garçom trouxe SEIS cafezinhos?  

          A amiga portuguesa defendeu o garçom: “- Ora, Pires, não é assim que falamos aqui. Dizemos nossas unidades e o garçom que as some. Além disso, como vocês são da terra do café, ele pode ter pensado que é seu costume tomar muito café. Mas é verdade, somos mais literais”.

          Mais literais? Muito mais! Querem ver só? O amigo Dr. Balão um dia perguntou a um garçom na cidade de Cascais como vinha o bife à lisboeta. E o garçom muito sério: ‘- É de se imaginar que alguém o traga da cozinha, pois não? ”. Na região da Bairrada, Rogério Varela foi ao melhor restaurante local e travou-se o seguinte diálogo: “- Por favor, como é esse leitão à Bairrada?”. “- Ora, presumo que saibas o que é um leitão? ”. “- Claro que sei, mas o que é à bairrada? ”. E o garçom com um muxoxo: “- Mas ora, é a região onde estamos”.

                Luiz foi ao restaurante A Brasileira, preferido por Fernando Pessoa em Lisboa. Amante do grande escritor, fez o pedido certo: “- Por favor, o senhor poderia me trazer o mesmo prato que Fernando Pessoa comia? ”. “- Lamento muito, mas já se quebrou há muitos anos”.  Engolindo a raiva, Luiz insistiu, vendo um outro garçom que passava por sua mesa com uma belíssima posta de bacalhau: “- Então o senhor poderia me trazer aquele prato? ”, apontou. “- Mas é claro que não, aquele bacalhau é do senhor daquela mesa”.

           Mesmo na rua vemos essas diferenças da mesma língua. Um dia estávamos querendo tirar uma foto em frente à Torre de Belém. Leca perguntou a um senhor se ele poderia tirar uma foto. Muito solicito ele disse que sim e ficou ao meu lado, para que ELA tirasse a nossa foto. Outra vez perguntei a uma senhora se ela sabia como chegar ao restaurante Bel Canto. Ela riu, disse que sim e continuou andando.

             Acho que nós é que não sabemos perguntar... .

Marcos Pires
Fonte aqui

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