(Foto: Rafael Arbex)
Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil anuncia resultados de sua 4.ª
edição em seminário em São Paulo; livro com análise será publicado na
Bienal do Livro de São Paulo
Há um pouco mais de leitores no Brasil. Se em 2011 eles representavam
50% da população, em 2015 eles são 56%. Mas ainda é pouco. O índice de
leitura, apesar de ligeira melhora, indica que o brasileiro lê apenas
4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88
lidos por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram
terminados e 2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros
lidos por ano. Os dados foram revelados na tarde desta quarta-feira, 18,
e integram a quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.
Realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro, entidade
mantida pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Câmara
Brasileira do Livro (CBL) e Associação Brasileira de Editores de Livros
Escolares (Abrelivros), a pesquisa ouviu 5.012 pessoas, alfabetizadas ou
não, mesma amostra da pesquisa passada. Isso representa, segundo o
Ibope, 93% da população brasileira.
Para a pesquisa, é leitor quem leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1
livro nos últimos 3 meses. Já o não leitor é aquele que declarou não
ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos
últimos 12 meses.
A Bíblia é o livro mais lido, em qualquer nível de escolaridade. O
livro religioso, aliás, aparece em todas as listas: últimos livros
lidos, livros mais marcantes. 74% da população não comprou nenhum livro
nos últimos três meses. Entre os que compraram livros em geral por
vontade própria, 16% preferiram o impresso e 1% o e-book. Um dado
alarmante: 30% dos entrevistados nunca comprou um livro.
Para 67% da população, não houve uma pessoa que incentivasse a
leitura em sua trajetória, mas dos 33% que tiveram alguma influência, a
mãe, ou representante do sexo feminino, foi a principal responsável
(11%), seguida pelo professor (7%).
As mulheres continuam lendo mais: 59% são leitoras. Entre os homens,
52% são leitores. Aumentou o número de leitores na faixa etária entre 18
e 24 anos – de 53% em 2011 para 67% em 2015. A pesquisa não aponta os
motivos, mas Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional
de Editores, disse ao Estado que o boom da literatura
para este público pode ter ajudado no aumento do índice – mais do que
uma ação para manter o aluno que sai da escola interessado na leitura.
Entre as principais motivações para ler um livro, entre os que se
consideram leitores, estão gosto (25%), atualização cultural ou
atualização (19%), distração (15%), motivos religiosos (11%),
crescimento pessoal (10%), exigência escolar (7%), atualização
profissional ou exigência do trabalho (7%), não sabe ou não respondeu
(5%), outros (1%). Adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem
por gosto (42%), seguidos por crianças de 5 a 10 anos (40%).
Os fatores que mais influenciam na escolha de um livro estão tema ou
assunto (30%), autor (12%), dicas de outras pessoas (11%), título do
livro (11%), capa (11%), dicas de professores (7%), críticas/ resenhas
(5%), publicidade (2%), editora (2%), redes sociais (2%), não sabe/não
respondeu (8%), outro (1%). O item O “tema ou assunto” influencia mais a
escolha dos adultos e daqueles com escolaridade mais alta, atingindo
45% das menções entre os que têm ensino superior. Já o público entre 5 e
13 anos escolhe pela capa. Dicas de professores funcionam melhor que
todas as outras opções para crianças entre 5 e 10 anos. E blogs
respondem por menos de 1%.
Lê-se mais em casa (81%), depois na sala de aula (25%), biblioteca
(19%), trabalho (15%), transporte (11%), consultório e salão de beleza
(8%) e em outros lugares menos expressivos. E lê-se mais livros digitais
em cyber cafés e lan houses (42%) e no transporte (25%).
Aos não leitores, foi perguntado quais foram as razões para eles não
terem lido nenhum livro inteiro ou em partes nos três meses anteriores à
pesquisa. As respostas: falta de tempo (32%), não gosta de ler (28%),
não tem paciência para ler (13%), prefere outras atividades (10%),
dificuldades para ler (9%), sente-se muito cansado para ler (4%), não há
bibliotecas por perto (2%), acha o preço de livro caro (2%), tem
dinheiro para comprar (2%), não tem local onde comprar onde mora (1%),
não tem um lugar apropriado para ler (1%), não tem acesso permanente à
internet (1%), não sabe ler (20%), não sabe/não respondeu (1%).
A leitura ficou em 10º lugar quando o assunto é o que gosta de fazer
no tempo livre. Perdeu para assistir televisão (73%), que, vale dizer,
perdeu importância quando olhamos os outros anos da pesquisa: 2007 (77%)
e 2011 (85%). Em segundo lugar, a preferência é por ouvir música (60%).
Depois aparecem usar a internet (47%), reunir-se com amigos ou família
ou sair com amigos (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar
WhatsApp (43%), escrever (40%), usar Facebook, Twitter ou Instagram
(35%), ler jornais, revistas ou noticias (24%), ler livros em papel ou
livros digitais (24%) – mesmo índice de praticar esporte. Perdem para a
leitura de um livro: desenhar, pintar, fazer artesanato ou trabalhos
manuais (15%), ir a bares, restaurantes ou shows (14%), jogar games ou
videogames (12%), ir ao cinema, teatro, concertos, museus ou exposições
(6%), não fazer nada, descansar ou dormir (15%).
A principal forma de acesso ao livro é a compra em livraria física ou
internet (43%). Depois aparecem presenteados (23%), emprestados de
amigos e familiares (21%), emprestados de bibliotecas de escolas (18%),
distribuídos pelo governo ou pelas escolas (9%), baixados da internet
(9%), emprestados por bibliotecas públicas ou comunitárias (7%),
emprestados em outros locais (5%), fotocopiados, xerocados ou
digitalizados (5%), não sabe/não respondeu (7%).
A livraria física é o local preferido dos entrevistados para comprar
livros (44%), seguida por bancas de jornal e revista (19%), livrarias
online (15%), igrejas e outros espaços religiosos (9%), sebos (8%),
escola (7%), supermercados ou lojas de departamentos (7%), bienais ou
feiras de livros (6%), na rua, com vendedores ambulantes (5%), outros
sites da internet (4%), em casa ou no local de trabalho, com vendedores
“porta a porta” (3%), outros locais (6%) e não sabe/não respondeu (7%). O
preço é o que define o local da compra para 42% dos entrevistados. Na
pesquisa anterior, isso valia para 49%.
A pesquisa perguntou a professores qual tinha sido o último livro que
leram e 50% respondeu nenhum e 22%, a Bíblia. Outros títulos citados:
Esperança, O Monge e o Executivo, Amor nos tempos do cólera, Bom dia
Espírito Santo, Livro dos sonhos, Menino brilhante, O símbolo perdido,
Nosso lar, Nunca desista dos seus sonhos e Fisiologia do exercício.
Entre os 7 autores mais lembrados, Augusto Cury, Chico Xavier, Gabriel
Garcia Márquez, Paulo Freire, Benny Hinn, Ernest W. Maglischo e Içami
Tiba.
Quando extrapolamos para a amostra total, os títulos mais citados
como os últimos lidos ou que estão sendo lidos foram Bíblia, Diário de
um banana, Casamento Blindado, A Culpa é das Estrelas, Cinquenta Tons de
Cinza, Ágape, Esperança, O Monge e o Executivo, Ninguém é de ninguém,
Cidades de Papel, O Código da Inteligência, Livro de Culinária, Livro
dos Espíritos, A Maldição do Titã, A Menina que Roubava Livros, Muito
mais que cinco minutos, Philia e A Única Esperança.
Quando a questão é sobre os livros mais marcantes, os religiosos
continuam ali e a Bíblia segue como referência, mas a lista fica um
pouco diferente, com alguns clássicos e infantojuvenis: Bíblia, A Culpa é
das Estrelas, A Cabana, O Pequeno Príncipe, Cinquenta Tons de Cinza,
Diário de um banana, Turma da Mônica, Violetas na Janela, O Sítio do
Pica-pau Amarelo, Crepúsculo, Ágape, Dom Casmurro, O Alquimista, Harry
Potter, Meu pé de laranja lima, Casamento Blindado e Vidas Secas.
Entre os escritores preferidos dos brasileiros estão Monteiro Lobato,
Machado de Assis, Paulo Coelho, Maurício de Sousa, Augusto Cury, Zibia
Gasparetto, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles,
Chico Xavier, John Green, Ada Pellegrini, Vinícius de Moraes, José de
Alencar e Padre Marcelo Rossi.
Maria Fernanda Rodrigues
Estadão
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