quarta-feira, 31 de março de 2010

As duas jóias

Narra antiga lenda árabe, que um rabino, religioso dedicado, vivia
muito feliz com sua família, esposa admirável e dois filhos queridos.
Certa vez, por imperativos da religião, o rabino empreendeu longa
viagem ausentando-se do lar por vários dias.
No período em que estava ausente, um grave acidente provocou a
morte dos dois filhos amados.
A mãe sentiu o coração dilacerado de dor.
No entanto, por ser uma mulher forte, sustentada pela fé e pela
confiança em Deus, suportou o choque com bravura.
Mas uma preocupação lhe vinha a mente: como dar ao esposo a triste
notícia
Sabendo-o portador de insuficiência cardíaca, temia que não
suportasse tamanha comoção.
Lembrou-se de fazer uma prece.
Rogou a Deus auxílio para resolver a difícil questão.
Alguns dias depois, num final de tarde, o rabino retornou ao lar.
Abraçou longamente a esposa e perguntou pelos filhos...
Ela pediu para que não se preocupasse. Que tomasse o seu banho, e
logo depois ela lhe falaria dos moços.
Alguns minutos depois estavam ambos sentados a mesa. Ela lhe
perguntou sobre a viagem, e logo ele perguntou novamente pelos
filhos.
A esposa, numa atitude um tanto embaraçada, respondeu ao marido:
- Deixe os filhos. Primeiro quero que me ajude a resolver um problema
que considero grave.
O marido, já um pouco preocupado perguntou:
- O que aconteceu Notei você abatida ! Fale ! Resolveremos juntos, com
a ajuda de Deus.
- Enquanto você esteve ausente, um amigo nosso visitou-me e deixou
duas jóias de valor incalculável, para que as guardasse. São jóias muito
preciosas! Jamais vi algo tão belo! O problema é esse ! Ele vem
buscá-las e eu não estou disposta a devolvê-las, pois já me afeiçoei a
elas. O que você me diz
- Ora mulher! Não estou entendendo o seu comportamento! Você nunca
cultivou vaidades!... Por que isso agora
- É que nunca havia visto jóias assim! São maravilhosas!
- Podem até ser, mas não lhe pertencem! Terá que devolvê-las.
- Mas eu não consigo aceitar a idéia de perdê-las!
E o rabino respondeu com firmeza: ninguém perde o que não possui.
Retê-las equivaleria a roubo!
- Vamos devolvê-las, eu a ajudarei. Faremos isso juntos, hoje mesmo.
- Pois bem, meu querido, seja feita a sua vontade. O tesouro será
devolvido. Na verdade isso já foi feito. As jóias preciosas eram nossos
filhos.
- Deus os confiou a nossa guarda, e durante a sua viagem veio
buscá-los. Eles se foram...
O rabino compreendeu a mensagem. Abraçou a esposa, e juntos
derramaram muitas lágrimas.


Malba Tahan - Lendas do Povo de Deus

Projeto de lei, se aprovado, obriga políticos a matricularem seus filhos em escolas públicas

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2007

PLS - PROJETO DE LEI DO SENADO, Nº 480 de 2007

Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º
Os agentes públicos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal são obrigados a matricular seus filhos e demais dependentes em escolas públicas de educação básica.

Art. 2º
Esta Lei deverá estar em vigor em todo o Brasil até, no máximo, 1º de janeiro de 2014.
Parágrafo Único. As Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas Estaduais poderão antecipar este prazo para suas unidades respectivas.

JUSTIFICAÇÃO
No Brasil, os filhos dos dirigentes políticos estudam a educação básica em escolas privadas. Isto mostra, em primeiro lugar, a má qualidade da escola pública brasileira, e, em segundo lugar, o descaso dos dirigentes para com o ensino público.
Talvez não haja maior prova do desapreço para com a educação das crianças do povo, do que ter os filhos dos dirigentes brasileiros, salvo raras exceções, estudando em escolas privadas. Esta é uma forma de corrupção discreta da elite dirigente que, ao invés de resolver os problemas nacionais, busca proteger-se contra as tragédias do povo, criando privilégios.
Além de deixarem as escolas públicas abandonadas, ao se ampararem nas escolas privadas, as autoridades brasileiras criaram a possibilidade de se beneficiarem de descontos no Imposto de Renda para financiar os custos da educação privada de seus filhos.
Pode-se estimar que os 64.810 ocupantes de cargos eleitorais –vereadores, prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais, federais, senadores e seus suplentes, governadores e vice-governadores, Presidente e Vice-Presidente da República – deduzam um valor total de mais de 150 milhões de reais nas suas respectivas declarações de imposto de renda, com o fim de financiar a escola privada de seus filhos alcançando a dedução de R$ 2.373,84 inclusive no exterior. Considerando apenas um dependente por ocupante de cargo eleitoras.
O presente Projeto de Lei permitirá que se alcance, entre outros, os seguintes objetivos:
a) ético: comprometerá o representante do povo com a escola que atende ao povo;
b) político: certamente provocará um maior interesse das autoridades para com a educação pública com a conseqüente melhoria da qualidade dessas escolas.
c) financeiro: evitará a “evasão legal” de mais de 12 milhões de reais por mês, o que aumentaria a disponibilidade de recursos fiscais à disposição do setor público, inclusive para a educação;
d) estratégica: os governantes sentirão diretamente a urgência de, em sete anos, desenvolver a qualidade da educação pública no Brasil.
Se esta proposta tivesse sido adotada no momento da Proclamação da República, como um gesto republicano, a realidade social brasileira seria hoje completamente diferente. Entretanto, a tradição de 118 anos de uma República que separa as massas e a elite, uma sem direitos e a outra com privilégios, não permite a implementação imediata desta decisão.
Ficou escolhido por isto o ano de 2014, quando a República estará completando 125 anos de sua proclamação. É um prazo muito longo desde 1889, mas suficiente para que as escolas públicas brasileiras tenham a qualidade que a elite dirigente exige para a escola de seus filhos.
Seria injustificado, depois de tanto tempo, que o Brasil ainda tivesse duas educações – uma para os filhos de seus dirigentes e outra para os filhos do povo –, como nos mais antigos sistemas monárquicos, onde a educação era reservada para os nobres.
Diante do exposto, solicitamos o apoio dos ilustres colegas para a aprovação deste projeto.

Sala das Sessões,

Senador CRISTOVAM BUARQUE


Enviada por e-mail.

Reprise: A moça e a calça

Foi no Cinema Pax, em Ipanema. O filme em exibição é ruim: “O menino mágico.” Se mágico geralmente é chato, imaginem menino. Mas isto não vem ao caso. O que vem ao caso é a mocinha muito da redondinha, condição que seu traje apertadinho deixava sobejamente clara. A mocinha chegou, comprou a entrada, apanhou, foi até a porta, mas aí o porteiro olhou pra ela e disse que ela não podia entrar:

- Não posso por quê?
- A senhora está de “Saint-Tropez”
- E daí?

Daí o porteiro olhou pras exuberâncias físicas dela, sorriu e foi um bocado sincero: - Por mim a senhora entrava (Provavelmente compeltou baixinho:...e entrava bem.) Mas o gerente tinha dado ordem de que não podia com aquela calça bossa-nova e, sabe como é... ele tinha que obedecer, de maneira que sentia muito, mas com aquela calça não.

- O senhor não vai querer que eu tire a calça.

Nós, que estávamos perto, quase respondemos por ele: - Como não, dona! – Mas ela não queria resposta. Queria era discutir a legitimidade de suas apertadas calças “Saint-Tropez”. Disse então que suas calças eram tão compridas como outras quaisquer. O cinema Pax é dos padres e talvez por causa desse detalhe é que não pode “Saint-Tropez”. A calça, de fato, era comprida como as outras, mas embaixo. Em cima era curta demais. O umbigo ficava ali, isolado, parecendo até o representante de Cuba em conferências panamericanas.

_ Quer dizer que com minhas calças eu não entro? – Quis ela saber ainda uma vez. E vendo o porteiro balançar a cabeça em sinal negativo, tornou a perguntar: - E de saia?

De saia podia. Ela então abriu a bolsa, tirou uma saia que estava dentro, toda embrulhadinha (devia ser pra presente). Desembrulhou e vestiu ali mesmo, por cima do pomo de discórdia. No caso, a calça “Saint-Tropez”. Depois, calmamente, afrouxou a calça e deixou que a dita escorresse saia abaixo. Apanhou, guardou na bolsa e entrou com uma altivez que só vendo.

Enquanto rasgava o bilhete, o porteiro comentou:

- Faço votos que ela tenha outra por baixo.

Outra calça, naturalmente.


Stanislaw Ponte Preta

terça-feira, 30 de março de 2010

A invisibilidade social


Se tornar invisível não é uma condição exclusiva de alguns super-heróis dos quadrinhos ou do cinema. Na vida real isso também acontece e com muita frequência, inclusive.

É muito comum não darmos conta de muita gente que nos rodeia e nos cerca no dia a dia. Essas pessoas passam despercebidamente por nós, ora no trabalho, na escola, na rua, no caminho do cinema, enfim, nos lugares mais inusitados possíveis.

São os chamados "invisíveis sociais". Nós até pressentimos a sua presença mas não sabemos o seu nome, quem é, de onde veio, do que gosta, o que pensa ou pra onde vai.

Um exemplo disso é o jovem da foto, por todos nós pombalenses, chamado simplesmente de "Índio", quando muito, o chamamos de "o Índio de Margarida" numa alusão a saudosa professora Margarida.

Mas, o "Índio", esse ser humano investido da condição de "invisibilidade social", excluído das rodas de conversa, dos bate-papos, dos nossos cumprimentos de "bom dia" e de nossa dispendiosa atenção, na verdade, chama-se Sostinys Severino dos Santos, nascido em 12 de julho de 1975 na cidade de São Luiz do Maranhão, filho de José Severino dos Santos e Honorina Maria Alceno dos Santos (falecidos), residente na rua Domingos de Medeiros, nesta cidade de Pombal. Durante muitos anos foi acolhido pela educadora Margarida Pereira da Silva e hoje é muito comum transitar pela cidade sem que a "sociedade" perceba a sua presença.

Sostinys, todavia, tem percepção das coisas que lhe cercam e dos desafios que enfrenta todos os dias nesta cidade.

Embora tenha nascido no Maranhão, bem poderia ter nascido na Bahia, ante a sua calmaria e tranquilidade.

Em sua ficha de cadastro no CEMAR (gentilmente cedida por aquele órgão) duas observações me chamaram a atenção. É que perguntado a ele sobre o que gosta de fazer, o "índio" respondeu: assistir televisão, desenhos e dormir; - E o que mais lhe acalma na hora de sua irritação ? Sostinys foi enfático na resposta: - Uma boa alimentação!

É... o Índio é invisível, mas certamente não é bobo!






Placas "inusitadas"














































O que é bonito para mim?

Em nossos dias o sentimento do belo foi reduzido à mera apreciação de mercadorias. Ninguém se preocupa com o que é “belo” para si mesmo, ou com o que “parece belo”. Dizemos que algo é bonito sem muita reflexão. Sem grandes investigações internas e pessoais sobre o modo como “eu mesmo” sou capaz de formular este juízo sobre alguma coisa ou mesmo uma pessoa. Como posso julgar a beleza de algo? E como posso dizer que alguém é ou não belo, ou “bonito”? Esta questão nascida com a cultura até hoje não foi resolvida.

Terceirizamos a beleza há muito tempo. Por um lado porque nunca foi fácil tê-la. Por outro lado, não foi simples dizer o que ela era e definir seu rumo. Até hoje padecemos da confusão em relação a um parâmetro. Cada época inventou o seu. E sempre evitamos uma apreciação original que parta da sensibilidade própria a cada um. Por isso, tantos de nós pedem desculpas quando, em exposições ou diante de um filme mais complexo, percebem que “não entendem de arte”. Mas tentaram entender?

Decidir sobre a beleza ou usá-la é algo que não fazemos sem o aval de especialistas. Chamamos os filósofos, os críticos, e até os artistas que nem sempre conhecem as teorias da arte. É claro que ninguém precisa conhecê-las. O público leigo também não tem esta obrigação. Porém, enquanto isso, os especialistas comandam o gosto coletivo e individual, definem o que é o bom e o mau gosto. Aquele que determina o gosto é dono de um poder importantíssimo. Ele administra o reino da aparência e, com ele, do desejo das pessoas pelas coisas. Mas se alguém administra meu desejo estou perdendo de fazer algo importante na vida.

Os gregos representavam Afrodite, a deusa da beleza, como uma bela jovem. Junto dela aparecia Eros, o deus do amor, na forma de um querubim a portar uma flecha e de olhos vendados sempre pronto a ferir aquele que, encantado pela beleza, mirava-a perplexo. A beleza sempre esteve junto do amor e foi a sua maior isca. Até hoje, ela desperta paixões naturais ou, bem administrada é capaz de produzi-las.

Querer a beleza, decidir sobre ela

Todos querem a beleza. Até hoje, quem consulta o galerista para saber que obra de arte acompanhará a decoração das paredes, até quem segue as dicas de um cabeleireiro, passando por quem se veste de acordo com a moda e faz a ginástica indicada, todos somos reféns de padrões estéticos que não elegemos, mas pelos quais pagamos o preço. No pacote vem o direito de não precisar decidir. E não se trata de uma obrigação da qual nos desincumbimos. Mas de um direito que não desejamos. E, mais do que um gosto que perdemos, é porque perdemos justamente “o gosto”, a capacidade da apreciação estética que sustenta a sensibilidade e evita a anestesia geral para o prazer e também para o sofrimento em relação a si mesmo e o outro.

De um lado temos, em nossa vida cotidiana, que decidir sobre a beleza das coisas. É difícil pensar que algo seja belo independente de seu valor de mercado, seja o mercado dos bens materiais, dos objetos de decoração, das roupas, da arquitetura, dos carros. Se todos querem as coisas belas pagam pelo belo e o obtém. Hesíodo, o poeta grego, conta que as musas diziam que “o que é belo é caro, o que não é belo não é caro”. Talvez o valor neste caso não fosse o da riqueza material apenas, mas também espiritual. Neste ponto, o único sofrimento em relação ao alcance do belo é o do poder de compra de cada um. Mas isso não reduz o sentido do que é realmente “belo” para cada um de nós?

A beleza de nossos corpos

De outro lado, além de julgar a beleza das coisas, há um julgamento sobre a beleza que se dirige ao corpo de cada um. Acostumamos a pensar a beleza de nossos corpos também dentro de um mercado que, tanto quanto a medida e a forma dos objetos em geral, também estabelece a forma dos corpos. Mas o corpo humano não pode ser pensado como uma coisa. Isto seria reduzi-lo a objeto que podemos manipular, trocar e vender: a conseqüência seria a legitimação da prostituição, da escravidão e até da tortura.

As obras de arte nos ajudam a recriar sentimentos

A padronização do gosto atual sobre nossos corpos é proporcional à desvalorização de nosso sentimento para o belo. É o próprio valor do belo e, antes dele, o valor do sentimento que ruiu em nossa sociedade. É claro que, diante disso, o corpo de cada um é esquecido por ele mesmo.

A desvalorização do sentimento do belo em favor de sua aplicação à mera qualidade das coisas que podem ser vendidas ou compradas mostra o declínio da subjetividade nos dias de hoje. As obras de arte ainda nos ensinam o gosto. Quem tem paciência para a contemplação ou coragem para o desafio que elas implicam poderá descobrir a sutileza da experiência estética. A experiência com o olhar ou a audição, e também com a gustação, o olfato e o tato, podem nos ajudar a chegar mais perto das coisas e descobrir nelas a “beleza”, ou seja, aquilo que nelas nos toca e tem a chance de colocar poesia em nossa vida e nos salvar das meras mercadorias.


Marcia Tiburi


Publicado em Vida Simples em 2008.

Cirque du Soleil - Canadá

Propriedades da banana são estudadas como recurso de combate ao HIV


Um dos componentes químicos da banana é tão eficaz quanto duas drogas anti-HIV desenvolvidas em laboratórios

Banana, meninos, têm vitamina, engorda e faz crescer, como diria uma antiga musiquinha e agora pode se tornar uma das maiores aliadas da ciência e saúde pública na prevenção da transmissão do vírus HIV. A novidade veio dos Estados Unidos, onde um estudo realizado na Universidade de Michigan mostrou que um dos componentes químicos da banana, a lectina BanLec, é tão eficaz quanto duas drogas anti-HIV desenvolvidas em laboratórios.

Lectinas são proteínas encontradas em alguns vegetais que têm a capacidade de serem ligadoras de carboidratos ou glicoconjugados. Já faz algum tempo que a ciência tem estado de olho nessa proteína, pois ela tem a capacidade de parar reações em cadeia de alguns processos infecciosos causados por vírus. No caso da BanLec, ela consegue se ligar ao açúcar encontrado em alguns pontos do corpo do vírus HIV e barrar sua ação no organismo. Mesmo as drogas mais potentes não conseguem superar o fato do vírus ser mutante, mas com a lectina são necessárias inúmeras mutações para que o vírus consiga se livrar dela.

A equipe estuda maneiras para alterar o BanLec e aumentar sua eficiência, mas adianta que já é possível uma aplicação da substância em cremes e pomadas, vaginais e anais, reforçando a proteção na hora do sexo. Os pesquisadores afirmam que a extração da proteína da banana é muito mais barata que a produção de componentes sintéticos e já preveem que poderá salvar milhões de vidas. Até mesmo uma análise mais conservadora mostrou que se o grau de eficácia fosse e apenas 60%, a BanLec salvaria 2,5 milhões de pessoas em três anos.

O Brasil possui hoje cerca de cerca de 600 mil de pessoas infectadas com o HIV e seu esquema de prevenção e conscientização das pessoas em torno da epidemia já ganhou elogios da Organização Mundial da Saúde. Apesar da camisinha ser até agora o melhor método para não se contrair o vírus, a má colocação ou mau uso pode diminuir sua eficácia. A adição de um creme barato, a base de banana, na equação é seguramente garantia adicional de tranqüilidade para um sexo saudável.



Claudio R. S. Pucci
Redação Terra

Detalhes de escultura renascentista

Detalhes de escultura de Michelangelo. Impressionante como alguém pode retratar minuciosamente até as veias em uma pedra.

A pedido: Espelhos (Beto Mi)

domingo, 28 de março de 2010

Sabores do sertão - Goiabada cascão e queijo de coalho







Andanças - Beth Carvalho

Filme brasileiro 'Viajo porque preciso...' vence Festival de Toulouse


Evento é vitrine do cinema latino-americano na França.

O "road movie" brasileiro ambientado no sertão nordestino recebeu neste sábado (27) o Grande Prêmio Coup de Coeur do Festival Encontros de Cinema da América Latina de Toulouse (19-29 de março). O Festival de Toulouse foi aberto com "Estômago", de Marcos Jorge, e terminou com o vencedor do Oscar 2010 de Melhor Filme em Língua Estrangeira "O segredo de seus olhos", do argentino Juan José Campanella.

Cerca de 200 filmes foram apresentados durante o evento, que em 22 anos de existência se tornou a mais importante vitrine do cinema latino-americano na França, e talvez na Europa.

Durante o festival foram apresentados projetos para tentar ajudar cineastas e artistas do Chile e do Haiti, países recentemente atingidos por violentos terremotos.


Da France Presse

Se agrava o estado de saúde do violinista do afroreggae

É preocupante o estado de saúde do jovem Diego Frazão Torquato, de 12 anos de idade, que se encontra internado no Hospital de Saracuruna acometido de infecção generalizada. O estudante Diego é violinista do Afroreggae.

Semana passada Diego se submeteu a uma cirurgia de apendicite em outra unidade de saúde e, em razão de complicações, foi transferido para o Saracuruna, onde chegou com dificuldades para respirar. Ele está internado numa unidade de tratamento pós-operatório.

O ano passado, em outubro,Diego emocionou a todos ao chorar enquanto tocava violino no sepultamento de Evandro João da Silva, coordenador do Afroreggae e que foi assassinado no Centro do Rio.


Fonte:
Blog do Ricardo Noblat
Foto: Marcos Tristão, de O Globo

sábado, 27 de março de 2010

Kid Abelha

Homem tenta entregar carta de amor perdida há 76 anos


Mike Trogdon encontrou envelope nos Estados Unidos.

Destinatário morreu dois meses antes da descoberta da mensagem.

Uma misteriosa carta de amor enviada em 1934 foi encontrada em Durham, na Carolina do Norte (EUA), 76 anos depois de ser postada no correio de Salem, na Virgínia (EUA). Intacta, a mensagem destinada a Margaret Davey foi achada pelo diretor de operações da Universidade de Duke. Mike Trogdon ficou intrigado e foi à caça do destinatário.

Dentro do envelope havia um cartão desenhado com corações, uma girafa e a mensagem: "na corrida pelo meu amor, você ganhou por um pescoço longo. Então seja meu querido". Ao final, a remetente se identificava como Joyce.

Ao pesquisar nos arquivos da universidade, Trogdon descobriu que Margaret Davey se formou em enfermaria no ano de 1935 e se casou com um soldado da Segunda Guerra Mundial.

Quando o diretor foi até a casa de Margaret, foi informado de que ela morreu em janeiro deste ano, aos 96 anos.

Ao mostrar a mensagem para os filhos da enfermeira, outra revelação: a remetente estava viva e era uma sobrinha distante de Margaret.

Joyce está com 82 anos e se emocionou ao rever sua declaração de amor para a tia. "Ela era a minha preferida", disse a senhora.



Do G1, em São Paulo

Crime e Castigo: O soco racional, Dostoiévski

- Eu não me inclinei diante de ti, eu me inclinei diante de todo o sofrimento humano – pronunciou ele de modo meio estranho e afastou-se para a janela – ouve – acrescentou, voltando a ela um minuto depois – há pouco eu disse a um ofensor que ele não valia um dedo mínimo teu… e que hoje tinha prestado a honra à minha irmã sentando-a ao teu lado.

- Ah o que o senhor disse a ele! E na presença dela? – exclamou Sonia assutada – Sentar-se comigo! Uma honra! Mas acontece que eu… sou uma… desonrada… sou uma grande, uma grande pecadora! Ah, o que o senhor disse!

- Não foi pela desonra nem pelo pecado que eu disse isso a teu respeito, mas pelo teu imenso sofrimento. E quanto a seres uma grande pecadora, isso é verdade – acrescentou ele quase em êxtase – contudo, mais que ser pecadora, tu te destruíste em vão e traíste a ti mesma. Pudera isso não ser um horror! Pudera não ser um horror tu viveres nessa lama, que tanto odeias, e sabendo ao mesmo tempo (basta apenas que abra os olhos) que com isso não esta ajudando ninguém nem salvando ninguém de coisa nenhuma! E me digas por fim – pronunciou quase em delírio – como combinas em ti tamanha ignomínia e tamanha baixeza com outros sentimentos opostos e sagrados? Porque seria mais justo, mil vezes mais justo e mais racional atirar-se de cabeça n’agua e dar cabo de si de uma vez!


DOSTOIÉVSKI, Fiodor. Crime e Castigo. BEZERRA, Paulo (Trad). São Paulo. Editora 34: 2001

Saudação e fé do nosso povo

Esta placa com a frase de saudação é muito comum no interior das casas do sertão, sobretudo, naquelas moradias mais humildes, do homem do campo, do homem de eterna fé nordestina.

Quem compra... (se) vende!

É comum ouvir nas ruas os cidadãos se lastimarem devido ao atual momento político pelo qual passa o país. Queixam-se de que os políticos (e o povo generaliza) nada fazem para a melhoria da vida da população e que só agem em proveito próprio, de sua família ou de seu grupo político. Aprendi desde cedo um ditado popular, no qual se diz que a voz do povo é a voz de Deus(vox populi, vox dei) e, nesse caso, o povo tem razão, mas perde esta razão quando descobre que participa, com seu voto, para esse estado de coisas.

Ora, o poder político só se exerce no país através do voto. Essa é a democracia representativa, na qual se elegem representantes do povo, pelo povo e para(administrar) o povo. Não é por acaso que nossa Constituição Federal proclama que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos...”(CF/88, art. 1º. parágrafo único). Sendo assim, ninguém se elege por si, mas pelos votos da população. Há, portanto, responsabilidade do eleitor em cada ato de seu representante. O candidato eleito deve agir, munido da procuração recebida do povo que o elegeu e agir de acordo com os interesses e necessidades desse povo. Quando foge desse compromisso, ou mesmo quando revela que nunca existiu esse compromisso, passa a cumprir um mandado pessoal, familiar ou de grupos. Passando a valer a luta por cargos comissionados em troca de apoio parlamentar contrário ao aumento do salário mínimo, a não criação de CPIs, entre outras maldades com o povo.
Geralmente, o candidato que assim procede é aquele que não apresentou ao povo em que consistiria sua atuação parlamentar ou administrativa; é aquele que não têm compromissos em representar o povo, mas sim seus interesses particulares; é aquele que, como costumamos dizer, “compra a campanha”, e a partir daí se acha dono do mandato e vira as costas para o povo.

Quem compra, vende. Essa é uma prática do mercado, seja ele de qual ramo for. Sendo assim, aquele candidato que se propõe a fazer sua campanha comprando votos com dinheiro, cestas básicas, pneus de bicicleta, ofertas de emprego e tudo mais, já demonstra que quer comprar um mandato e, quando eleito, irá com certeza se vender.
Infelizmente, essa não é uma previsão, mas uma constatação. Prova disso são os vários escândalos de corrupção envolvendo parlamentares, prefeitos, e gestores públicos. Não são todos os políticos que se deixam se manchar, é verdade.Mas, há denúncia de má atuação pública envolvendo uma grande maioria de homens públicos.

Fica também o recado para aqueles eleitores que se aproveitam do momento eleitoral, em que os candidatos precisam de votos, e passam a exigir dinheiro, bens materiais e até emprego público em troca do seu voto. Para esses, é preciso deixar claro que só existe corruptores (que são aqueles que corrompem) existindo corrompidos (quem aceita vantagem da corrupção). Esse eleitor precisa entender que é durante a atuação do eleito, ou seja, nos quatro anos de mandato, que o candidato tem de demonstrar sua boa vontade de melhorar a educação, a saúde e a segurança pública do país.

O que se deve exigir do candidato é o compromisso de quando eleito representar, com ética, honestidade e boa vontade, o povo que o elegeu, procurando melhorar salários, criar empregos, distribuir riquezas, fazer a reforma agrária, combater a corrupção, o nepotismo e melhorar a saúde e a educação.

Quando os candidatos se depararem com exigências desse nível em campanha e forem cobrados após as eleições, aí sim teremos esperança de um Brasil melhor.

O povo é o dono do poder, mas é preciso saber exercer esse poder, e o primeiro passo para isso se faz através do voto consciente, em pessoas honestas, que não estejam envolvidas em atos de corrupção, e que sejam compromissadas com as lutas operárias.

Na hora de escolher seus representantes, pensem nisso. Quem compra votos, venderá, com certeza seu mandato e se entregará ao mundo da corrupção, procurando, lógico, reaver o dinheiro que gastou na campanha feita a custa de dinheiro.

Lembre-se também que esse dinheiro vem do próprio povo, pois é dinheiro público, desviado de licitações fraudulentas e por via de emenda ao orçamento que, no papel é para beneficiar o povo, mas que nunca chega para melhorar a educação do seu filho, a saúde da sua família e a segurança do seu bairro.

Não esqueça eleitor, votar em quem compra seu voto é a certeza de atolar o país na lama da corrupção. É isso que você quer? Você decide. Aliás, você vota. Vote consciente.


Edivan Rodrigues Alexandre
Juiz de Direito
Titular da 4ª. Vara de Cajazeiras-PB
e-mail: edivan.rodrigues@tj.pb.gov.br
edvanparis@uol.com.br

A idade do Lobo (dos 40 aos 50 anos)

Após os 40 anos de idade, o homem passa a caminhar pelo desconhecido mundo da meia-idade. É a maior transição enfrentada por ele. Para alguns é o deslocamento de águas plácidas e serenas, para um oceano revolto e agitado. A travessia torna-se turbulenta e difícil.

É quando o homem avalia seus sonhos, alvos e projetos e fica satisfeito ou frustrado; é quando ele passa a questionar tudo, inclusive a vida. Muitos dizem que na faixa dos 40 anos, os homens transformaram-se em "lobos vorazes", saindo à caça de presas, de amores antigos, que satisfaçam sua auto-afirmação masculina e cobiça. Mas a busca extraconjugal não passa de uma simples aspirina, um alívio temporário a conflitos emocionais mais sérios. Alguém descreveu a crise da meia-idade do homem como a época em que este se depara com quatro inimigos: o corpo (o passar dos anos começa a pesar), o trabalho (está realizado em relação a ele ou não?), a família (as muitas e diversas pressões que ela lhe impõe), Deus (ele é o culpado de todos os seus problemas). Enfim, quando ele reavalia seu valor pessoal, quando há alvos e sonhos não alcançados; quando a rotina e a monotonia massacram, a aventura ou uma nova forma de realização estão do outro lado da porta de sua casa, convidando-o. Quando a esposa e os filhos já não dependem tanto dele; quando ele inicia uma batalha para que sua aparência física ainda desperte admiração e desejo do sexo oposto; quando "cai a ficha" de que ele não viverá para sempre - o chão lhe foge dos pés e o homem entra em crise.

Como sobreviver à crise da meia-idade? Algumas dicas práticas seriam: reconhecer as mudanças; cuidar da auto-estima e identidade pessoais; incorporar as mudanças que o enriquecerão positivamente; estar aberto a transformações e possibilidades futuras; construir uma identidade adequada ampliando e diversificando papéis significativos em outras áreas de sua vida e expressar seus sentimentos. O homem precisa saber que não está sozinho em suas lutas. A expressão dos sentimentos equivale a uma declaração de que se é realmente um ser humano integral. Por mais que se enfatize, nunca será exagerado salientar a importância da amizade fiel, confiável. É muito importante e mais ameno percorrer os altos e baixos da crise da meia-idade na companhia de pessoas de confiança.

A esposa, os filhos e as pessoas que amam verdadeiramente este homem de meia-idade, terão que ter sabedoria suficiente para ajudá-lo a vencer esta difícil etapa de sua vida. A falta de compreensão, a crítica constante, a falta de carinho e dedicação serão como uma fórmula para perdê-lo.

"A sabedoria do homem prudente é discernir o caminho, mas a insensatez dos tolos é enganosa" (Provérbios 14:8)


Roberto de Albuquerque Cezar

*Adaptação de texto de autoria de
Jaime Kemp

Viver não dói


Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.
Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.

Sofremos não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!

A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade..

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.


(Carlos Drummond de Andrade)

Michel Foucault e a invenção do homem

Michel Foucault agia como um luminoso ator do pensamento. Titular da cátedra do Collège de France de 1971 até o ano de sua morte (1984), encarnava um ritual cênico: acendia uma luminária, afastava os gravadores e começava a falar com a coerência de quem escreve. Vivia a sala de aula como palco de ebulição e idéias, apresentando em primeira mão as novidades de sua pesquisa. Nas vinte e seis horas anuais de curso, criava em público, assim como fizera Jean Hippolyte que o antecedera. Essas aulas de Foucault tornaram-se míticas. Conta-se que mais de quinhentas pessoas disputavam espaço em um anfiteatro de trezentos lugares para assistir a verdadeira performance de gênio. O que chamava atenção no teatro-Foucault era a precisão na exposição de uma vasta e corajosa investigação em curto espaço de tempo. O tamanho do gênio estava à mostra ao fazer da rotina de aulas o momento magno que anunciava a mudança dos rumos do pensamento do século XX e do século que vemos nascer.

Foucault foi um dos maiores filósofos do século XX. A grandiosidade de seu pensamento revela-se na ordem estritamente teórica de seu pensamento ao momento pragmático estabelecido nas ressonâncias de sua teoria. Este último se vê no fato a cada dia ainda experimentado por professores, alunos e estudiosos em contato com sua obra, da reunião que conseguiu estabelecer entre as diversas ciências. As ciências humanas, cuja concepção ele ajudou a forjar, tornam-se resultado dos saberes entrelaçados no tempo e dos modos como armam-se em estruturas de poder. A interrelação entre saber e poder permitirá conhecer a chamada “invenção do homem”, uma das idéias críticas do pensador que cavava nos documentos e livros mais inabituais da história a sua verdade recôndita ou mesmo oculta.

História dos Sistemas de Pensamento fora o nome sintético que aglomerou a preocupação em estabelecer pela descoberta o processo de fundação do saber ocidental. No famoso livro As Palavras e as Coisas, Foucault declarou radicalmente essa intenção de analisar o que ele chamou a “experiência nua da ordem”. Essa experiência fará a diferença entre o uso dos códigos ordenadores dentro dos quais vivemos e as reflexões sobre a ordem realizada por teóricos e que estabelecerá o projeto de uma “arqueologia do saber”, diferente de uma história das idéias ou das ciências. O projeto arqueológico – o período de trabalho de Foucault entre 1961 e 1969 – baseou-se na alteração da noção de história para além da noção de progresso rumo ao futuro ou ao passado, procurando o contexto e a fonte onde as condições de possibilidade das teorias e conhecimentos, filosofias e racionalidades, idéias e conceitos deixavam-se desenhar fundando uma noção do “homem” – como objeto e como sujeito - que marca até hoje a história e a investigação científica. Foucault pesquisava a falta, o desvio, o desconhecido procurando entender as tramas invisíveis e os silêncios da história.

A arqueologia foucaultiana propõe um método no mais adequado sentido do termo, um modo de olhar que altera a todo momento seus princípios e que, por isso, não pode valer como medida de toda a história que se impõe como busca pelo saber de qualquer objeto. A arqueologia ensina ainda hoje a olhar cada objeto respeitando a sua verdade e construindo um discurso a partir da observação. O discurso da arqueologia vem do objeto, não é o objeto que vem do discurso, sendo construído por ele. A História da Loucura, talvez o livro mais conhecido de Foucault, inaugura essa fase arqueológica – conclusa em A Arqueologia do Saber de 1969 - como experiência do pensamento do próprio Foucault, no qual a atenção ao objeto da investigação faz falar o método. O método é a exposição do olhar que se esforça por deixar de ser olhar para atingir a coisa com a palavra disponível. A filosofia de Foucault será próxima da literatura enquanto procura do silêncio contido nas palavras e na linguagem.

A História da Loucura não é apenas uma história da psiquiatria ou de seu surgimento, mas uma investigação sobre o enclausuramento do louco, a sua reclusão em um espaço manicomial, para realizar, paradoxalmente, sua exclusão. A intenção do livro é mais que explicar uma história cronológica ou progressiva da loucura, entender a relação entre a modernidade e a loucura que continuará sendo desenvolvida no livro O Nascimento da Clínica. O que Foucault irá descobrir é que a doença mental tem menos de duzentos anos e que o louco foi patologizado pela psiquiatria apenas a partir do século XVIII, ou seja, medido a partir de uma ordem da razão da qual essa ciência recente fazia parte. A partir de A História da Loucura, tornou-se possível compreender o processo de inclusão concomitante à exclusão do louco, sua inscrição como objeto do poder da razão que separa e exclui de si o que a nega, instaurando um “outro” num gesto historicamente repetitivo que precisava ser avaliado. A História da Loucura era – pelo avesso - a história da razão, esta a medida que instaurara, já na época da Renascença, o valor real e prático de uma questão anteriormente apenas simbólica: a nau dos insensatos, narrativa das mais curiosas com a qual Foucault começa seu livro e que explica como loucos eram escorraçados de suas cidades indo parar em outras plagas até que o manicômio veio a fixar-lhe a âncora. Estes e outros temas entram na análise da produção da loucura que passa de viagem andarilha à doença mental e anormalidade a ser execrada. Este livro deixa uma brecha teórica que fundará o restante do pensamento foucaultiano.

A etapa arqueológica que investigava sobre o saber foi seguida pela genealogia - termo que Foucault empresa de Nietzsche. Se a primeira explicava “como” apareciam os saberes e suas transformações, a genealogia situava-se em torno do desvendamento do “porquê” sobre os saberes inseridos na ordem política, ou seja, pensando-os na conexão com as relações de poder. Livros como Vigiar e Punir de 1975 e a História da Sexualidade que tem seu primeiro volume A Vontade de Saber publicado em 1976, revelam esse novo tema. O poder passa a ser o eixo a partir do qual pode-se compreender o surgimento dos saberes. Poder não é uma essência ou uma unidade interpretativa da realidade, mas uma prática social que se constitui na história. Toda análise derivada de um objeto tão mutável quanto o poder deveria estar atenta à mutabilidade do próprio processo. Poder, para o filósofo, são práticas ou relações, não somente o Estado, este apenas um articulador do poder, ao lado das demais instituições. O poder se realiza na vida pragmática de uma sociedade e formula-se em técnicas de dominação. Nesse aspecto o corpo do indivíduo é o lugar especial onde o poder vai realizar-se. A história do saber ali define-se como “história dos corpos” e estes são analisados em sua submissão a uma “microfísica do poder”. Um poder exercido em escala social precisa ter sua realização concreta na produção e controle do indivíduo: ele será a disciplina exercida sobre esse indivíduo no controle de seus gestos, hábitos, comportamentos, discursos. Atomizado na sociedade e servindo, ao mesmo tempo, a um mecanismo magno que não tendia a expulsar os homens da vida social, mas antes administrar e ordenar seus cotidianos com objetivos políticos e econômicos, o poder é o nome da manipulação do corpo. O poder foi – e é - a disciplina aplicada aos corpos. Talvez toda disciplina seja sempre disciplina do corpo. Por isso, Foucault analisará o modo como seres humanos se relacionaram a seus corpos e, na História da Sexualidade, como esta foi o eixo de um poder disciplinar que produziu uma das mais curiosas reviravoltas nas concepções mais avançadas sobre sexo que talvez nem suspeitemos. Em vez de pensar o sexo segundo clichê da libertação e da revolução, na soberania da lei do sexo como produção da subjetividade livre, Foucault apresenta uma de suas idéias mais corajosas: como que um lado perverso do dispositivo social da sexualidade que nos faz crer que nela está a nossa liberação enquanto nos submete aos seus mecanismos. Nesse ponto, vemos ainda a atualidade da análise de Foucault num tempo em que pornografia e censura ainda comandam o destinos de nossa sociedade enquanto ocultam-se de nosso olhar. A teoria de Foucault, vinte anos após sua morte, causa-nos um espanto que será ainda maior quando pudermos perceber a enormidade do alcance de sua investigação como diagnóstico do que vivemos, do que somos, do que deixamos de ser, do modo como inventamos a nós mesmos.

Márcia Tiburi

Publicado no Caderno Cultura do Jornal Zero Hora de 12 de Junho de 2004. Página 8.

Marido traído ganha indenização de R$ 114 mil do amante da esposa

Amante era considerado um dos melhores amigos do queixoso.

Mulher também foi condenada a pagar R$ 5 mil por traição.

Um autônomo que vive de renda, morador da Zona Oeste do Rio, ganhou R$ 114 mil de indenização ao processar o amante de sua esposa, que era um dos melhores amigos do traído. A condenação, em segunda instância, é da 12ª Câmera Cível do Tribunal de Justiça do Rio e não cabe mais recurso.

“A traição, no caso dupla (da esposa e do ex-amigo) gera angústia, dor e sofrimento, sentimentos que abalam a pessoa traída, sendo perfeitamente cabível o recurso ao Poder Judiciário"

Segundo o processo, após 20 anos de casamento, o marido passou a desconfiar da proximidade de sua mulher com o amigo, que costumava freqüentar a residência do casal.

Ele conseguiu então flagrar os dois saindo do motel, o que confirmou a suspeita de o amigo e a esposa mantinham uma relação amorosa.

No processo, que teve início em 2004, o amante confirmou que foi ao motel com a esposa do amigo, mas negou que tenha acontecido qualquer tipo de relação sexual.

Violação dos deveres do casamento

O desembargador Werson Rego, relator do caso, diz, na sentença, que houve por parte do amigo e da esposa violação dos deveres do casamento, infidelidade conjugal e dano moral.

“A traição, no caso dupla (da esposa e do ex-amigo) gera angústia, dor e sofrimento, sentimentos que abalam a pessoa traída, sendo perfeitamente cabível o recurso ao Poder Judiciário, assegurando ao cônjuge e amigo lesado o direito à reparação ao dano sofrido”, assinalou o desembargador.

Esposa também vai pagar por traição

De acordo com o advogado do marido traído, Vitor César Lourenço Ferreira, a ex-esposa de seu cliente também foi condenada a pagar uma indenização de R$ 5 mil por danos morais ao ex-marido. Nesse caso, a sentença foi expedida há dois anos.

“A meu ver, essas decisões visam proteger a família, já que ninguém é obrigado a ficar casado”, disse o advogado.

Na época do ocorrido, o valor de indenização foi fixado em R$ 50 mil, mas, após seis anos, o valor foi corrigido e chegou a R$ 114 mil.


G1
Tássia Thum

Toada - Boca Livre e 14 Bis

Sábado, hoje é dia de feira!


"Entre Aspas"

"Esse circo precisava de um palhaço. Eu queria chamar a atenção. Tudo isso aqui é um exagero."


Rodolfo Goveia Lima
Profissional de telemarketing que jogou água na cabeça durante a cobertura da globo do julgamento dos Nadoni.

sexta-feira, 26 de março de 2010


Hoje tentei escrever-te uma carta.
Um bilhete, ao menos.
Pus-me a escrivania
E desfolhei um maço de poucas palavras.
Poucas, como são as do coração!
Uma a uma caíram três: uma, duas, três.
Amor na terceira linha,
Saudade na linha de trás.
A outra fugiu com o tempo,
O resto, foram linhas em branco,
Desenhos inacabados, reticências,
Uma lágrima e um ponto final.


Teófilo Júnior

Vento no litoral - Renato Russo


Uma das minhas canções preferidas!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Frisson - Roupa Nova

Verdades e mitos sobre bateria de celular


Todos nós já escutamos que a bateria “dura” mais caso seja carregada apenas quando estiver completamente zerada, certo? Essa afirmação é herança do tempo das baterias de níquel cádmio, comum nos terminais mais antigos. Os dispositivos atuais, feitos com níquel-metal-hidreto ou íons de lítio, estão livres desse problema.

As cargas das baterias feitas com o composto níquel-cádmio não se misturam. Por isso, se ela não estiver totalmente sem energia, o carregador identificará que a carga total necessária é menor do que realmente precisaria para completá-la.

Para ficar mais claro, imagine um aquário com capacidade total para 10 litros de água. Quando ele estiver com oito litros, encha-o com os outros dois. Analogicamente, se essa situação fosse para uma bateria de tecnologia antiga, o carregador “entenderia” que a carga total seriam os dois litros e passaria a completar para sempre com essa quantidade, deixando de lado os outros oito possíveis. Isso é o chamado efeito memória. A bateria fica viciada em um determinado patamar e, mesmo que esteja zerada, não consegue enviar uma carga completa.

Quando o assunto é bateria, a maioria dos usuários ainda carrega na memória mitos e fatos relacionados aos primórdios da telefonia celular no País - os nada saudosos tempos dos tijolões que custavam os olhos da cara. Dessa época vêm hábitos como o de deixar pendurado o celular novo na tomada por quase um dia, para dar a tal carga inicial, ou então esperar ele se esgotar completamente antes de uma recarga. Veja as dúvidas (e as respostas) mais comuns sobre o tema.

Preciso dar uma carga de quase um dia na minha bateria nova?
Não mais. As baterias antigas, feitas de níquel cádmio (NiCd) ou níquel-metal-hidreto (NiMH) precisavam desse processo, chamado de "condicionametno". As atuais, de íons de lítio (Li-Ion) já podem ser usadas normalmente desde a compra.

Como sei que bateria meu celular usa?
Basta abrir seu telefone e olhar a bateria. Deve haver uma etiqueta que informa a sua composição e voltagem, além de outras informações como país de origem e modelo.

O que é o efeito-memória?
Com o uso constante, as baterias de níquel cádmio e níquel-metal-hidreto tendem a registrar como carga total apenas a diferença entre os 100% e o ponto inicial da recarga. Assim, se elas fossem recarregadas com 30% de energia últi sobrando, iam entender que nas vezes seguintes seria necessário colocar somente 70% do restante, mesmo que estivessem esgotadas completamente. Essa perda da capacidade é o chamado efeito-memória. Ele não existe nos dispositivos de íons de litio.

Então posso recarregar meu celular constantemente?
Sim. Atualmente, não é mais preciso esperar acabar toda a carga para ligar o aparelho em alguma fonte de energia.

Que recursos gastam mais a bateria?
Sem dúvida, jogar e ouvir música no aparelho. Essas atividades consomem muito mais energia do que falar. Celulares com visores altamente coloridos (262 mil cores ou mais) também esgotam-se mais rapidamente.

É perigoso deixar o celular um dia inteiro na tomada?
Não. Os carregadores originais (de fábrica) possuem sistemas de proteção que cortam a corrente quando a carga está completa, protegendo o aparelho. Se o telefone estiver ligado, o carregador irá abastecê-lo quando necessário.

É seguro usar carregadores "genéricos"?
Não. Segundo os fabricantes, muitos carregadores vendidos em camelôs ou nos faróis, por exemplo, não possuem mecanismos de segurança para controlar a faixa de voltagem adequada para cada tipo de bateria, podendo causar sobreaquecimento ou danificando-a.

Existem carregadores mais rápidos do que os normais? Eles são seguros?
Sim. As fabricantes vendem carregadores capazes de enviar mais energia em menos tempo para uma bateria, mas eles custam mais caro devido a essa tecnologia. Celulares de ponta vêm com esse tipo de acessório.

É verdade que baterias explodem?
A explosão em si acontece quando as substâncias químicas dentro da bateria entram em contato com o ar depois que o curto derreteu o exterior do equipamento. A chance de acontecer uma explosão é maior no caso de baterias falsas. Muitas delas são construídas até mesmo com pilhas comuns coladas entre si. Essas pilhas não são feitas para serem recarregadas e apresentam sério risco caso isso seja tentado.

Como sei se minha bateria está funcionando direito?
Se você desconfia que a energia do aparelho dura menos do que deveria, leve-o a uma assistência técnica autorizada do fabricante e pela para testar a bateria em aparelhos especializados.

Posso jogar minha bateria no lixo depois que ela acabar?
Não. Mesmo as baterias atuais contaminam o ambiente com seus elementos químicos. Leve sua bateria usada para um posto de venda de qualquer fabricante ou operadora celular, onde ela será encaminhada para armazenamento seguro. Essas baterias não são recicláveis nem se degradam na natureza.



Fonte: Revista Conect

Roupa Nova - Lembranças

Lembranças, gravado nos estúdios dos Beatles em Londes.

Professores não estão preparados para tratar de cidadania

Mais da metade dos professores - 59% - não se sente apta a trabalhar com educação sexual em suas turmas. E 53% avaliam que também não têm condições de falar sobre drogas com seus alunos. Os dados, apresentados pela pedagoga Tânia Zagury no 1º Encontro Internacional Pátio-ISME de Educação para a Cidadania, realizado na cidade de São Paulo, foram obtidos junto a dois mil professores dos ensinos fundamental e médio de todo o Brasil.

Diante desta realidade, Zagury avalia que é complicado cobrar de um professor resultados, se a maioria nem domina assuntos que surgiram em uma discussão em sala de aula. "Como exigir competências se não damos condições aos professores?", questiona.

Para a pedagoga, o despreparo dos educadores é resultado de um processo histórico que envolve diversos aspectos da sociedade. "Família e direção cobrando resultados, são dois dos elementos. Mas o principal é o professor ficar refém de um sistema educacional que muda sucessivamente, que delega mais tarefas do que ele tem tempo de fazer", explica.

Para Zagury, um dos exemplos da interferência maléfica das políticas educacionais é a progressão continuada. Na mesma pesquisa, a estudiosa identificou que 66% dos professores concordam que o método só poderia ser aplicado se o aluno tivesse alguma garantia de um ensino de qualidade. "Implantaram o sistema sem pedir a opinião daqueles que estão na frente de batalha. Assim, o professor enxerga-se apenas como executor de decisões de políticas partidárias", disse.

Mesmo assim, a pedagoga é otimista e acredita na ação dos professores como peça fundamental para a mudança. "Perguntados sobre a motivação para tratar de sexo e drogas, 67% e 76%, respectivamente, disseram que estavam com vontade de abordar os temas".

Sem discordar da difícil situação encontrada pelos professores, a diretora da Escola Brasileira de Professores (Ebrap), Guiomar de Mello, colocou que cidadania não se ensina diretamente e que basta os educadores exercerem sua função para que os estudantes formem-se como cidadãos. "Se o conhecimento do currículo for aproveitado pelos alunos como algo significativo para as suas ações no mundo, o professor já estará fazendo a sua parte", diz.

A partir dessa idéia, Mello coloca que a biologia pode influenciar os jovens nas decisões sobre os seus corpos, a história pode influenciar nos ideais políticos, assim por diante. "Com os conhecimentos contextualizados, os nossos alunos poderão agir mais ativamente e conscientemente na sociedade. O que é o esperado de um cidadão", acredita.


Alan Meguerditchian

Fonte: Uol

Curiosidade: Pontuação.

Sentindo a proximidade da morte, uma milionária dona de uma grande multinacional pediu papel e caneta e escreveu de maneira sucinta o seu testamento:

- Deixo os meus bens à minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do alfaiate nada aos pobres.

Tomada de mal repentino, não teve tempo de executar a pontuação no texto que acabara de escrever – e morreu. A quem ela deixava a fortuna que tinha? Eram quatro os concorrentes.

Chegou o sobrinho e fez estas pontuações numa cópia do testamento:

- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do alfaiate! Nada aos pobres!

A irmã do falecida chegou, com outra cópia do texto do testamento, e pontuou-o nestes termos:

- Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho! Jamais será paga a conta do alfaiate! Nada aos pobres!

Surgiu então o alfaiate que, pedindo a cópia do testamento original, fez estas pontuações:

- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate. Nada aos pobres!

E o litígio estava formado, quem herdaria? O juiz estudava o caso, quando chegaram os pobres da cidade. Um deles, mais sabido, tomando outra cópia do testamento, pontuou-o assim:

- Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do alfaiate? Nada! Aos pobres!



Moral da história: Clareza é tudo.

Bush limpa a mão em Clinton após cumprimentar haitiano

Gafe foi flagrada no Haiti

Fonte e créditos para o portal G1

Se eu Fosse um Padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!


Mário Quintana

A pedido: Linda juventude - 14 Bis

quarta-feira, 24 de março de 2010

Trecho de "Os Sertões" - Euclides da Cunha

"Espécie de grande homem pelo avesso, Antônio Conselheiro reunia no misticismo doentio todos os erros e superstições que formam o coeficiente doentio da nossa nacionalidade. Arrastava o povo sertanejo não porque dominasse, mas porque o dominavam as aberrações daquele. Favorecia-o o meio e ele realizava, às vezes, como vimos, o absurdo de ser útil" (p. 132).

Seca preocupa agricultores na Paraíba

Agricultores da Paraíba se preocupam com os longos períodos de seca e as chuvas irregulares. Em algumas propriedades, as sementes nem chegaram a germinar.

Os açudes e pastos estão secos e muitas plantações foram perdidas. Em Sousa, as chuvas dos meses de janeiro e fevereiro não foram o bastante para garantir as plantações. Em março, ainda não choveu.

A falta de chuva não permitiu que o milho se desenvolvesse na propriedade de João Estrela. Ele aproveitou a plantação para alimentar o gado. “Plantei uma vez e nasceu metade. Depois, voltei a plantar. Agora, é botar o gado para comer a pastagem seca”, disse o agricultor.

O agricultor Francisco Estrela investiu todo o dinheiro nos 15 hectares de plantação de milho e feijão. Mas eles nem foram molhados pela água da chuva. “Já está com um mês de plantado e não chegou nem a nascer”, contou.

O agricultor Everaldo Lopes Melo teve de vender duas das 11 cabeças de gado que tem para não perder a criação.

Já no sul do Ceará, a chuva voltou, enchendo de esperança os agricultores. Muitos deles já começaram a replantar as lavouras. “Nós estamos recomendando aos agricultores que façam novos plantios. Se a chuva for distribuída até maio, os produtores colherão uma boa safra”, avaliou Sérgio Linhares, gerente da Ematerce, a empresa de assistência técnica.


G1

Sobre ser feliz e suas receitas

Você costuma usar receitas para cozinhar? Talvez você já tenha usado e descoberto que não basta seguir o que está escrito. Há algum mistério na execução do que vemos nas revistas e jornais, pois nem todas as pessoas interpretam do mesmo modo as indicações. A compreensão é o que prejudica a execução da tarefa. Os chefs incorporam as receitas ou as criam como um cientista cria seu método de pesquisa ou um artista cria seu estilo.

O que ocorre entre a receita e sua realização é um conflito entre teoria e prática. Decepcionar-se é fácil e perder tempo também quando não conhecemos o método e o significado dos ingredientes. Mas toda frustração, mesmo com um guia para fazer bolo, tem seu ensinamento.

Sobretudo quando se trata de uma receita para ser feliz. Ser feliz seria como realizar a receita sem falhas. Todas as sociedades em todos os tempos apostaram na possibilidade de uma imagem da felicidade com legenda, na qual o que é ser feliz estivesse bem explicadinho. Pingos nos is da felicidade como confeitos em um bolo é tudo o que queríamos da vida. Que a felicidade viesse num pacote e, lá de dentro, não precisássemos nem acionar um botão, nem ligar o fogão.

Ser feliz poderia parecer ou ser fácil. No senso comum, o território das nossas crenças mais imediatas, do que é partilhado por todos em ações e falas, ser feliz é uma promessa sempre revalidada. Guimarães Rosa, o lúcido escritor de Grande Sertão: Veredas, dizia, ao contrário, que “viver é muito perigoso”. Aristóteles, que também defendia a felicidade, foi autor da bela frase: “o ser se diz de diversos modos” que podemos interpretar como “a vida pode ser vivida de diversas maneiras.” A felicidade não tem um único rosto.

Immanuel Kant no século das Luzes dizia que só podemos almejar a felicidade, nos tornarmos dignos dela, mas não podemos possuí-la. Com isso ele colocava a felicidade no lugar dos ideais que só podemos imaginar e supor, esperar que nos orientem, mas jamais realizar. Uma receita para ser feliz seria, desta perspectiva, um absurdo.
Se a pergunta pela felicidade, com a complexa resposta que ela exige, já não serve por seus tons abstratos, podemos ficar com a questão bem mais prática do bem viver. Da vida nada parece mais fácil do que simplesmente vivê-la: contemplar o que há, amar quem vive perto de nós, alegrar-se com as conquistas, aceitar as frustrações inevitáveis, lutar pelo próprio desejo, transformar o que nos desagrada buscando o melhor modo possível de pensar e agir. O modo mais ético e mais justo de se viver é o que todos, em princípio, queremos. Um desejo básico que nos une e que, ao ser construído, carrega a promessa paradisíaca da felicidade comum, do bem estar geral. Se procurarmos conselhos e fórmulas para o bem viver não será difícil fazer uma lista de tons e cores que podemos imprimir aos nossos gestos e atos. E ainda que o receituário seja impreciso, é válido.

O meio tom entre inteligência e emoção, entre razão e sensibilidade é a mais inexata das promessas e a mais complexa das conquistas que um ser humano pode almejar para si mesmo. Vale também como uma receita, a receita de um manjar desconhecido. Ela só existe porque podemos fazer do melhor modo possível, usando-a como inspiração. Cada um só precisa saber que cada manjar é diferente do outro. Cada um tem que aprender a realizar, com método próprio, sua própria alquimia. Somos seres gregários, sua receita servirá de inspiração a outros.


Marcia Tiburi

Publicado originalmente na Revista BemStar. São Paulo: Editora Lua. Número 15, 2006. página 33.

Charge - Eramos6


Coisas do nosso tempo











Fagner e Zeca Baleiro - Flor da pele e Revelação

terça-feira, 23 de março de 2010

Segura peão!!!

Desconfio que meu filho Yan, diferentemente do pai, tenha uma "leve" inclinação para a arte da montaria. O torneio de Barretos-SP que aguarde, pode estar vindo ai um novo campeão de rodeios.

Entre Aspas

"Nada nos deixa tão solitários quanto nossos segredos"


Paul Tournier

Índia Mulata - Cândido Portinari - Pintura de 1934


Foto: Eliária Andrade / Agência O Globo

Versículos do dia

Então Balaão respondeu, e disse aos servos de Balaque: Ainda que Balaque me desse a sua casa cheia de prata e de ouro, eu não poderia ir além da ordem do SENHOR meu Deus, para fazer coisa pequena ou grande; (Números 22:18)

Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens. (Atos dos Apóstolos 5:29)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Sociedade dos poetas mortos - Oh comandante, meu comandante!

Cena clássica do filme "Sociedade dos Poetas Mortos"

Uma assertiva atual dita há 2064 anos atrás


Descontração: Responda rápido!

RESPONDA ANTES DE VER O RESULTADO...


Responda rápido:

Num galinheiro existiam 30 galinhas. Um negão levou 10 galinhas.
Quantas galinhas ficaram no galinheiro?

Veja o resultado abaixo:



Resultado:


Se você respondeu 20 galinhas - Você é racista
Se você respondeu 40 galinhas - Parabéns!!!
Pois, se tinha 30 e o negão levou mais 10, ficaram 40 galinhas.
Ninguém disse que o negão tinha roubado.....


*E-mail enviado por Franciclede Alves Sousa (Dólar), leitora do Blog

Das muitas coisas que eu não posso

Dizem que depois dos 40 a gente muda para a fase do "não posso", "quem sabe" ou "talvez".

Pois bem, acabo de me enquadrar no time dos que "não podem", embora desconfie que já fui escalado para o "quem sabe" e o "talvez" faz tempo!

É que hoje, de repente, resolvi visitar o médico endoscopista e por fim aquela queimação de estômago que me acompanha feito sombra há algum tempo. E não deu outra, após um breve interrogatório o médico receitou-me um menu de restrições alimentares nunca antes visto. Agora, "não posso" isso, "não posso" aquilo, aquilo outro faz mal, não como assim nem assado, não bebo cerveja, refrigerante, whisky, cachaça, fumar continuo não podendo (nunca fumei mesmo), comer, ou melhor, mastigar rápido então, nem pensar, nem um inofensivo chicletes!

Mas, diante de tantos condicionamentos, proibições e nãos, mastigar mais o que? Do que me apetece restou-me quase nada? Até mesmo o cafezinho que eu achava inofensivo virou inimigo declarado de meu estômago.

Decididamente estou fadado a debulhar o terço dos "não posso e dos faz mal". Logo eu que tanto gosto de café.

A propósito dessa quase preferência (e permissão) nacional pelo cafezinho, é de se dizer que o rei Gustavo III da Suécia que adorava a ciência com a mesma intensidade que odiava o café resolveu travar um embate velado contra a bebida. No fim do século 18 tentou provar que o café era um veneno (assim como o endoscopista está tentando fazer comigo, desconfio até que esse médico seja descendente direto do monarca sueco). E fez um teste: um preso tomaria uma botija de café todos os dias, enquanto outro beberia chá. Durante anos, a saúde de ambos foi monitorada pelo médico do monarca.

O resultado, porém, teria surpreendido o rei - isso se ele estivesse vivo para ver. Gustavo morreu em 1792. Meses depois morreu o médico. Mais alguns anos, e foi a vez do bebedor de chá. O que tomou café morreu só 12 anos depois.

- Ufa, ainda bem!

Teófilo Júnior

Coisas do sertão - Lamparinas de zinco, pavios de algodão e cachimbos expostos à venda em feira-livre


Somos diferentes

Pais e filhos idealizam o aconchego da semelhança, mas é preciso aprender que diferença não é desigualdade

Mães e filhas são sempre muito parecidas como peixes e seus filhotes: eu e minha filha, por exemplo. Só que ela é mais bonita e desenha melhor que eu. Talvez continuemos cada vez mais iguais, sobretudo se pensarmos nas nossas coincidências astrológicas e confiarmos na evolução dos mesmos gostos pelo desenho, pelos livros, por ficar em casa em plena vida contemplativa.

Porém, toda regra só é regra porque existem as exceções. O igual só é igual porque existe o diferente. E vice-versa. Sobre o futuro das semelhanças nunca é possível fazer muitas apostas. No caso dos pais de filhos pequenos, tem-se pela frente a adolescência - que modifica, em geral, toda a vida de uma pessoa. Este tempo trará a força das diferenças que devem ser elaboradas, sobretudo no que se refere ao comportamento, à moral, à sexualidade. O que ainda não conhecemos dos nossos filhos - a diferença - deverá ser o novo encanto do nosso encontro.

Não podemos sustentar que o futuro de nossos filhos seja a nossa continuação. O futuro que esperamos para eles precisa ter o nome da diferença entre o que somos e o que eles serão. A diferença sempre se elabora no tempo. As mães mais típicas esperam que a vida de suas filhas seja melhor: que sejam mais bonitas, tenham o sucesso, realização profissional, que estabeleçam relações matrimoniais mais justas, sejam felizes no amor, que possam escolher e decidir sobre seus destinos. Querem que as filhas sejam mais felizes. Mas devem saber que isso implica mudanças no modo de vida que conheceram. Que terão de aprender a olhar para outro mundo. Mas, no fundo, o que desejamos é ser iguais.

Ao contemplar imagens de famílias animais, muitas vezes temos a sensação de que com os humanos ocorre o mesmo mimestismo da natureza. Esse sentimento toca principalmente mães e crianças, pois é entre mães e seus filhos que o desejo de unidade é corpóreo e primitivo. A mãe, no seu sentido mais comum, é aquela que quer aconchegar. Por isso ela dá alimento, colo e carinho. A mãe é corpo. Ela é a primeira manifestação do mimetismo humano, o da proximidade sem a qual não nos tornamos pessoas capazes de uma vida boa e justa.

Temos a sensação muito agradável que uma girafa e a girafinha, a ursa e seu ursinho, a vaca e seu bezerro correspondem a um ideal humano. Lembremos o filme sobre o pingüim imperador, cuja abordagem humanizava os animais. Os pingüins não sabiam nada sobre "ser ou não ser" humanos, mas os humanos sentem um radical desejo de projetar na natureza seus sentimentos. O filme, na visão do diretor, mostrava como queríamos ser como os pingüins. Estes eram como familiares. O que ele esqueceu de dizer é que projetamos na natureza o desejo de continuarmos participando dela e que ela seja o nosso verdadeiro ideal. O nosso desejo de ser igual ao outro, à natureza, equivale a querer o colo da nossa mãe.

A capacidade de nos tornarmos iguais nos move. O segundo mimestismo humano é evidente na moda, ideais e princípios que compartilhamos. A democracia é o nome político do mimestismo. É uma vontade de proteção, mas também de mistura, que adquirimos no colo da mãe. Mas é preciso atingir o respeito à diferença e entender que ela não é desigualdade no sentido político dos direitos. Depois do colo, todo mundo aprende a andar sozinho. O colo vira uma lembrança que queremos atualizar com amigos e amores, mas também com a nossa profissão, nossos projetos. A gente acaba sempre em busca do paraíso perdido que era o colo da nossa mãe.


Marcia Tiburi