Pombal dá nome de rua a João Félix de França.

João Félix de França era meu avó, homem modesto, de fala mansa e veia poética pulsante. Trazia consigo sempre uma frase feita para uma pergunta que se detivesse na sua abrangência.

Lamento muito não ter tido, há época, o discernimento de beber um pouco mais de sua imensurável sabedoria popular. A imaturidade leva o homem a perder muito tempo com futilidades, infelizmente!

Após o seu falecimento, achei que devia grafar o seu nome em uma das ruas do velho Arraial de Piranhas e propus o projeto de lei (que abaixo transcrevo a justificativa)a Câmara Legislativa de nossa cidade. O projeto foi aprovado por unanimidade e hoje João Félix de França empresta o seu epíteto ao endereçamento de Pombal.

Eis a justificativa do projeto:

Excelentíssimo Senhor Presidente.
Senhores Vereadores.

É certo, senhores vereadores, que uma das atribuições primordiais desta casa legislativa é a criação de leis, e ciente de que a presente matéria é inteiramente de competência desta Câmara, e observando ainda que o projeto de lei deve passar pela análise dos constituídos desse Poder Legislativo Municipal, apresento o presente projeto de lei que dá o nome de JOÃO FÉLIX DE FRANÇA a um dos logradouros de nossa cidade, e o justifico:

O senhor João Félix de França, nasceu em 27 de março do ano de 1901, no sitio riachão, município de Paulista, e desde cedo, a exemplo de seus pais, passou a trabalhar na terra, fonte inesgotável de esperança e sobrevivência desse povo. Casou-se em 1927 com a Sra. Maria Minervina da Conceição, e desta saudosa união vieram os filhos Teófilo Félix de França (in memorian), Maria Minervina de França, Manoel Félix de França, Rita Minervina de França (in memorian), Amélia de França Freire, Firmino Félix de França, Firme Félix de França e Eulina França Cândido.

“Seu João Félix”, como era costumeiramente conhecido, trabalhou por muitos anos na agricultura, nos sitios “mimoso”, “carnaúba” e “Santa Maria”, introduzindo seus filhos também no trabalho rural. Mais tarde, por força das intempéries do tempo, onde a seca se sobrepõe a vontade dos homens fazendo-os retirantes, “Seu João” viu-se obrigado a largar o campo e o seu torrão vindo a fixar morada na vizinha cidade de Pombal passando a negociar no comércio de redes, couro e peles de animais. Semanalmente embrenhando-se por estes rincões ao lombo de uma montaria, comprando e vendendo, comercializando por estes sertões de meu Deus. Um mascate de esperanças e irreverência.

Em vida, o velho “João Félix” notabilizou-se não só pela sua honestidade e pelo trabalho, mas também pela maneira mansa e cortez com que tratava a todos, não lhe faltando o humor e a veia poética que encantava os que a ele recorriam com motes e “causos”. Herança, quem sabe, do primo Belarmino de França, renomado poeta repentista, de saudosa memória.

Assim viveu o justificado, sempre lembrado como homem de decisões fortes e de uma conduta moral ilibada, sinônimo de respeito e hombridade.

Apesar de não ter frequentado os bancos escolares, detinha uma cultura invejável e um grande apreço pelo conhecimento popular, servindo de esteio para os filhos e netos que aqui se estabeleceram como comerciantes, costureiras, donas de casas, serralheiros, autônomos, professoras, administradores de empresa e advogados.

No ano de 1982, “Seu João Félix”, do alto dos seus 82 anos, foi acometido de um acidente vascular cerebral, ficando assim impossibilitado de exercer suas atividades, enfermidade esta que o acompanhou até o seu falecimento em 18 de abril de 1985.

Deste doloroso transe, ficou a sua saudade e heranças inapagáveis: a honra, a sinceridade, a disposição para o trabalho, a educação. Foram estes os atributos deixados por este homem, que se revelou simples, pobre, mas que sempre alegrou a todos e se notabilizou pelo que sempre representou e foi.

São testemunhas, todos aqueles que a seu lado conviveram e que hoje colhem os frutos de seu exemplo de vida.

Senhores vereadores, às páginas do povo desta terra tem demonstrado que a representação popular é o mais autêntico veículo de encaminhamento das vontades da nossa gente. Assim, apresento este projeto de lei a Vossas Excelências, não só como homenagem a um homem simples, mas, principalmente como reconhecimento pelo que foi o Sr. João Félix de França. Assim, meus senhores, julgamos do maior significado para o município de Pombal que uma de suas artérias públicas relembrem este filho, que para nós é nobre.

Meus Senhores, o projeto de lei está justificado.


Bel. Teófilo Júnior