A idolatria do povo brasileiro por Ayrton Senna sobrevive quase 16 anos após a morte do piloto na curva Tamburello, em San Marino, e ajuda a explicar, no dia em que ele faria 50 anos (neste domingo, 21), qual é a relação do Brasil com os seus ídolos, uma relação capaz de manter vivo um herói que há muito tempo ninguém acompanha, que praticamente nenhuma pessoa abaixo dos 20 anos conheceu e que mostrou ter defeitos que passaram batidos diante de suas qualidades na pista.
Esportivamente, o tricampeão, nascido no dia 21 de março de 1960, teve todos os seus expressivos recordes superados pelo alemão Michael Schumacher. Mesmo com Schumi muito à frente nos números e com mais do dobro de títulos, o brasileiro ainda consegue competir com ele nas pesquisas internacionais de popularidade e, nacionalmente, continua como um dos grandes heróis do esporte nacional.
Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer, professora de antropologia da USP (Universidade de São Paulo), aposta que o ídolo Senna segue vivo pelo fato de ele ter praticado um esporte que tem uma imagem diretamente ligada ao poder, algo muito valioso para os brasileiros.
- O tipo de esporte que ele praticava, apesar de ser menos acessível, é um esporte que, no imaginário das pessoas, remete a muito poder, a um círculo muito restrito de pessoas, gente muito poderosa. E, ironicamente, o Brasil tem dois esportes muito diferentes sendo idolatrados, o futebol e o automobilismo.
Segundo a antropóloga, no caso de Senna, os trabalhos filantrópicos ajudaram a extinguir o problema de a Fórmula 1 ser um meio recheado de pessoas milionárias.
- Toda aquela questão de ser de uma nata financeira era compensada pelos projetos do Instituto Ayrton Senna, pela filantropia. Esses elementos aparentemente dúbios se combinaram muito bem em um certo momento e contribuíram muito no caso dele. Além disso, ele morre em um dia 1o de maio, o dia do trabalhador. Mesmo ele estando em uma posição muito distante da imensa maioria dos trabalhadores, isso ajuda. O Senna já era muito famoso, mas sua consagração foi a morte.
O lado negro do campeão
Embora Senna seja aclamado como um exemplo para a sociedade, pessoas do meio da Fórmula 1 comumente lembram do piloto como alguém egoísta e individualista, imagens que não ficaram conhecidas para o grande público.
Muitos tinham dificuldade de lidar com Senna, que era extremamente perfeccionista e, portanto, tinha uma baixa tolerância com aqueles que falhavam, segundo relatos de pessoas próximas ao tricampeão. O "lado ídolo" do ex-piloto contribuiu para que esses fatores ficassem esquecidos nesses 16 anos.
- No automobilismo, o individualismo tem um valor que o brasileiro também cultua, embora mais veladamente. A imagem do brasileiro é a do acolhedor e do amistoso, mas, no íntimo, ele nem sempre é assim.
Assessor de Senna durante o final da década de 80, Wagner González é grande fonte de histórias sobre o piloto e confirma o temperamento difícil do tricampeão.
- Você teve pilotos marrentos como o Senna em outra fase. Mas o barato é que não há dois iguais. Você tem o Steve Jobs e o Bill Gates. São dois megagênios da informática. Cada um tem seus pontos fortes e fracos. Embora no pacote eles sejam igualmente importantes, não se comparam. Senna tomava alguns cuidados, mas era um cara muito seguro de si e que às vezes era difícil de se lidar. Era extremamente egocêntrico, como precisa ser um campeão. Você não "pega" um campeão mundial que seja bonzinho. O cara precisa ter certo egoísmo para chegar lá.
A idolatria a Senna pesa até hoje sobre os brasileiros na Fórmula 1. O tri de Ayrton, em 1991, foi o último título mundial conquistado por um piloto do Brasil. A exigência popular por um substituto foi muito prejudicial aos sucessores de Senna, e o que mais sofreu com isso foi Rubens Barrichello. Vice-campeão duas vezes, seus erros têm proporção bem maior do que os cometidos por competidores menores, que nunca venceram uma corrida na categoria.
González tem uma imagem clara de como Senna se tornou um ídolo tão forte.
- O futebol não estava em um grande momento. O Ayrton era um cara que se deu muito bem e muito carismático. Ele certamente explorou um lado deixado pelo [Nelson] Piquet, que não era alguém que cultivava sua imagem pública.
O último feito do nome Senna foi colocar na Fórmula 1 o sobrinho de Ayrton, Bruno. Estreante pela equipe HRT, ele sabe que será cobrado tanto quanto foi beneficiado pelo sobrenome escrito em sua carteira de identidade.
- O Ayrton era único na forma como ele enxergava a F-1 e como lidava com a vida dele... Eu fui muito bem recebido pelo paddock da F-1 em geral, na corrida do Bahrein. Mas agora preciso me firmar lá com performance e resultados.
G1
Esportivamente, o tricampeão, nascido no dia 21 de março de 1960, teve todos os seus expressivos recordes superados pelo alemão Michael Schumacher. Mesmo com Schumi muito à frente nos números e com mais do dobro de títulos, o brasileiro ainda consegue competir com ele nas pesquisas internacionais de popularidade e, nacionalmente, continua como um dos grandes heróis do esporte nacional.
Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer, professora de antropologia da USP (Universidade de São Paulo), aposta que o ídolo Senna segue vivo pelo fato de ele ter praticado um esporte que tem uma imagem diretamente ligada ao poder, algo muito valioso para os brasileiros.
- O tipo de esporte que ele praticava, apesar de ser menos acessível, é um esporte que, no imaginário das pessoas, remete a muito poder, a um círculo muito restrito de pessoas, gente muito poderosa. E, ironicamente, o Brasil tem dois esportes muito diferentes sendo idolatrados, o futebol e o automobilismo.
Segundo a antropóloga, no caso de Senna, os trabalhos filantrópicos ajudaram a extinguir o problema de a Fórmula 1 ser um meio recheado de pessoas milionárias.
- Toda aquela questão de ser de uma nata financeira era compensada pelos projetos do Instituto Ayrton Senna, pela filantropia. Esses elementos aparentemente dúbios se combinaram muito bem em um certo momento e contribuíram muito no caso dele. Além disso, ele morre em um dia 1o de maio, o dia do trabalhador. Mesmo ele estando em uma posição muito distante da imensa maioria dos trabalhadores, isso ajuda. O Senna já era muito famoso, mas sua consagração foi a morte.
O lado negro do campeão
Embora Senna seja aclamado como um exemplo para a sociedade, pessoas do meio da Fórmula 1 comumente lembram do piloto como alguém egoísta e individualista, imagens que não ficaram conhecidas para o grande público.
Muitos tinham dificuldade de lidar com Senna, que era extremamente perfeccionista e, portanto, tinha uma baixa tolerância com aqueles que falhavam, segundo relatos de pessoas próximas ao tricampeão. O "lado ídolo" do ex-piloto contribuiu para que esses fatores ficassem esquecidos nesses 16 anos.
- No automobilismo, o individualismo tem um valor que o brasileiro também cultua, embora mais veladamente. A imagem do brasileiro é a do acolhedor e do amistoso, mas, no íntimo, ele nem sempre é assim.
Assessor de Senna durante o final da década de 80, Wagner González é grande fonte de histórias sobre o piloto e confirma o temperamento difícil do tricampeão.
- Você teve pilotos marrentos como o Senna em outra fase. Mas o barato é que não há dois iguais. Você tem o Steve Jobs e o Bill Gates. São dois megagênios da informática. Cada um tem seus pontos fortes e fracos. Embora no pacote eles sejam igualmente importantes, não se comparam. Senna tomava alguns cuidados, mas era um cara muito seguro de si e que às vezes era difícil de se lidar. Era extremamente egocêntrico, como precisa ser um campeão. Você não "pega" um campeão mundial que seja bonzinho. O cara precisa ter certo egoísmo para chegar lá.
A idolatria a Senna pesa até hoje sobre os brasileiros na Fórmula 1. O tri de Ayrton, em 1991, foi o último título mundial conquistado por um piloto do Brasil. A exigência popular por um substituto foi muito prejudicial aos sucessores de Senna, e o que mais sofreu com isso foi Rubens Barrichello. Vice-campeão duas vezes, seus erros têm proporção bem maior do que os cometidos por competidores menores, que nunca venceram uma corrida na categoria.
González tem uma imagem clara de como Senna se tornou um ídolo tão forte.
- O futebol não estava em um grande momento. O Ayrton era um cara que se deu muito bem e muito carismático. Ele certamente explorou um lado deixado pelo [Nelson] Piquet, que não era alguém que cultivava sua imagem pública.
O último feito do nome Senna foi colocar na Fórmula 1 o sobrinho de Ayrton, Bruno. Estreante pela equipe HRT, ele sabe que será cobrado tanto quanto foi beneficiado pelo sobrenome escrito em sua carteira de identidade.
- O Ayrton era único na forma como ele enxergava a F-1 e como lidava com a vida dele... Eu fui muito bem recebido pelo paddock da F-1 em geral, na corrida do Bahrein. Mas agora preciso me firmar lá com performance e resultados.
G1
Um comentário:
Sena prá sempre !
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