(ilustração: Hannes Bok)
O planeta de
Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores
terrestres. Seu vocabulário exprime as
características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da
psicologia e da cultura. Confiram os
verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário
Interplanetário de Bolso.
“Slikh-slikh”: Pequena serpente multicolorida, inofensiva,
que se esconde nas frestas das paredes e é muito procurada pelas crianças para
servir-lhes de pulseira, colar, etc.
“Noribsin”: Frutas artificiais de massa caseira,
preparadas para os dias festivos, combinando o sabor de uma fruta natural e o
formato de outra: um “abacaxi” com sabor de morango, uma penca de “bananas” com
sabor de goiaba, etc.
“Kolupa”: A situação de impasse, numa negociação, quando
cada um dos oponentes possui um elemento indispensável para a solução do
problema mas se recusa a compartilhá-lo com os demais.
“Essondiran”: Fórmulas rimadas e ritmadas que são
recitadas em uníssono por amigos quando se reencontram depois de muito tempo,
para mostrar que a amizade continua a mesma.
“Giunk”: Dieta mágica que consiste em comer, durante uma
semana inteira, apenas alimentos cujos nomes tenham a letra inicial do nome da
pessoa: bife, bacon, brócolis, berinjela, bruschetta, banana...
“Harnaplon-Kok”: Casas pertencentes a uma mesma família,
dando as frentes para ruas diferentes, mas situadas fundos-com-fundos e
partilhando um quintal e às vezes uma cozinha em comum.
“Valagium”: jogo que usa complicados esquemas numéricos e
alfabéticos para sortear voluntários,
que se comprometem por contrato a cumprir ou aceitar o que lhes couber.
“Litarns”: Tigelas colocadas no centro da mesa, durante
as refeições, e onde todos vão depositando cascas de frutas, ossos, etc. à
medida que comem.
“Nhossub”: Espécie de vinho barato que traz um prêmio diferente
escondido em cada garrafa, a ser quebrada pelos colecionadores desses pequenos
brindes. Alguns colecionam as garrafas intactas com o prêmio dentro, visível ou
não.
“Ankh-nog-tian”: Pequenos episódios de infância de
alguém, eternamente recontados pela família, que vê neles um sinal premonitório
qualquer.
“Umpends”: O hábito de alguém distribuir por vários
bolsos da roupa o dinheiro que carrega, para diminuir o prejuízo caso seja
roubado.
“Khavid’: Pacto de fidelidade entre um homem e uma
mulher, casados com outras pessoas, que se prometem um ao outro quando um dia
ambos estiverem livres dos seus votos.
“Lo-Habug”: Qualquer situação, em casa, na vida social,
na política, em que alguém é forçado a elogiar alguma coisa de que não gostou, devido
a um motivo de força maior.
“Maham-puya”: o limite final de pequenas irregularidades
que se pode cometer impunemente sem fazer soar os alarmes da lei.
“Thecoor”: pequenas áreas, em cada aposento, reservada
aos animais domésticos, que são treinados para usarem apenas aqueles trechos.
Cães têm acesso apenas à mesa do jantar. Gatos às cadeiras e sofás.
“Sarinium”: misto de festividade e torneio de contadores
de histórias em que era preciso fazer rir a platéia inteira ao mesmo tempo, num
prazo combinado.
“Gamp-Gum”: o andar agressivo, mesmo que discreto, de
quem sai à rua para praticar um assalto.
Bráulio Tavares
Mundo Fatasmo
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