Não apenas Joseph Goebbels é a inspiração da estratégia usada pela máquina de propaganda do lulopetismo.
A lógica industriada pelo ideólogo alemão foi levada à perfeição por
João Santana e Franklin Martins, cada qual ao seu modo e em situações
distintas, na elaboração da narrativa do grupo político: a mentira despudorada como método discursivo.
É Trotsky, porém, que tem o seu pensamento absorvido e usado mecanicamente pelo lulopetismo, no mais da vez sem o saber: haveria uma dupla moral presente na arena pública: a “nossa” e a “deles”. O que é tido na prática do adversário político como conduta vergonhosa ou ilícita, nos companheiros é legítima e justificável.
O mesmo fato é tomado como moralmente bom ou mau em razão não dos
critérios objetivamente postos, mas unicamente por uma questão de quem o
pratica. Não importa o “quê” ou o “como”; simplesmente o “quem”.
Em seu texto de 1938, A Nossa Moral e a Deles, por todos os títulos famoso, Trotsky concede à moral revolucionária uma superioridade sobre a burguesa e, em nome da Revolução, a mentira, o engodo, o assassinato e que tais passam a ser justificáveis e, mais ainda, meios necessários à vitória da esquerda: “Mas
a mentira e a violência em si mesma não são condenáveis? Certamente,
tanto quanto a sociedade dividida em classes que as gera. Uma sociedade
sem contradições sociais será, naturalmente, uma sociedade sem mentiras e
sem violência. Não existe, porém, outro meio de construir uma ponte até
essa sociedade a não ser por meios revolucionários, ou seja, violentos.
A própria revolução é um produto da sociedade de classes, da qual
carrega, necessariamente, os traços. Do ponto de vista das ‘verdades
eternas’, a revolução é, obviamente, ‘contrária à moral’. Mas isso
significa apenas que a moral idealista é contra-revolucionária, isto é,
está a serviço dos exploradores.”
Para o lulopetismo não importa se teria havido desvio de dinheiro público, mas quem o teria praticado: sendo
os companheiros, para a causa e para o seu próprio fausto, haveria
legitimidade. Sendo os adversários, não haveria prática mais hedionda e
censurável. Nada mais trotskysta. Diz o ideólogo marxista: “Um
meio somente pode ser justificado por seu fim. Mas o fim, por sua vez,
precisa ser justificado. Do ponto de vista marxista, que expressa os
interesses históricos do proletariado, o fim se justifica quando suscita
o aumento do poder do ser humano sobre a natureza e a supressão do
poder de uma pessoa sobre outra.” E segue, ainda, mais explicitamente: “‘Devemos entender, então, que para alcançar esse fim tudo é permitido?’,
pergunta sarcasticamente o filisteu, demonstrando que não entendeu
nada. É permitido, respondemos, aquilo que leva realmente à emancipação
da humanidade”. Por emancipação da humanidade compreenda-se: o sucesso da revolução e a implantação da ditadura do proletariado.
Um exemplo eloquente foi o tratamento dado à capa da revista IstoÉ,
com a presidente Dilma Rousseff tachada de descompensada e depressiva,
que causou reações duras porque seria misoginia e ataque à figura da
mulher. Quando, porém, a advogada Janaína Paschoal participou de
um evento público com uma performance expositiva meio afetada, foi
chamada de louca e desequilibrada pelos mesmos que criticaram a capa da
IstoÉ. É a dupla moral trotskysta assumida pelo lulopetismo sem pejo.
Nesses dias, para o observador atento, a postura de muitos que falam
nas redes sociais varia conforme variam os interesses, mesmo diante dos
mesmos fatos. E isso se disseminou de um modo tão crônico em
nossa sociedade, que o legado que esse governo deixará para as gerações
futuras será justamente a degradação do espaço público, a mentira como
virtude, a destruição do inimigo como método, o poder como única
finalidade legítima e alcançável a todo e qualquer custo.
A dupla moral é uma arma arma justificadora do vale-tudo. E nunca um pensador tão nocivo esteve tão presente em nossa vida pública: Trotsky está sentado à beira do caminho, olhando a paisagem e se rindo da nossa história. Mesmo perdendo, ele venceu.
Adriano Soares da Costa
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