Ódio da introspecção ativa. Explicações da nossa alma, tais como:
ontem eu estava assim e assado, por esta ou por aquela razão; hoje estou
assim e assado, por qualquer outra razão. Não é verdade, nem por esta
razão nem por aquela razão, e por isso também nem assim nem assado.
Enfrentar-se a si próprio calmamente, sem precipitações, viver como
se tem de viver, não andar à caça do próprio rabo como o cão.
Adormeci nos arbustos. Um barulho acordou-me. Encontrei um livro nas
minhas mãos, que tinha estado a ler. Deitei-o fora e levantei-me de um
salto. Passava pouco do meio-dia; em frente da colina em que eu estava
estendia-se uma grande planura com aldeias e lagos e sebes todas iguais,
altas, que pareciam feitas de junco. Pus as mãos nas ancas, examinei
tudo com o olhar, e ao mesmo tempo escutei o barulho.
Franz Kafka, in ‘Diário (09 Dez 1913)’
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