Um insulto às bananas. Por alguma razão, “banana” se transformou em sinônimo de burrice, de ingenuidade irreversível
Odebate político no Brasil entrou no fértil terreno dos
hortifrutigranjeiros. Na discussão sobre a formação da comissão que
decidirá sobre o impedimento ou não da Dilma, deputados se xingaram de
“banana”. E o ar da nossa augusta Assembleia Nacional, onde outrora
ecoaram as vozes de grandes oradores em embates históricos, foi
entrecortado por epítetos ferozes.
— Banana!
— Banana é vossa excelência!
— É vossa excelência!
Um insulto às bananas. Por alguma razão, “banana” se transformou em
sinônimo de burrice, de ingenuidade irreversível. Poderia muito bem ser
substituída por outro termo, como “babaca” ou “boca aberta”. Ou por
outra fruta ou legume, notoriamente sem conteúdo.
— Chuchu!
— Quiabo!
— Quiabo não!
A banana teve um papel importante na evolução humana, e não apenas pela
sua quantidade de potássio. Dizem que descascar uma banana e descobrir
seu insuspeitado interior palatável foi uma das primeiras conquistas do
homem primitivo. Descascar uma banana e comê-la pode muito bem ter sido
um começo, tão importante quanto a invenção da roda, do processo de
civilização. Não seria exagero dizer — baseado no que se tem visto no
país, nos últimos dias — que a banana tem mais valor histórico e
utilidade do que boa parte dos políticos brasileiros.
O debate político no Brasil atual também incorporou um gesto muito
comum em filmes americanos de uma certa época: atirar bebida na cara do
adversário. O que há tempo não se via no cinema aconteceu há dias em
Brasília, se é que não se trata de mais uma notícia sub-reptícia
espalhada pelo japonês bonzinho.
A Kátia Abreu atirou vinho na cara do José Serra. Não tenho detalhes do
ocorrido (marca do vinho, safra etc). Mas não me surpreendi. Ouvi dizer
que na linha de sucessão ao Planalto, se a Dilma e o Temer caírem
juntos, o Cunha for preso e alguma coisa acontecer com o Renan, há até o
perigo de assumir a Presidência o Tiririca! Nada mais me surpreende.
Luis Fernando Veríssimo
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