Infelizmente, as ideias simples ganham força em todo o mundo. E o pior é que os próprios meios de combatê-las ficam cada vez mais infectados por elas
As ideias simples são sedutoras. São soluções ou explicações fáceis
para questões complexas, e seu principal atrativo é que nos eximem de
pensar. Agora mesmo o candidato a candidato do Partido Republicano nas
próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos Donald Trump teve uma
ideia exemplar na sua simplicidade.
Admira que ninguém a tenha tido antes. Como nunca se sabe se o
muçulmano que chega aos Estados Unidos vai se comportar ou vai sair
matando americanos, Trump propõe — simplesmente — que se proíba a
entrada de muçulmanos no país. À Estátua da Liberdade — que, na entrada
do Porto de Nova York, simboliza a acolhida indiscriminada que os
Estados Unidos sempre deram a imigrantes e visitantes — só restaria
guardar sua tocha e ir para casa.
Dizem que, com a eleição de Trump, pela primeira vez o país, que já
teve na Presidência todo tipo de gente, de líderes legítimos a escroques
confessos, terá eleito uma piada. Mas a piada perde a graça quando se
sabe que Trump lidera a tropa de candidatos republicanos em todas as
pesquisas de intenção de votos.
Ideia simples, também, é que basta extrair a Dilma, como um foco
infeccioso, do governo e tudo melhorará. Como não há razão jurídica para
depor a Dilma — opinião não minha, um perigoso bolchevique, mas de
vários juristas respeitados —, o impedimento da presidente passa a ser
apenas uma obsessão, ou uma ideia simples fixa.
A baixa popularidade da Dilma e o índice de aprovação do seu governo lá
em baixo seriam razões não jurídicas para derrubá-la. Mas isto seria um
mau precedente. O Brasil, com sua mania de criar moda (só no Brasil
alguém poderia dizer que fundos na Suíça e contas na Suíça são duas
coisas completamente diferentes e continuar presidindo a Câmara),
estaria inventando o governo por pesquisa de opinião.
Cotação muito baixa nas pesquisas — rua! Um péssimo precedente. Não
esqueçamos que, pelo critério da popularidade, o Fernando Henrique não
teria sobrevivido até o fim do seu mandato.
Ideias simples também comandam o terrorismo mundial: o que pode ser
mais basicamente irracional, mais antidiplomático e intolerante — enfim,
menos complicado — do que explodir tudo à sua volta, e a você mesmo,
por uma causa ou um deus?
Infelizmente, as ideias simples ganham força em todo o mundo. E o pior é
que os próprios meios de combatê-las ficam cada vez mais infectados por
elas. Nos Estados Unidos, estão dizendo que Trump só teve a coragem de
falar o que muita gente pensa mas não fala.
Luis Fernando Veríssimo
Do Blog do Noblat
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