Para o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, “as universidades só ensinam o conhecimento dos vencedores, e não dos vencidos”
Ao tentar definir
Ecologia de Saberes, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos,
um dos mais prestigiados do mundo, afirmou ser um apelo por mais justiça
aos conhecimentos. Ele referia-se ao conhecimento que vem das
populações rurais, urbanas, ribeirinhas. Ao conhecimento nascido da
luta, dos oprimidos, dos discriminados. “As universidades só ensinam o
conhecimento dos vencedores, e não dos vencidos. (…) O conhecimento
universitário, científico, é importante, mas não basta”, afirmou.
Na noite de ontem, Boaventura ministrou palestra durante o Encontro
Internacional Ecologia de Saberes: Construindo o Dossiê Sobre os
Impactos dos Agrotóxicos na América Latina. A aula de abertura do evento
ocorreu na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Na ocasião, ele defendeu que há uma injustiça cognitiva
extraordinária, uma ciência que coloca uma grande parcela da população
na condição de bárbaro. “A ciência fez com que muita gente no mundo viva
exilada, quando ela tem outro conhecimento, outro saber”, argumentou.
Responsabilidade
Para o sociólogo, aqueles que têm o conhecimento científico têm a
grande responsabilidade de trazer outros conhecimentos para a
universidade e respeitá-los. Por isso, ele propõe, por exemplo, o
diálogo entre agricultores e engenheiros agrônomos. “Precisamos conhecer
as lutas uns dos outros. Temos que fazer tradução intercultural”,
disse, sobre o caminho para se fazer justiça. Em vez do conceito de
desenvolvimento – “face do capitalismo neoliberal no mundo” -, para
promover o diálogo, ele propôs os de dignidade, economia familiar,
reforma agrária, economia social e solidária, soberania alimentar,
reserva de território. “Os termos são esses, que podem ser alternativos
ao desenvolvimento”, disse.
Segundo ele, a democracia representativa foi derrotada pelos
capitalistas e esse seria o motivo para tantos protestos pelo mundo,
inclusive no Brasil. “São revoltas de indignação contra algo que não é
claro. Não se sabe o que quer, mas sabe-se o que não quer”, disse. Por
isso, ele afirma que Ecologia do Saber é uma tentativa de se criar uma
outra conversa para a sociedade. “Se não fizermos isso, a alternativa é o
fim do planeta”.
Lucinthya Gomes
Publicado em 23/10/2013 em O Povo
Fonte aqui
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