Há pessoas para as quais sexo e
dinheiro são os principais motivos do comportamento humano. Para outras,
é apenas o sexo, sendo a sexualidade somente um verniz a cobrir o sexo.
Quer dizer, o ser masculino ou feminino se resume basicamente na
tendência sexual biológica, cuja força motriz Freud chamou de libido
(desejo, em latim).
Essa é uma visão simplista da motivação humana.
Considerar todas as tendências inatas e os motivos adquiridos como
derivados da necessidade de prazer e perpetuação da espécie, é rebaixar
demais a condição humana e fazer vista grossa a uma ampla variedade de
estilos de vida de pessoas de etnias, nacionalidades, classes sociais e
níveis culturais diferentes.
Tão forte quanto a tendência de reprodução e busca
de prazer pelo ato sexual, estão as necessidades de segurança, amor,
correspondência, novas experiências, status, posse, poder, cooperação,
competição etc.. Mas uma criança, frustrada na satisfação de suas
necessidades de segurança, amor e participação social, e que passa a
viver isolada e sem poder realizar a humanidade que potencialmente
possui, tende a substituir o viver pelas fantasias compensatórias. Essas
fantasias dizem respeito ao amor, à posse, ao poder, à aventura etc.. E
como seus pais são os que têm o poder e estão mais próximos, as
crianças elaboram fantasias e sonhos tendo-os como figuras que devem ser
amadas ou odiadas, imitadas ou repudiadas. Não seria apenas a busca
inconsciente de prazer físico que levaria o organismo a procurar o seu
equilíbrio energético pela identificação ou rejeição dos pais. Vários
motivos estariam existindo de forma conflitante na criança e
determinando o apego ou o afastamento dos pais, bem como um modo
particular de vida. Assim, o complexo de Édipo – o menino volta-se para a
mãe, e a menina, para o pai –, que Freud colocou como a pedra angular
do edifício Psicanálise, não passaria de uma explicação de casos
excepcionais, de dramas vividos por alguns portadores de reações
neuróticas. Estacionados na infância, tais indivíduos estariam
reclamando por amor, participação social, poder, respeito à sua
individualidade etc.. Pense na condição da mulher dos grandes centros
urbanos no século passado e você poderá deduzir porque elas, mais que os
homens, estavam sujeitas aos então denominados ataques histéricos
(chamar a atenção, exigir cuidados excessivos, reivindicar o amor do
pai, hostilizar a mãe etc.). Do mesmo modo, pense no estilo de vida dos
homens, e concluirá que muitos tidos como “normais” apresentavam reações
psicóticas.
Quando Alfred Adler disse que o complexo de Édipo
não passava de comportamento mal ajustado de crianças mimadas, Freud
ficou revoltado, porque esse complexo, como foi por ele entendido, é o
alicerce da Psicanálise. Se alguém negá-lo, estará negando as teorias da
personalidade e do desenvolvimento assentadas nele. A partir de então,
Freud procurou ridicularizar a teoria da motivação de Adler, que tem o
complexo de inferioridade como sua base. Veja a Autobiografia de Freud (1925).
Enquanto Freud reinou como o grande “pai” (ele
faleceu em 1939), poucos ousaram, como Adler e Jung, contestá-lo,
dizendo em público que sua visão da natureza humana era estreita. Essa
visão escandalizou a sociedade da época, porque o homem comum não se
questionava sobre que havia no porão (inconsciente) de sua
personalidade, e muito menos se indagava sobre as causas dos desvios
sexuais sádicos ou masoquistas.
É evidente que muitos criticaram Freud, sobretudo
os frustrados moralistas, mas ele dava de ombros. Ao gênio são
importantes somente as críticas vindas de outros gênios, no caso, da
parte de Adler e C. G. Jung. Daí o porquê da agressividade do mestre de
Viena em relação a Jung e o seu desprezo por Adler (Autobiografia, cap. V e História do movimento psicanalítico, cap. III).
Infelizmente, a Psicanálise, nascida do esforço de
Freud para conhecer o inconsciente do homem, aos poucos foi sendo
utilizada como a ideologia do capitalismo internacional. Se você
convence um indivíduo de que, na maioria das vezes, ele age
inconscientemente e que a busca do prazer sexual é a sua motivação
básica, ele não se questionará muito sobre trabalho, amor, família,
poder econômico, política, educação, justiça, saúde etc.. Será um ser
mais alienado que um medieval, paradoxo esse que irrita qualquer pessoa
culta, porque, se a Psicanálise surgiu como defensora da liberdade
individual pelo conhecimento, passou a ser usada como instrumento do
processo alienatório.
Ao psicólogo consciente cabe o dever de pôr Freud
no seu devido lugar, mostrando sua contribuição para o estudo da
personalidade e seus enganos, como a teoria segundo a qual o sexo
determina o poder (veja Totem e tabu). Na verdade, o sexo é um
instrumento de poder. Poder que, como disse Jung, quando exacerbado no
indivíduo chama-se egoísmo, e nas nações, imperialismo.
por Lannoy Dorin
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