Algumas
coisas estão acabando com as nossas antigas, como direi, diversões. Um
amigo meu, desses que conheço desde a infância, tem a mania de
frequentar velórios. Assim como alguns gostam de ir aos estádios
assistir jogos de futebol ou tomar uma cervejinha, ele adora participar
da última homenagem aos mortos.
Pouco
importa se o falecido era parente ou conhecido. O que vale é estar ali,
participar de tudo; até ver as coroas de flores chegando. Diz ele que
uma maneira muito fácil de saber se o morto era importante é contar
quantas coroas de flores recebeu. Valem como critério de desempate os
nomes estampados nos laços que arrodeiam aquelas flores. Quem recebe
coroa de flores de político importante já sai na frente.
E
foi ele quem me disse a novidade. As funerárias estão criando um
sistema de transmissão ao vivo, via internet, dos velórios e enterros,
para que parentes e amigos distantes não precisem viajar a fim de
assistir às exéquias.
“-
É um absurdo. Imagina, Marcos, que o melhor dos velórios é conversar
sobre o defunto, seus casos extraconjugais, a situação financeira da
família e principalmente reencontrar os amigos, porque somente nos
enterros temos essa oportunidade. Mas o pior é que se esses avanços
tecnológicos continuarem, vai chegar o dia em que não haverá mais
necessidade das pessoas segurarem nas alças do caixão, uma máquina vai
fazer tudo sozinha”. Foi aí que eu entendi a angustia do velho e querido
amigo.
Ele
tem uma espécie de tara. Além de adorar velórios e enterros, sua paixão
é segurar em uma das alças do caixão. Por conta desse vício, ele foi
protagonista de uma cena que ficou famosa nos anos 90 aqui na Paraíba.
Talvez
os leitores menos jovens lembrem do fato. No enterro de uma autoridade
local, justo na hora de deslocar o corpo, ele aboletou-se junto à
primeira das três alças laterais do caixão, que ele considera o máximo
da distinção, porque vai na frente. Ocorre que o de cujus
tinha 4 filhos que assumiram as 4 primeiras alças, sobrando ao meu
amigo brigar pelas duas últimas, mas foi empurrado por próceres locais
com os quais não podia competir. Frustrado, viu o cortejo indo embora.
Com lágrimas de raiva nos olhos, lá de longe gritou bem alto: “- Ei,
magote de FDP, podem socar esse defunto no...”.
Por conta disso ficou proibido muito tempo de frequentar os velórios da cidade.
Marcos Pires
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