O espectador é recebido com duas inscrições em baixo-relevo feitas na areia: “Feliz Rio 2015” e “Eu amo Ipanema”
Edson Leite Faria, de 33 anos, cujo “ateliê” a céu aberto funciona no Posto 10 da Praia de Ipanema, nunca ouviu falar de Michelangelo, Rodin ou Brancusi, nem mesmo sabe que existe em Washington um concorrido campeonato mundial de esculturas em areia com a participação de verdadeiras obras de arte realistas e até hiperrealistas — castelos, personagens históricos ou anônimos em tamanho natural, prédios, enormes monumentos — que em comum têm a natureza perecível do material com que são construídas.
Os que reclamam da “obscenidade” dos nossos artistas de praia, com suas mulheres seminuas, precisavam ver alguns exemplares eróticos dos que concorrem naquele certame. O artista que acabo de descobrir aqui perto de casa é, digamos, um naïf, um primitivo. Seu trabalho é uma singela homenagem à cidade e ao bairro.
O espectador é recebido com duas inscrições em baixo-relevo feitas na areia: “Feliz Rio 2015” e “Eu amo Ipanema”. No alto da elevação, à esquerda, há o que ele diz ser uma pirâmide do Egito e à direita, um castelo. Ligando os morros já prontos, falta o bondinho para a cena ser identificada como o Pão de Açúcar.
Ele fez tudo isso “de cabeça”, apenas com a lembrança de imagens que viu em revistas ou na televisão. E me mostrou a espátula, uma improvisada régua de papelão, com que construiu tudo aquilo. Só estudou até a sétima série e nunca teve aula de desenho ou escultura. Aprendeu vendo um amigo fazendo. “Deus me deu o dom”.
Morador de Caxias, Edson costuma dormir sobre jornais, ao lado de sua obra, para protegê-la. “Tem gente que gosta de vir de noite desmanchar o que a gente fez”, informa, mais resignado do que indignado. Eu achava que o principal problema dele era o vento forte e a chuva.
Não podia imaginar que houvesse vândalos até para esse prazer sádico e muito menos que aquele cidadão sem bens e sem renda, que depende, como confessou, dos “trocados” que os turistas (principalmente eles) dão, estivesse também com medo da violência gratuita, já que não tem nada a oferecer à cobiça alheia, a não ser frágeis construções de areia e água.
E Edson, o escultor, continua resistindo com sua obra efêmera, sem sossego e sem poder sonhar sequer com a posteridade.
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Mais uma de Alice, minha neta de cinco anos e oito meses, que pede à avó para não contar que ela chupou bala antes do almoço. Eis o diálogo, sem tirar nem pôr:
— Não vou mentir pra sua mãe.
— Não contar não é mentir.
Depois dessa, a avó, claro, não contou.
Zuenir Ventura
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