Já
escrevi sobre amantes de poderosos e, naquele texto, incluí gente da
nossa época, a exemplo de Getúlio Vargas, Ademar de Barros, Juscelino
Kubitschek e certo general que dizia gostar mais de cheiro de cavalo,
mas consumia muitas milhas em busca de um cangote feminino. De passagem,
lembrei Pedro I, que dividiu seu reinado com a principal amante,
Domitília de Castro, a Marquesa de Santos. Acho que deixei
em paz Pedro II, seu filho, um tremendo “come quieto”, que não ficava
longe do pai em matéria de ocupar as camarinhas do Palácio.
A
diferença entre pai e filho residia na seleção das eventuais
companheiras de alcova. Pedro I era mais promíscuo. Apesar da Marquesa
de Santos, com quem teve cinco filhos, ainda engravidou outra filha
do brigadeiro Canto e Melo, de nome Maria Benedita, casada com o Barão
de Sorocaba. Antes da marquesa, uma atriz francesa inaugurou seu caderno
de traição à Imperatriz Leopoldina. Os costumes da época, pelo menos no
ambiente das cortes, justificavam que o leito conjugal servia apenas
para perpetuar a linhagem. As paixões e os prazeres era
coisa para se conseguir no aconchego das amantes. Uma comerciante
francesa, de nome Clemence Saisset, também lhe deu um filho bastardo. A
atriz uruguaia Maria Del Carmem Garcia não lhe deu filho, deixando essa
missão para a monja portuguesa Ana Augusta. No caderno do nosso primeiro
Imperador ainda entraram uma escrava do Convento da Ajuda, a esposa de
um general e uma atriz portuguesa, o que demonstra que ao voltar para
Portugal, Pedro ainda carregava o fogo dos trópicos. Para encerrar,
obteve favores sexuais da esposa de seu homem de confiança e, até, da
filha do bibliotecário de dona Leopoldina.
Dom
Pedro II era um galegão de um metro e noventa, pernas e voz finas,
olhos azuis, mas tristes. Há quem diga, pelo abandono do pai e morte
prematura da mãe. Conhecera a futura esposa por uma pintura da cintura
para cima, obra de artista europeu. Pela pintura não dava pra saber que
Tereza Cristina era baixa, feia e puxava por uma perna.
Foi uma desilusão que o levou às lágrimas. Mesmo assim tiveram três
filhos: o homem morreu ainda pequeno e as filhas Isabel e
Leopoldina se transformaram na única esperança de Dom Pedro para um
terceiro reinado. Isabel desempenharia papel importante e, ao assinar a
Lei Áurea, assinou também a queda da monarquia. Mas quero falar das
mulheres de Pedro II, a “ metade” que teria passado a vida procurando e,
parece ter encontrado, na pessoa da preceptora de suas filhas, a
Condessa de Barral. Ainda passaram pela biblioteca de Dom Pedro,
transformada em alcova eventual, a Condessa de Villeneuve e Eponine
Otaviano, esposa de um seu amigo de infância, a Condessa de La Tour e
outras menos votadas. O Imperador era pouco generoso com suas amantes e,
não foram poucos os maridos da Corte que, orgulhosos, chegaram à
falência para permitir que suas consortes continuassem a freqüentar a
“biblioteca” do Palácio São Cristovão.
A
busca de Dom Pedro II por sua alma gêmea começou com Maria Lopes de
Paiva, filha do barão de Maranguape, sua primeira paixão. Um filho
bastardo de Pedro I, portanto seu meio irmão, era casado com Carolina
Bergaro e foi à porta dessa dama que a ronda policial surpreendeu o
Imperador e alguns amigos, animados pela bebida. Identificado o
Imperador, o policial debulhou-se em desculpas e acordou seu chefe pela
madrugada para contar o ocorrido na certeza de que estava encerrando sua
carreira. O historiador americano Roderick Berman acredita que esse
relacionamento de Dom Pedro II com a cunhada durou cerca de dez anos, na
maior discrição. Pedro II recebera esmerada educação para, justamente,
não ser comparado ao pai, devasso e inconseqüente ao ponto de conceder
titulo de nobreza a quase todos os filhos bastardos. A todos não podia
dar, pois foram contados mais de sessenta bastardinhos entre o Brasil e
Portugal. Hoje, com os escândalos revelados na nossa Corte Republicana, haveremos de ter saudade dos escândalos do Império.
Ramalho Leite
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