Vivemos no clima das delações da Odebrecht, uma
tsunami moral que ameaça varrer metade do gabinete do Temer, se não
levar o próprio Temer
A Mãe Joana original, nos diz o Google, viveu entre 1326 e 1382. Era
rainha de Nápoles e condessa da Provence, para onde foi exilada pela
Igreja por levar uma vida desregrada e se meter em conspirações. Ela
regulamentou as casas de prostituição da Provence e se hospedava nelas
para se refugiar. Em Portugal, “paço da mãe Joana” virou sinônimo de
bordel.
No Brasil, onde “paço” era expressão pouco usada, a casa da Mãe Joana
voltou a ser casa, e eternizou-se na linguagem como um lugar em que tudo
é permitido, ninguém se entende, e a bagunça é geral. Sabe-se pouco
sobre o que acontecia na casa da Mãe Joana original. Imagina-se que
todos andassem dentro da casa arrastandose contra as paredes para evitar
ataques pelas costas, lascivos ou mortais.
Qualquer um podia entrar na casa, desde que assinasse um compromisso de
nunca chamar a polícia ou se queixar para as autoridades, não importava
o que lhe acontecesse lá dentro, e deixar toda a roupa na entrada. A
própria Joana devia comandar os espetáculos que divertiam os visitantes
todas as noites:
— Que entrem os anões besuntados!
Ou:
— Soltem o urso tarado!
Guardas ficariam na porta da casa não para evitar que bêbados ou
arruaceiros entrassem, mas para atirá-los para dentro. Etc., etc.
O Brasil está uma casa da Mãe Joana, só que menos divertida. Vivemos no
clima das delações da Odebrecht, uma tsunami moral que ameaça varrer
metade do gabinete do Temer, se não levar o próprio Temer.
Um ministro do Supremo pede o afastamento do presidente do Senado, o
Senado se nega a entregar a cabeça do seu presidente, e uma maioria do
mesmo Supremo diz que tudo bem — para evitar uma crise institucional que
já está aí há anos.
Pode-se imaginar o que a Joana diria de tudo isso:
— Pouca-vergonha!
Luís Fernando Veríssimo
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